Há um médico que, nos últimos meses, zurze com termos pouco meigos em todas as posições e opiniões não-apocalípticas sobre a covid. É "dono" de uma página chamada Scimed - Ciência Baseada na Evidência, e ainda há dias deu forte e feio na Joana Amaral Dias por ter dito na televisão que, no passado, houve um dia em que morreram 500 pessoas de gripe.
Teve toda a razão o Senhor Doutor Scimed, chamemos-lhe assim, em dar cacetada na psicóloga: efectivamente, nunca houve um dia com tantas mortes por gripe; houve sim alguns dias (p. ex., 2017), em pleno surto gripal, que ultrapassaram os 500 óbitos no total de todas as causas (a média em Setembro, o mês menos mortífero é de 270 óbitos totais por dia). E já houve também anos (Outubro-Maio) com cerca de 8.500 óbitos atribuídos a um surto gripal.
Eu gosto muito de pessoas rigorosas e não suporto alguns erros. E outras coisas que também não suporto é ver ferreiros com espeto de pau; ou trolhas com telhados de vidro.
Ora, deu-se o feliz caso de ter esbarrado entretanto com uma extraordinária entrevista, a todos os títulos, do dito médico (acompanhado pelo impagável doutor Gustavo 'vão tudo morrer' Carona), feita em 1 de Dezembro. Regressarei a ela, talvez, porque é um manancial.
A páginas tantas, o Doutor Scimed responde a uma pergunta (ao minuto 10:10, vd. aqui) sobre o excesso de mortalidade então anunciada pelo Instituto Nacional de Estatística em finais de Outubro, da seguinte forma (sic, mas podem e devem confirmar no link).
"É assim. Segundo as contas do INEM (sic), o (sic) covid ficou com mais de 80% das mortes em excesso. OK, isto são contas do INEM (sic). Eu não olhei para as contas ainda. Percebo que as contas, olhando de uma forma simplista, aponta para esses valores que estão aqui a ser falados, mas de facto o INEM (sic) fez o estudo que diz que 80% são atribuídos ao (sic) covid".
Eu já desculpo que o senhor Doutor Scimed se refira à doença causada pelo SARS-CoV-2 colocando-lhe substantivo masculino. Ele não é obrigado a perceber de gramática.
Já torço um bocadinho o nariz - mentira: acho divertidíssimo, digno de risota - quando o Doutor Scimed se refere por três-3-três vezes ao INEM (acrónimo de Instituto Nacional de Emergência Médica) como entidade responsável pelo estudo, quando os estudos demográficos são, em geral, e neste em concreto, feitos pelo INE (acrónimo de Instituto Nacional de Estatística). Portanto, estou muito interessado em saber se, mês e meio depois, o Doutor Scimed já olhou as tais "contas do INEM".
Por fim, e isto é objectivamente pior, o Doutor Scimed, assumindo-se que nem passou os olhos pela análise do INE (porque nem o acrónimo conhece), não mostrou o rigor que exige ao outros, e disse mais do que um disparate. Com efeito, a análise do INE referia - e bastava ler o primeiro parágrafo (vd. aqui) - que até 18 de Outubro a covid apenas explicava 27,5% do excesso de óbitos. No final do ano acabaria por rondar os 50%. Em todo o caso, muitíssimo longe dos "mais de 80%" atirados vergonhosamente ao ar pelo Doutor Scimerda.
Fui mesmo ver a questão do estudo do INEM. Foi difícil parar de rir.
ResponderEliminarDepois, recordei que este senhor é um dos "especialistas" que o Polígrafo entrevista para classificar como verdadeiras ou falsas algumas questões relacionadas com a pandemia. E isso retira qualquer graça aos disparates e falsidades que ele diz constantemente.
Só um pobre em espírito pode fazer tais coisas.
ResponderEliminarTambém poderá ser um pobre em $$$. Para mim, chega o currículo no tal site.
oliveira