Durante as últimas semanas, Governo e comunicação social tentaram, e conseguiram, criar a ideia da existência de uma relação directa e linear entre casos positivos, internamentos e mortes. Não é bem assim, pelo contrário, como ontem bem demonstrei.
Com efeito, caso não haja aldrabice na contabilização dos óbitos por covid (para atenuar o excesso de mortalidade não-covid), então Portugal assistiu a uma degradação acentuada dos níveis de eficácia no tratamento hospitalar desta doença nos últimos cinco meses.
Em Setembro e Outubro (Cenário OUT), a taxa de mortalidade diária dos internados rondou 1,5%. Ou seja, sobreviviam (para o dia seguinte) 98,5% das pessoas internadas.
Em Novembro e Dezembro (Cenário DEZ), esta taxa de mortalidade diária subiu para 2,5%, significando assim um agravamento da eficácia hospitalar.
Agora, em Janeiro (Cenário JAN), a taxa de mortalidade está já a rondar os 3,5%.
Parecendo uma subida pequena, as consequências de uma perda de eficácia hospitalar são dramáticas, mesmo quando estamos a falar de subidas aparentemente perquenas (2 pontos percentuais entre Outubro e Janeiro).
Para se ter uma ideia mais concreta em termos de óbitos, vou começar, sempre se que revelar possível e pertinente, a minha previsão de óbitos para o dia corrente (face ao número de internados do dia anterior e à taxa de mortalidade vigente), confrontando com o número de óbitos (para o mesmo número de internados) que se teriam se a eficácia de tratamento hospitalar estivesse nos níveis de Outubro e de Dezembro (Cenários OUT e DEZ, respectivamente).
Talvez isto recentre o debate: a fatalidade de uma doença, independentemente de ser covid, nunca depende apenas do doente, mas depende sim fortemente do investimento de um Estado nos cuidados de saúde destiados a curar o doente. Isto parecia evidente no passado; parece que o Governo e a Imprensa nos inculcaram a ideia que não; que a culpa é exclusivamente dos doentes que ficam doentes.
Assim sendo, amanhã, a DGS deverá divulgar que morreram ao longo do dia de hoje 160 pessoas com covid. Seriam menos 46 por covid se os hospitais estivessem com a eficácia de Dezembro; seriam menos 92 mortes por covid se estivessem com a eficácia de Setembro.
Quem não tiver podido ir às livrarias hoje, não tendo assim nada para se entreter, tem aqui um bom ponto de reflexão.
Nota: Não faço esta previsão para me armar em, Zandinga, nem com o objectivo de acertar no Euromilhões. Reparem apenas numa coisa;: se o valor efectivo das mortes for superior ao que indico, então a eficácia do tratamento hospitalar ainda piorou; se o número de óbitos for inferior, então melhorou ligeiramente.
Fonte: Boletins diários da DGS.
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