quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

DO DESCONTROLO DE QUEM NÃO QUE SER CONTROLADO

Por estranho que possa parecer, sabe-se todos os casos positivos de covid por concelho - e servem até para impor restrições legais -, mas ignora-se o número de mortes por covid por concelho e nem se por distrito.

Sobre os lares, segredo absoluto. Nem casos positivos (diário e acumulados), nem internamentos, nem mortes. De quando em vez há uma divulgação mas parcelar, incompleta e quase oficiosa. No Reino Unido, por exemplo, sabe-se os óbitos nos lares por dia e município. Desde o início da pandemia.

Em Portugal não há planos integrados de Saúde Pública. Compotas deve haver. Tudo é para a covid, mas de forma atabalhoada, e apenas com recurso a restrições legais. Tudo o que foge da esefra da covid, ignora-se. E por isso mesmo tivemos em 2020 o mês de Julho mais mortífero desde que há registo, porque ninguém ligou ao tempo um pouco mais quente.

Agora, também não se conhece qualquer plano de contingência da DGS para a vaga de frio que está em curso. Pelo contrário, há uma campanha a aconselhar as pessoas a não irem ao hospital se se semntirem doentes. A mortalidade, entretanto, está a subir em flecha (a culpa será toda da covid?). Ontem (6 de Janeiro) ultrapassou-se os 500 óbitos totais (512, por agora; valor deverá subir com as habituais rectificações), o que é um número avassalador, mesmo que a covid seja responsável por cerca de uma centena (saber-se-á esta tarde). É já o valor mais elevado desde 2 de Janeiro de 2017 (no pico de um quase ignorado surto de gripe).

Mas isso pouco interessa. Se existe um plano, neste momento, é de culpar apenas o SARS-CoV-2 e o povo sobre o suposto descontrolo do Natal e do Ano Novo. A imprensa "come"; o povo "engole".

Porém, sempre que "esgravato" um pouco mais a fundo (e não posso ir a todas a todo o tempo), desenterro mais sinais que indiciam não haver estratégia, não se usarem indicadores expeditos para controlar a pandemia e os seus efeitos secundários (p. ex., excesso de mortes não-covid).

Por exemplo, acabei ontem à noite por verificar que o distrito de Braga (que até é o menos envelhecido de Portugal Continental) registou um acréscimo da mortalidade total de quase 60% (em relação à média de 2014-2019) no passado mês de Novembro. Não foi coisa de Natal ou de Ano Novo. É uma subida perfeitamente anómala.

Por sua vez, Dezembro teve um acréscimo homólgo de 43%, e só não foi pior porque a mortalidade começou a decrescer a partir da segunda quinzena desse mês. Porém, ninguém da DGS jamais mostrou publicamente preocupação, durante o mês de Novembro e metade de Dezembro, o que, na verdade, não admira porquanto em Julho a mortalidade também aumentou 44% (sem covid) e também houve indiferença. Não se sabe, porque tudo o que é mortes por covid é segredo. Não se sabe se esta situação (muito anterior ao Natal e Ano Novo) está relacionado apenas com o recrudescimento da pandemia, se atingiu sobretudo lares ou a população na comunidade, se se deve especialmente a mortes por outras causas, e quais as causas e os grupos etários mais afectados, e etc., etc., etc...

Não se sabe nada, e eu acho que não tem a ver com o gosto pelo secretismo e pela ausência de uma cultura de comunicação por parte da DGS. Não se sabe porque não há, no meio desta pandemia, uma estratégia integrada de Saúde Pública. Não há trabalho analítico, o que não admira sabendo-se que até para um boletim da covid se tem de contratar uma empresa externa para o produzir. Há apenas descontrolo. Puro. Duro. Mortífero.

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