segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

DO ESTRANHO CASO DO DESAPARECIMENTO DO EXCESSO DE MORTALIDADE NÃO-COVID

Hoje, pelo que vejo no SICO, iremos ultrapassar novamente os 500 óbitos diários. Será o 7o. dia consecutivo acima dessa fasquia. É uma sequência inédita, desde que se conhecem registos diários, mas que está a ser exclusivamente associada pelo Governo à subida de mortes por covid. 

E eu continuo a achar que o excesso de mortes advém muito da completa ausência de resposta do SNS à vaga de frio, tal como o SNS não deu resposta ao calor mais intenso (sem ser ondas de calor em grande parte do território português) no passado mês de Julho. O ano de 2020 teve o mês de Julho mais mortífero de sempre, quando a covid estava a matar 3 pessoas por dia.

Na verdade, cada vez me parece mais que a covid (sem prejuízo da sua incidência perigosa na população acima dos 80 anos e mais vulnerável) se tornou o bode expiatório para a ineficácia do SNS. Reparem que a partir de Outubro (vd. gráfico do INE em baixo), e especialmente a partir de Dezembro, o excesso de mortes não-covid (um indicador infalível de falhas no SNS) praticamente desapareceu, quando até ao Outono representava 2/3 do total. 

É certo que o excesso de óbitos se manteve e o seu nível se agudizou na última semana, mas está sempre agora associado às variações dos óbitos atribuídos à covid, o que é incrível, e também altamente improvável, sobretudo porque o frio intenso descompensa o sistema imunitário dos mais vulneráveis e agrava muitas doenças.

Enfim, se tudo isto fosse verdade (ausência de  acréscimo significativo de mortes  não-covid) significava que o SNS, que não estava a conseguir dar resposta às outras doenças até Novembro, tinha tudo agora controlado. Significava que nenhum efeito estava a ocorrer pela fuga às urgências, mesmo daqueles com doenças agudas graves (pulseiras vermelhas e laranjas da triagem de Manchester). Significava que nenhum efeito negativo estava a suceder pelo adiamento de cirurgias, exames e consultas no SNS desde Março de 2920. E significava que, afinal, o Pai Natal existe, e que afinal o SNS pode deixar de correr atrás do prejuízo porque basta confiar na Virgem.

Na verdade, aquilo que sinto é que os números das mortes COM covid são a almofada (ou amortecedor) que serve de justificação para a mortandade da última semana. Até porque o Governo os relaciona directamente com o crescimento dos casos positivos (mas não com o que sucede nos lares). E como sabemos, o crescimento dos casos positivos é culpa exclusiva dos portugueses. Por isso mesmo vão de “castigo” de novo, com mais um confinamento proclamado por quem não tem culpa nenhuma disto: o Governo! É assim, não é?

Sem comentários:

Enviar um comentário