domingo, 30 de agosto de 2020

DA VERGONHA ALHEIA, OU DA ANÁLISE À SUPOSTA SEGUNDA VAGA, OU (AINDA) DA ESMAGADORA MAIORIA DOS PORTUGUESES (TALVEZ MAIS DE 90%) QUE NEM SEQUER ENTENDERIA A ANÁLISE QUE EU FAÇO AQUI EM BAIXO SE A LESSE, MAS LENDO-A ME CHAMARÁ NOMES FEIOS

Os fracos conhecimentos em Matemática e raciocínio analítico da maior parte da população (que faz com que muitos adultos, mesmo aqueles bem letrados, saibam pouco mais do que fazer contas pelos dedos), permite as mais descaradas manipulações, agora bem patentes na forma como a generalidade "engole" a narrativa da segunda onda da pandemia da covid, que, dizem, está aí já bem evidente. Muitos pensam até estarmos já bem piores do que em Março ou Abril, predispondo-se, em manso rebanho, a aceitar tudo, daqui a nada o uso de máscara nas próprias casas, incluindo prémios aos vizinhos que façam delações.

No discurso empolado pela PM (Propaganda Mediática, outrora conhecida por Imprensa) fala-se na imperiosa necessidade de mais e fortes restrições por causa do aumento do número de casos positivos, como se isso fosse o facto mais relevante no caso da covid, e não a incidência por grupo etário, que essa sim tem influência directa no número de mortes.

Embora não seja particular apreciador de analisar o impacte da covid através dos casos positivos (apenas a ponta do icebergue, dado a existência de uma elevada quantidade de assintomáticos) e das mortes por covid (dado os diferentes métodos de catalogação nos diferentes países), predispôs-me a fazer análises comparativas em seis países (Alemanha, França, Espanha, Itália, Suécia e Portugal), confrontando os casos positivos e as mortes covidianas (por dia e milhão de habitantes) em dois períodos distintos: Março-Abril (que com excepção da Suécia, correspondeu ao pico da pandemia) e Agosto (primeiros 29 dias).

Como se pode observar nos dois gráficos, apesar do aumento de casos positivos em Agosto (sobretudo se comparado com Julho e Junho, que aqui não apresento, mas que é efectivo), e que em alguns países (e.g., França e Espanha) ultrapassa os números registados no pico da pandemia, certo é que a mortalidade é agora muitíssimo mais baixa. E quando digo muitíssima é mesmo muitíssima. Por exemplo, na Espanha registam-se em Agosto apenas 0,4 mortes por milhão de habitantes, quando em Março-Abril foi de 8,6 por dia em cada milhão. Em Itália, o mês de Agosto tem apenas 0,1 mortes contra 5,4 mortes por dia em cada milhão de habitantes durante o pico da pandemia. Mesmo em Portugal (que é aquele que menor redução apresenta nesta amostra), Agosto tem 0,3 mortes diárias por milhão contra 1,6 mortes diárias por milhão em Março e Abril (e só houve mortes a partir do dia 15 de Março).

Nesta linha de racicocínio, fácil é entender (ou devia ser) a evolução da taxa de letalidade da covid. Com excepção de Portugal, todos os outros cinco países apresentam taxas de letalidade em Agosto inferiores a 1%. [Aliás, a excepção para Portugal mostra que o nosso desempenho não é tão extraordinário no combate à doença]. Estes valores contrastam com taxas de letalidade em Março-Abril que rondavam os 10% ou estavam acima em alguns destes países, como a França, Espanha, Itália e Suécia. 

Daqui resultam várias hipóteses: menor virulência do SARS-CoV-2 no Verão, menos incidência de contágios na população idosa e melhoria na eficácia dos tratamentos médicos. Mas nunca jamais se pode inferior por aqui, muito pelo contrário, a necessidade de um agravamento das medidas, porque elas apenas alimentarão o pânico e adiam, por tempo, e sobretudo em Portugal, o retomar da normalidade que já não era boa) do SNS. E esse adiamento sim, causa(rá) muitas mortes.

Enfim, observar os argumentos de que estamos numa segunda vaga, agarrarem-se a isso para justificar mais medo, observar o pânico nas pessoas por via desta "narrativa" enviesada, deixa-me cheio de vergonha alheia. A falta de conhecimento de Matemática, daquela mais básica, dá nesta distopia em que vivemos. Governantes sem escrúpulos agradecem. E para aqueles que veem o absurdo desta situação, esqueçam aquele delicodoce adágio que diz poder-se ser rei em terra de cegos, bastando ter um olho. Na verdade, quem tiver um olho, não conseguirá fazer nada perante a chusma de cegos a correr em pânico a impor máscaras como se elas fossem a solução (não o eram na Peste Negra, diga-se). A única coisa que pode ter alguém com um olho, nestes tristes tempos, é a consciência de viver num mundo louco. Porém, temo, que isso o levará à loucura.





sexta-feira, 28 de agosto de 2020

DO IMUNE REBANHO PORTUGUÊS

O Governo conseguiu, com a ajuda da sua diligente PM (Propaganda Mediática, leia-se imprensa), amestrar um povo com tais artes que nem precisa já de justificar-se com base em critérios científicos aquilo que vai fazer daqui a um dia, a uma semana, a duas semanas, a um mês, daqui a um ano. 

Esqueçam como era o passado. Não vale a pena fazermos planos individuais, familares, o que seja. Fomos vacinados pelo medo e ficámos assim sem vontade própria e sem domínio sobre as nossas vidas. Dia 15 de Setembro regressamos ao "novo normal" da contigência e a fazer continência. 

Triste viver nestes tempos que correm, sobretudo quando se sabe olhar para os dados concretos e oficiais (vd. evolução, no gráfico, dos casos positivos, dos óbitos por covid e da taxa de letalidade por mês desde Março). Por vezes, gostava de ser ignorante. Assim, metido num rebanho de gente sem reacção, sinto-me ovelha tresmalhada. E revoltada. 



quinta-feira, 27 de agosto de 2020

DO NOVO NORMAL

O Governo continua na sua INCONTINÊNCIA normativa e promete para dia 15 de Setembro mais medidas de CONTINGÊNCIA. Daqui a nada seremos obrigados a fazer CONTINÊNCIA.



DO EMBARCAR EM PATETICES

Se não há registo de passageiros no metro e no comboio, que é largamente usado, e nos aviões existe; e se nos aviões se exige (e até aceito a prudência) que se viaje agora de máscara facial, que coloca o risco de contágio para níveis bastante reduzidos, porque então a patetice do “cartão de localização do passageiro” dos aviões, estipulado pelas autoridades portuguesas, as mesmas que nem sequer sabem bem o que se passa nos lares (e aqui sim devia-se saber)? As companhias aéreas, como a Lufthansa, onde viajei de regresso a Lisboa, cumprem isto com evidente enfado, porque é evidente que isto não serve para nada. As hospedeiras entregam a papelucho com enfado e com o enfado o recolhem. O passageiro com enfado o preenche, se preenche. E se está virado para a imaginação, pode criar até uma identidade falsa. Neste momento, o meu papelucho, preenchido com imaginação, deve estar a marinar num qualquer envelope que aguarda ida para a reciclagem.



quarta-feira, 26 de agosto de 2020

DO ABSURDO

Em concelhos tão distintos como Leiria, Figueira da Foz, Guarda, Tondela, Alenquer ou Albufeira (e mais cerca de oito dezenas de outros), a mortalidade total em 2020 tem sido, até agora, inferior à média do período homólogo de 2014-2019, enquanto em muitos outros (que não vou, por agora divulgar), o excesso de mortalidade supera os 25%. Olhar para este indicador, e analisá-lo em detalhe por blocos temporais é, para mim, extremamente irritante, porque confirma que a morte e a vida, em cada concelho, em cada freguesia, em cada bairro, em cada rua e em cada casa, tem já muito pouco a ver com o vírus SARS-CoV-2 e a sua letalidade, e sim muito a ver com a estratégia seguida pelo SNS no combate à covid-19. 



DO VÍRUS QUE SABE NADAR YO, DA ESTUPIDEZ QU’ANDA A PATINAR YE

Fiquei a saber que existe rugbyb subaquático, e que é considerado um desporto de médio risco pela nossa DGS. Já a patinagem artística de pares é um desporto de alto risco.




DA DESISTÊNCIA

Eu sabia que ia ser difícil. Praticamente uma semana convivendo num país (Suécia) onde a covid é uma doença mas não A OMNIPRESENTE E OMNIPOTENTE doença, e estou agora em ressaca. Não aguento ler já certas notícias nem tenho forças para as contestar. Uma doença anda a matar duas pessoas por dia e agarram-se aos casos positivos que funcionam como "picaretas martelando na moleirinha do medo colectivo". Andamos nisto há meses. Não vai acabar tão cedo. O Público, então, anda demais. Não sabem fazer a merda de uma análise de jeito para além do pingar dos números de casos positivos. Bosta de jornalismo. Ficarão na história como um case study. Uma vergonha!




segunda-feira, 24 de agosto de 2020

DA RACIONALIDADE

Estou a ouvir nos altifalantes do aeroporto de Frankfurt o aviso para manter a máscara na face e afastar-me 1,5 metros dos outros passageiros, enquanto tiro uma selfie e uma fotografia em frente. Entretanto, quase me falta o ar e os óculos embaciam-se. Vai correr tudo bem. E a Suécia cada vez mais longe.




DO REGRESSO E DO CHOQUE

Rápida visita ao Museu do Vasa. À saída, ultrapassado um casal, percebo sons familiares. Portugueses. Faço a parvoíce do costume, dos lusitanos abanando a cauda ao cheirar patrícios em terras longínquas: “Então, bom dia!” Ficamos ali a falar dois minutos sobre incontornável tema: a liberdade em terras suecas de uns basbaques sem máscara. “Já nem queremos regressar. Aqui não sentimos medo”, diz-me a senhora. “Regresso esta tarde”, lamento. “Estou com medo. Do choque entre a ponderação daqui e o absurdo de lá”. Entretanto, apanho o comboio para o aeroporto, onde revejo a ponderação. Estou ainda sem máscara.




DO MEDO

Ontem, durante, toda a tarde, enquanto andava pela cidade, fui tentando encontrar pessoas com máscara facial. Em Estocolmo é mais raro encontrar uma pessoa de máscara do que uma agulha em palheiro. Encontrei três em mais de cinco horas de caminhada. E aquilo que mais me impressiona, e sucede em Portugal, é um estranho paradoxo: as máscaras parece não darem a quem as usa e defende em todas as situações (eu defendo apenas em transportes com aglomerados e em aglomerações inevitáveis) nem segurança nem confiança. Geralmente, nessas pessoas vislumbra-se, através dos olhos, apenas medo, como se vê nesta senhora (sueca?), uma das três que vi de máscara. Ou seja, a máscara tem um efeito psicológico não irrelevante do ponto de vista da saúde: pespega-nos na cara esse papão omnipresente, a morte, toldando a racionalidade. Passamos a viver com a morte agarrada à boca.



domingo, 23 de agosto de 2020

DO TIRO PELA CULATRA

Sei bem, porque fui jornalista em importantes órgãos de comunicação social (como o Expresso), que as conversas em “off” dos políticos, ainda por cima a dizer mal de alguém, e que não abordaram na entrevista ou conversa, nunca eram desabafos de conversa de café. Eram sobretudo uma tentativa de condicionar, amestrar e/ou influenciar a opinião do jornalista. Aqueles segundos nunca eram um acaso, um despropósito... 

Portanto, independentemente de se saber como vazou a conversa em “off” da gravação do Expresso, desta vez saiu a António Costa o tiro pela culatra.



DAS CARGAS VIRAIS

Li por aí que (mais) um estudo (pouco conclusivo) indica que as crianças podem ter cargas virais de SARS-CoV-2 superiores aos adultos. Mais medo. O pânico habitual. Isto sem tal significar maior capacidade de transmissão, até porque a esmagadora maioria das crianças são assintomáticas... No entanto, até eu me “refugiei” neste parque de Estocolmo, não me juntando demasiado aos baloiços: ali as cargas virais serão lançadas das vias respiratórias da pequenada que nem punhais...

Ver vídeo aqui:

https://www.facebook.com/1322691913/videos/10217647320717804/?extid=50NtNAECWizDrnL0

sábado, 15 de agosto de 2020

DOS TOLOS (QUE TODOS NÓS SEREMOS)

A Fundação Portuguesa para o Pulmão quer agora que seja obrigatório o uso de máscaras na via pública. Esta fundação agrupa especialistas que já lidaram com vírus mais letais que o SARS-CoV-2. Lidam com a pneumonia que mata 16 pessoas por dia em Portugal, contas redondas, quase 6.000 pessoas por ano. Sabem do que falam. Porém, em Março, o seu VICE-PRESIDENTE, Professor Doutor Agostinho Marques, eminente pneumologista, catedrático jubilado da Faculdade de Medicina do Porto e actual director clínico do Hospital Santa Isabel, disse tão-só o seguinte numa entrevista ao jornal local A VERDADE (ironia, acrescento):

“Quem não está doente, não deve usar máscara. O que está a acontecer com a corrida desenfreada às máscaras é um ATO TOLO E INCONVENIENTE. A pessoa usa uma máscara, convencido de que está protegida e não está, arrisca-se a expor-se mais do que deve, porque é criada uma sensação de falsa segurança”.

Portanto, em breve, seremos todos tolinhos. Obrigados, mas tolinhos, não é, senhor Professor Doutor Agostinho Marques?



DO VERÃO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO... OU DA NOVA VISÃO DE UM DESASTRE IGNORADO

Acreditem: sou o maior crítico das minhas análises, sobretudo quando fogem do "mainstream", e/ou quando surgem dúvidas exteriores sobre as minhas habilitações para abordar um tema (por mais que as tenhas, eu sei: nunca serão suficientes).

Pois bem, sobre a "anormalidade" do excesso de óbitos neste Verão, houve já quem tenha apontado o calor (que o houve em Julho, embora o INSA apenas para um dia tenha alertado para risco), outros que foi uma situação semelhante a outros anos (e.g., 2013 e 2018).

Enfim, regressei aos dados da mortalidade, para nova análise, noutra perspectiva. Eis aqui o que vi.

Desde que o Verão começou, em 20 de Junho, passaram 55 dias (até 13 de Agosto). Ora, comparando dia-a-dia, contabilizei 52 dias sucessivos com a mortalidade sempre acima da média de referência (2009-2019). Esta série começou no dia 22 de Junho e apenas terminou anteontem. É uma sequência e uima quantidade de dias acima da média que não encontra pararelo com anos anteriores, mesmo com aqueles que registaram fortes e mortíferas ondas de calor, como 2013 e 2018. Além disso, essa constância e persistência de dias com mortalidade acima da média não é típico de ondas de calor, que apresentam sempre picos bruscos de óbitos, mas rapidamente descem para valores abaixo da média, algo que nunca aconteceu em 2020 no período em análise (Verão)..

Tal como se observa no 1º gráfico, em 2013, marcado por a onda de calor que se intensificou em Julho, registaram-se "apenas" 19 dias sucessivos de mortalidade acima da média, sendo que no total do período se chegaram aos 30. Em 2018 (que registou no início de Agosto uma onda de calor particularmente mortífera) teve como sequência máxima acima da média 6 dias, terminando o período em análise com um total de 28. O ano de 2016 teve também um Verão de mortalidade acima da média, embora com uma sequência máxima de 10 dias acima da média e um total de 41 dias acima da média.

Porém, se neste indicador já se mostra que o Verão de 2020 é absolutamente atípico, perla persistência da mortalidade acuma da média, o segundo gráfico reforça e mostra que não se deveu à covid, e nem encontra justificação em pretensas ondas de calor (já abordei essa temática, particularizando para os distritos de Lisboa e Braga).

Com efeito, o excesso total de mortalidade no Verão de 2020 (até 13 de Agosto) atingiu os 2.918 óbitos, sendo que apenas 242 se deveram à covid. Antes, o pior Verão fora o de 2013, que registou uma fortíssima onda de calor de duas semanas, mas o excesso de óbitos, para o período em causa, acabou por ser de "apenas" 1.018 óbitos. Os outros anos com um número de óbitos acima da média (2010, 2016, 2018 e 2019) não chegaram ao milhar de mortes a mais.

Neste momento - enfim, eu sei que é cansativo estar a repetir -, a covid não é o maior problema de Saúde Pública em Portugal. Pode ser um problema importante, mas não é o principal. Dá-me raiva ver o completo alheamento político e público perante esta hecatombe. E já não falo só do Governo, do Ministério da Saúde e da DGS, mas também dos médicos, dos especialistas em epidemiologia, dos pneumologistas e dos especialistas em covid (da imprensa ou dos partidos da oposição nem falo). Gostava imenso que deixassem de olhar para o umbigo, que olhassem para o problema da mortandade que se está a passar neste Verão em frente aos seus narizes. E que só não grita a plenos pulmões porque às vítimas, mais de 2,500, já nada lhe sairá dos pulmões.



sexta-feira, 14 de agosto de 2020

DO NOVO NORMAL

A Fundação Portuguesa do Pulmão juntou-se à Ordem dos Médicos para defender o uso obrigatório de máscaras nas ruas para reduzir o risco de contágio da covid. Acharia bem se estas duas doutas entidades fizessem uma mea culpa e confessassem que então o mesmo já deveria ter sido feito antes de Março de 2020 para reduzir os contágios e as mortes por gripes e outras infeccções respiratórias. E também deveriam propor que, para a redução das mortes por cancros e muitas outras doenças, fosse proibido o consumo de tabaco, de bebidas alcóolicas, de sal, de enchidos, de carros que lançam químicos, de tudo e de mais alguma coisa... Como assim não procederam, cheira a frete, mais ainda quando a situação da covid está longíssimo da gravidade de Março/Abril. Mas isso agora não interessa. Interessa sim que estão reunidas, social e politicamente falando, as condições propícias para nos meterem açaime e coleira. Os nossos políticos rejubilam. Nunca outros em democracia tiveram tanto poder sobre os cidadãos, controlando-lhes os passos, os actos e os tiques. Estamos a viver uma perigosa época.


DA REALIDADE QUE DÓI SOBRE AS DUAS EPIDEMIAS EM PORTUGAL, UMA DELAS NÃO TRATADA E SEMPRE IGNORADA

Como tenho vindo aqui a defender, Portugal foi atingido por duas epidemias: 1) a covid; e 2) o colapso do SNS (adiamento de consultas, cirurgias, diagnósticos, etc), a par do medo e da falta de confiança das pessoas sobre a capacidade política de resposta à pandemia que as levaram a "fugir" dos hospitais.

Para a primeira epidemia (covid), não tendo sido Portugal um modelo (e.g., lares e transportes públicos), portou-se razoavelmente bem, evitando aquilo que, intimamente, se temia em Março e Abril: sermos iguais à Itália e Espanha).

Para a segunda epidemia, a desgraça tem sido completa, a começar pelo completíssimo alheamento das autoridade de Saúde (DGS) e a completíssima omissão do Ministério da Saúde em assumir que o excesso de mortes não-covid é insustentável pelos seus números absolutamente elevados. Vinco excepcionalmente os advérbios de modo. Esta é, tem sido e será, a minha maior das críticas: Suas Excelências estão borrifando-se completamente pelo excesso de mortes por outras causas; vai tudo para a covid, mesmo quase a lágrima de um secretário de Estado que é médico, e tinha, por isso, obrigação suplementar de ter outra postura perante um quadro tão negro nesta época estival.

Tenho tomado boa nota que as minhas estatísticas irritam já muita gente (preferem, talvez, o doce pingar das estatísticas da DGS, cujo seu Relatório de Situação já vai no número 164). Perante a ópera (bufa) da DGS, claro que as minhas estatísticas parecerão um concerto do Iggy Pop. Aliás, uma boa dúzia daqueles que considero amigos além-FB têm me mimoseado com críticas contundentes; muitos mais passaram a ignorar-me. E isto sem contabilizar os trools, mas para esses tenho sempre bom remédio. Curiosamente, nenhum ataca, provando, o rigor das estatísticas, até porque elas usam dados oficiais. Enfim, quanto a isto, paciência para todos. Continuo na minha: para se opinar tem de se estar munido de ferramentas. Os casos pessoais, o "achismo", a irritação porque "sim", não são a minha praia. Não estaria aqui a  criticar o colapso do SNS se não houvesse um trágico output: as mortes excessivas que ultrapassam qualquer justificação esfarrapada (ou testes estatíticos).

Portanto,hoje, seguem dois gráficos que, enfim, são mais uma tentativa de "ilustrar" a nossa triste situação. Tentei caprichar na parte visual para melhor entendimento.

No primeiro gráfico, coloco a variação diária (média de 5 dias) da mortalidade ao longo de 2020 em relação à média (2009-2019). No entanto, para melhor leitura (e lembrança), essa variação está por blocos mensais, de modo a que as pessoas observem e recordem mais facilmente o que foi acontecendo desde Março.

O segundo gráfico distingue, também por mês, o contributo da covid-19 (mortes oficiais) e de outras causas para o excesso de mortalidade (i.e., mortes acima da média).

Sobretudo da leitura do segundo gráfico, advêm as minhas maiores críticas à gestão da pandemia da covid e da (não) resposta do SNS às outras doenças. Notem que, mesmo em Março e Abril, e quando a covid era verdadeiramente um problema de Saúde Pública (e também por então ainda se desconhecer o verdadeiro impacte), o excesso de mortes derivadas de outras causas foi sempre maior. Em Março, a covid representava 38% do excesso, em Abril subiu para os 45%. Portanto, já havia uma segunda epidemia desde Março.

Em Maio observou-se uma manutenção do peso relativo da covid (39%) e em Junho desceu significativamente (apenas 23%). Neste último mês era já evidente que o SARS-CoV-2 não representava do ponto de vista clínico um problema suficientemente grave que justificasse a manutenção da suspensão dos serviços do SNS para as outras maleitas.

Porém, a receita do Ministério da Saúde manteve-se: tudo para a covid; já não bastava achatar a curva, era necessário "matar" todos os vírus. Objectivo oficial implícito: zero casos positivos, zero mortes por covid. 

Nesta obsessão oficial, os resultados estão à vista: em Junho, um mês geralmente de poucas mortes, continuou a ter um excesso de mortalidade muito elevado por outras causas; e em Julho atingiu níveis absurdos. Esse excesso de mortes foi geral, mesmo em regiões sem onda de calor (como Lisboa) ou nos dias sem onda de calor. Aliás, como também referi aqui, o Índice Ícaro do INSA apenas indicava o dia 17 de Julho como de risco.

Agosto, entretanto, vai pelo mesmo caminho, talvez não como a hecatombe de Julho, mas porque as temperaturas têm estado mais amenas. E andamos nisto. E as pessoas irritam-se porque apresento estatísticas e gráficos. E pior: dou opiniões, e até já prevejo (como fiz em na primeira quinzena de Julho) grandes desgraças para as semanas. Bem sei, nunca se gostou de Cassandras.




quinta-feira, 13 de agosto de 2020

DO DESÂNIMO... OU COMO VEM AÍ A OBRIGAÇÃO DE MÁSCARAS NAS VIAS PÚBLICAS

Para quem tinha esperança de o "circo da covid" parar no Verão, desengane-se. Da ideia inicial de achatar a curva passou-se rapidamente para a peregrina ideia de zero mortes por covid-19, como se isso fosse possível, ainda mais no curto prazo, e mesmo com vacina. 

Enfim, olhando para os números de Agosto das contaminações nos mais idosos (acima dos 70 anos, e sobretudo dos maiores de 80 anos)  parece-me, primeiro, que os lares continuam a ser um problema. E a evolução nos maiores de 80 anos nos dois últimos dias "cheira" a mais descontrolos em lares.

Segundo, por tudo isto, está praticamente garantido (segundo as probabilidades com base nas taxas de letalidade) a existência de quatro a cinco mortes diárias por covid nas próximas semanas. Isto está a um nível lamentável pelas vidas, mas "aceitável" do ponto de vista da Saúde Pública, até porque este número estará abaixo das mortes por infecções respiratórias virais e bacterianas (cuja mortalidade estará este ano a níveis muito mais baixos). Além disso, esta minha estimativa para as mortes por covid-19 aproxima-se do número médio diário registado em Junho e em Julho, dando assim sinais de um certo "endemismo".

Porém, isso pouco interessará aos políticos e aos "covideiros". Só este valor para os óbitos por covid, pingando diariamente quatro ou cinco vítimas, independentente da insignificância estatística face às outras causas de morte, vai ser "suficiente" para continuar a alimentar ad nauseum o "circo". Direi mesmo que, face à manutenção da mortalidade por covid, está praticamente garantido, para muito em breve, a imposição do uso de máscaras nas vias públicas. Viver nos próximos tempos não vai ser fácil para manter a mente sã.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

DA INSTALAÇÃO DO MEDO: DA INDIFERENÇA AO PÂNICO EM DOIS PASSOS E ALGUMA ESTATÍSTICA

Não nego que a covid-19 seja uma doença perigosa para os mais idosos... mas imaginemos que, em 2018 (uso esse ano, porque ainda não estão disponíveis os dados de 2019), o Ministério da Saúde fazia conferências de imprensa a anunciar as mortes por pneumonias e por bronquites virais e bacterianas.

Vamos imaginar mas ser realistas e colocar mesmo dados reais (e oficiais). Em Março de 2018 ter-se-ia anunciado, em média, 24 óbitos por dia de pneumonias e bronquites (foram seis por covid por dia nesse mesmo mês, este ano). Em Abril de 2018 mais 19 mortes por dia de pneumonias e bronquites (27 por covid no mês homólogo de 2020). Em Maio seriam mais 16 mortes diárias por bronquites e pneumonias (13 mortes por covid nesse mês de 2020). Em Junho outras 14 mortes diárias por pneumonias e bronquites (apenasn cinco por dia em mês homólogo deste ano à conta da covid). E, por fim, em Julho de 2018 ter-se-ia anunciado 11 mortes diárias por pneumonias e bronquites (apenas cinco por dia por covid no mês homólogo deste ano).

Se se fizesse o balanço em termos relativos, anunciar-se-ia em 2018 que, entre Março e Julho, as mortes por pneumonias e bronquites virais e bacterianas representavam 5,6% das mortes totais. A covid, este ano, para o período homólogo, representou 3,5% do total das mortes.

Aquilo que deixo aqui como reflexão é o seguinte: que mudou entre 2018 e 2020 para se ter passado da indiferença total em relação às mortíferas pneumonias e bronquites (e que matam ainda mais no Inverno) para um exacerbado pânico por causa da covid? Foi a (des)informação ou a deturpação da informação?

Nota 1. Ainda não existem dados de mortalidade por pneumonias e bronquites para os meses em análise para o ano de 2020, embora seja previsível uma redução da ordem dos 2/3 em linha com a reduçãos dos casos notificados destas doenças na DGS.




segunda-feira, 10 de agosto de 2020

DA ANÁLISE NECESSÁRIA: O "MILAGRE PORTUGUÊS" IGUALA O "DESASTRE SUECO", MENOS NA ECONOMIA

Ainda há poucos dias, o Público (outrora jornal de referência) noticiava que «o PIB sueco cai[u] 8,2% no segundo trimestre», como se Portugal estivesse num mar de rosas (o PIB do nosso país caiu um "poucachinho" mais: uns estonteantes 16,5% no mesmo período).

Enfim, já todos sabem: desde Março, a imprensa (e a portuguesa em grande destaque) atacou ferozmente a estratégia sueca de um "lockdown" suave. A narrativa da nossa imprensa foi sempre de mostrar a Suécia como um país irracional e egocêntrico. Pouco valia a "defesa" das autoridades suecas sobre o facto de se estar perante uma maratona e não um sprint.

Bom, na verdade, acho que ainda estamos a meio da maratona, mas como encontrei dados estatísticos sobre a mortalidade total da Suécia, fui fazer comparações com Portugal.

Pois bem, contabilizando a mortalidade desde 1 de Março até 31 de Julho, basicamente estamos praticamente iguais neste aspecto, mas com uma tendência pior para Portugal. A Suécia, embora tenha tido um pico bastante significativo na mortalidade total até meados de Abril, começou de forma consistente a reduzir os números, de sorte que desde Julho os óbitos totais estão abaixo da média dos últimos cinco anos.

Por sua vez, Portugal não se teve um pico de mortalidade total tão exacerbado em Abril, mas tirando um par de dias em Junho,tem estado sempre bastante acima da média, ou seja, sempre com excesso de óbitos, com particular evidência em finais de Maio e durante todo o mês de Julho. 

Resultado disto, somando tudo: a Suécia registou, entre Março e Julho, um excesso de mortalidade de 13,5% em relação à média; Portugal um excesso de mortalidade de 12,9%. Em termos absolutos,o excesso de mortalidade em Portugal é já superior (também por força de um maior envelhecimento populacional). No nosso país, entre Março e Julho morreram mais 5.667 pessoas do que a média; na Suécia mais 4.912.

Conclusão: a meio da maratona, estamos a ficar pior do que a Suécia em termos de mortos. Do ponto de vista da Economia nem se fala. E do ponto de vista da Saúde Pública (e Mental) é melhor estar calado. Quem ainda continua a achar que somos um "milagre"?

Nota: Os dados da mortalidade na Suécia podem ser consultados aqui: https://www.scb.se/en/finding-statistics/statistics-by-subject-area/population/population-composition/population-statistics/ . Os dados da mortalidade em Portugal podem ser consultados aqui: https://evm.min-saude.pt/#shiny-tab-a_total . Para ambos os valores médios foram calculados para o período 2015-2019 (período disponível nas estatísticas suecas). O excesso de óbitos foi calculado deduzindo os óbitos totais no período de 2020 com a média. Para a elaboração do gráfico considerou-se a média móvel de 5 dias, tendo-se padronizado a mortalidade de Portugal (em relação à Suécia). A padronização permite uma correcção muito ligeira face à estimativa da população de ambos os países (10.295.909 habitantes em Portugal em 2019, segundo estimativas do INE; e 10.336.510 habitantes, segundo estimativas do CBS de Janeirode 2020). A maior mortalidade média em Portugal deve-se a uma maior taxa de mortalidade, por via de um maior envelhecimento. Note-se, contudo, que a leitura do gráfico deve ser feita comparando sobretudo os valores de 2020 com a média respectiva para cada país).



sexta-feira, 7 de agosto de 2020

DA ALDRABICE DO MILAGRE PORTUGUÊS E DA SUA PERNA CURTA

Em 26 de Abril, quando Portugal era elogiado na Europa pelo baixo impacte da covid na mortalidade total (e Marcelo e Costa se congratulavam do putativo "milagre português"), eu denunciei aqui, no post "Do milagre português aldrabado", que os dados enviados para o sistema europeu EuroMomo não estavam correctos, que estavam subcontabilizados. Enfim, que o "milagre português" era aldrabado.

Entretanto, estamos no Verão, e Portugal é agora notícia na Europa exactamente por ser o único país com excesso de mortalidade. Decidi então ir ver os valores enviados para o EuroMomo e reparei que os dados de Março e Abril estão agora correctos. Foram entretanto alterados, o que significa que aumentaram os óbitos aí registados. Note-se que, no final de Abril, segundo as minhas análises, Portugal reportara ao EuroMomo menos 1.164 mortas do que aquelas que se tinham efectivamente verificado entre 15 de Março e 23 de Abril. E só por isso Portugal conseguira estar com níveis de mortalidade mais baixos e a receber elogios. Apenas a título de exemplo (e a prova de um dia), cf. fotos, vejam os óbitos enviados para o EuroMomo de 4 de Abril (na primeira foto, que usei no meu post de 26 de Abril) e o valor que agora consta no histórico tirado hoje: de 389 passou para 421 (que era o valor que deveria sempre ter lá constado). Esta subcontabilização foi feita sistematicamente ao longo de Março e Abril,todos os dias, durante mais de um mês.

E conseguiu-se com esta aldrabice elogios internacionais. Mas como se sabe, a mentira tem perna curta. E aquilo que se andou a fazer e, sobretudo, a não fazer desde o início da pandemia, e quando já havia excesso de mortalidade não-covid, anda agora a perseguir-nos.


quinta-feira, 6 de agosto de 2020

DOS BODES EXPIATÓRIOS (UMA ANÁLISE DETALHADA SOBRE O EFEITO DA ONDA DE CALOR DE JULHO)

Mão amiga enviou-me o relatório com 16 páginas do IPMA sobre a meteorologia em Julho, aconselhando-me a ver, pelo menos, as duas primeiras. Se seguisse o conselho, ficaria com a ideia de que afinal foi o tempo quente e seco (o mauzão) que causou uma mortandade no mês de Julho. Pois, mas por mim, ou leio os relatórios, e formo uma opinião, ou não leio e não formo.

Primeiro, quando olhamos para valores médios das temperaturas (mínima, média e máxima), efectivamente Julho foi bastante quente, sobretudo quando comparamos com as últimas três décadas do século XX, mas não tanto com as dos anos do presente século (hélas, o aquecimento global).Porém, como todos sabem, por certo, o nosso país tem um clima muitíssimo variado para país tão pequeno, além de ter uma concentração populacional nos distritos do litoral.

Ora, conforme se pode observar no relatório do IPMA, as ondas de calor em Julho fizeram-se sentir sobretudo nos distritos do interior, menos populosos. O único distrito mais populoso, com uma onda de calor de 10 dias (9-18 de Julho). Lisboa, por exemplo, não registou qualquer onda de calor. Os extremos da temperatura foram, por norma, atingidos no dia 17 de Julho, aliás, o único em que o Índice Ícaro (do INSA), sobre o qual escrevi ontem, indicava risco de excesso de mortalidade.

Lendo o relatório, e verificando ausência de onda de calor no distrito de Lisboa e presença de onda de calor entre 9 e 18 de Julho no distrito do Braga, fui ver como variou a mortalidade diária nestas duas regiões ao longo do mês. Podem observar os resultados nos dois gráficos, tendo aqui uma síntese:

Distrito de Lisboa (sem onda de calor)
Mortalidade média diária (2014-2019): 50,5 óbitos
Mortalidade média diária (Julho 2020): 66,6 óbitos
Dias sem onda de calor: 31
Dias com onda de calor: 0
Mortalidade média diária na onda de calor: (não aplicável)
Excesso de óbitos em Julho de 2020: 497 (+ 31,7%)

Distrito de Braga
Mortalidade média diária (2014-2019): 14,8 óbitos
Mortalidade média diária (Julho 2020): 21,2 óbitos
Dias sem onda de calor: 21
Dias com onda de calor: 10
Mortalidade média diária na onda de calor: 22,4 óbitos
Mortalidade média diária fora da onda de calor: 20,7 óbitos
Excesso de óbitos em Julho de 2020: 201 (+ 44,0%)
Excesso de óbitos nos 10 dias com onda de calor: 77 (+51,9%)
Excesso de óbitos nos 21 dias sem onda de calor: 124 (+40,1%)

Donde se conclui que no distrito de Lisboa, apesar da não existência de onda de calor, houve um excesso de quase 32% da mortalidade. No caso de Braga, sendo certo que nos 10 dias da onda de calor houve maior aumento da mortalidade em relação à média (51,9%), esse indicador foi também bastante elevado (40,1%) nos dias sem onda de calor, o que revela que apenas uma pequena parte do excesso de mortalidade terá tido essa onda de calor como causa.

Ou seja, continuo a defender que as temperaturas elevadas terão contribuído para o excesso de mortalidade, mas como factor de exacerbamento, o que se mostra bastante preocupante. De facto, se tivermos este Verão ondas de calor a atingir os distritos populosos, sobretudo do litoral, e em especial Lisboa e Portugal, a situação de Saúde Pública pode sim, neste caso, ser catastrófica. Portanto, não negando a existência de onda de calor durante o mês de Julho em parte substancial do território, tivemos mesmo assim a sorte de não atingir as zonas populosas. Porém, temo também que a onda de calor no interior sirva como argumento político para se encontrar um bode expiatório. Como mostrei em particular para os distritos de Lisboa e Braga, não é preciso onda de calor para haver um excesso de mortes. Era bom que o Governo debelasse o problema em vez de procurar bodes expiatórios que não fará ressuscitar ninguém.



quarta-feira, 5 de agosto de 2020

DA AREIA (OU DO SOL) PARA OS NOSSOS OLHOS

Para justificar a morticínio de Julho, já começam a surgir as explicações da DGS, do IPMA e de "especialistas" para confundir a malta, dizendo que, provavelmente, afinal a culpa foi toda do Sol, esse malvado. Acreditem já naquilo que quiserem. Eu acredito na Ciência. Ora, há uns anos, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) criou um índice de previsão de excesso de mortes por causa do calor denominado Índice Ícaro.

Cito a explicação: "Genericamente um Índice Alerta Ícaro é uma medida numérica do risco potencial que as temperaturas ambientais elevadas têm para a saúde da população. Compara os óbitos previstos pelo modelo estatístico subjacente ao sistema de vigilância ÍCARO, com os óbitos esperados sem o efeito das temperaturas extremas. O índice Alerta ÍCARO toma valores maiores ou iguais a zero, sendo esperados efeitos sobre a mortalidade quando este ultrapassar o valor um.»

Pergunta de «um milhão": quantos dias em Julho do ano da nossa desgraça de 2020 excederam o valor 1 do Índice de Ícaro?

A resposta está no gráfico: 1 dia. Repito: 1 dia. Somente 1 dia. Foi apenas no dia 17 de Julho. E vejam como foi o exceso nesse dias: 113 óbitos a mais. Foi muito? Claro que foi. Mas no dia 14 o índice foi de 0,17 e morreram a mais 149... E por aí fora. E, assim, tivemos uma excesso de óbitos no final de Julho de 2.292, sendo que só num dia (com 113 óbitos a mais) havia condições meteorológicas para esperar mortalidade acrescida.


DA EVIDÊNCIA ESTATÍSTICA, HÉLAS, DO COLAPSO DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE

O mês de Julho teve um excesso de mortes inaudito, e quando apenas 1,5% dos óbitos se deveu à covid, mas vieram já céleres as desculpas oficiais (via DGS e IPMA): foi "apenas" do tempo quente. O calor é sempre um bom bode expiatório. "Siga-se para bingo",até porque só mata velhos, não é?

Pois, mas este mês de Julho e o supsto calor não matou só velhos. Dei-me ao trabalho de analisar com detalhe a mortalidade neste mês, por grupo etário, e calcular os desvios (excesso ou défice) não apenas em relação à média (2014-2019, os dados disponíveis no SICO), mas tendo em conta os tão famigerados intervalos de confiança. Deste modo, apresento no gráfico, para cada grupo etário, o desvio face ao máximo expectável (verde); à média (amarelo) e ao mínimo expectável (vermelho).

E eis as evidências: mesmo usando o limite superior do intervalo de confiança (máximo expectável), todos os grupos acima dos 45 anos apresentam excesso de mortalidade. No caso dos maiores de 85 anos chega aos 34,5%, um absurdo! E uma surpresa desagradável (mesmo se em termos absolutos os óbitos não são muitos), houve excesso de mortalidade também
face ao máximo expectável para o grupo 15-24 anos.

Se se considerar o desvio em relação á média, apenas os menores de 5 anos e o grupo 5-14 não apresenta excesso de mortalidade em Julho.

Mas vejam por vós. E tirem as vossas conclusões sobre o estado do nosso Serviço Nacional de Saúde. Continuem a achar que não, que não há problema algum na nova moda das consultas por telefone, nos exames suspensos, nas cirurgias adiadas, na manutenção da contínuada falta de confiança para se ir a um hospital, etc., etc., etc... Está tudo bem, não é? Vai tudo ficar bem, não é?


DA LOUCURA EM TERRA DE LOUCOS

Um louco em Grândola deixou a mãe idosa morrer no meio de fezes, fome, urina e sede. Foi ontem levado ao juiz, convenientemente algemado e de máscara posta, tal como os agentes da PJ. Até aqui tudo bem. Mas também, diz o CM, e mostra a foto, “usou um fato especial por não haver resultado do teste à Covid-19”. Alguém me sabe explicar aquilo que exactamente aquele fato especial, ainda mais vestido assim, protege o homem e/ou aqueles que o rodeiam? Que patetice é esta?


DA ESTUPIDEZ QUE TAMBÉM MATA

O Público já não têm já remissão. Começa a tomar o lugar do Correio da Manhã no sensacionalismo. Toca a alimentar o pânico: uma morte por covid-19 em cada 15 segundos! Ui! Fim do Mundo... Pêra aí! Mas este ano, ao fim de 217 dias já morreram 35 milhões de pessoas. Ora, isto dá 28 pessoas em cada 15 segundos. Donde se conclui que morreram 27 pessoas de causas que não dão notícia. A covid pode ser uma doença grave mas o histerismo parece-me mais.


terça-feira, 4 de agosto de 2020

DA FALTA DE EMOÇÃO PARA O EXCESSO DE MORTES

Ontem viu-se um quase choroso secretário de Estado da Saúde comover-se pelas zero mortes por covid-19. Pela primeira vez, a mortalidade diária acumulada devido à covid, não se mexeu. Festa no Governo! Vendida uma vitória, e arrancada com emoção.

E agora? Bom, já que Lacerda Sales se portou como um secretário de Estado da Covid, precisamos agora de um secretário de Estado da Não-Covid. E para quê? Ora, para que aquela mancha vermelha dos dois gráficos, ali em baixo, já bastante gorda, não engorde ainda mais.

Vejam bem a mancha vermelha do primeiro gráfico. Eu sei: são números, são estatísticas! Merda! São pessoas! Representam pessoas que foram morrendo fora de tempo, porque, enfim, só houve Ministério da Covid, e o Ministério da Saúde suspendeu funções por tempo indeterminado. São pessoas que, contas feitas (sempre as contas para chatear), terão sido provavelmente 4.831 desde 16 de Março até 31 de Julho. E isto para além de todas as outras, em número de 38.158, que, pelas leis da vida já se esperava se finarem neste período de tempo (e representadas pela linha verde do primeiro gráfico). A covid causou, neste período, 1.373 óbitos. É pouco? Não, é muito! É muito e é também 24% do excesso total de mortes no período. E é muito, mas também é 3,9% do total das mortes no período. Em Julho correspondeu apenas a 1,5%.

Independentemente da perigosidade da covid, o Governo portou-se como se a pandemia fosse a única causa que nos torna mortais. Não me venham dizer que não posso culpar o Governo. Posso sim: António Costa garantiu em Março que não ia faltar nada ao SNS. E falta, faltou e vai faltar muito. Mesmo muito. E com custos em vidas. Não me canso de repetir: a suspensão de consultas, de diagnósticos, de exames, de cirurgias e de outros actos médicos, o pânico alimentado que provocou fugas às urgências, e a incapacidade de simultaneamente garantir seguranças mas calor humanos aos idosos, tudo isto, causou, causa e causará mortes, sobretudo se temperado com temperaturas elevadas no Verão (e sem qualquer acção médica contingencial). E não são nem serão poucas. Por agora, são mais de 4.800, mas pela tendência de Jullho, o mês de Agosto "promete" não ser meigo: vejam, no segundo gráfico) como a mancha amarela quase não mexeu para cima (morreram apenas 157 pessoas por covid), enquanto a mancha vermelha (não-covid) engrossou e engrossou; a tal ponto que as mortes não-covid em Julho foram maiores do que todas as mortes por covid desde Março.

Enfim, e por fim, eu já dou de barato que o PIB se escaqueire 30% ou 40%, ou o que seja; que andemos de máscaras até em casa; que as tascas sirvam copos de leite às 7 da tarde e fechem sempre às 8; que não haja mais futebol com público (nesta fase, o Benfica merece!); que as praias tenham semáforos e zaragatoas; que nos façam gato-sapato. Espero, porém, que, no meio desta distopia, o Ministério da Saúde saiba ser Ministério da Saúde. E que o Governo saiba governar. Pela nossa já tristonha saúde. Física e anímica.



domingo, 2 de agosto de 2020

DO FALACIOSO SILOGISMO

Cada vez noto mais, mesmo em mui próximos verdadeiros amigos (e dos outros nem falo), o seguinte raciocínio dedutivo, mas lamentavelmente falacioso:

1 - As medidas rigoríssimas contra a covid (suspensão de aulas, máscaras em todo o lado, regras apertadas em espaços comerciais, etc., etc., etc.) eram, são e serão necessárias porque, caso contrário, ocorreria e ocorrerá um geral morticínio não quantificável mas sempre elevado;

2 - Nunca seria possível prever que a suspensão de consultas, exames e cirurgias pelo SNS viesse a causar um morticínio no Verão, não havendo, além disso, provas de esse excesso de óbitos se dever a tais situações

3 - Donde se deve concluir que, havendo certezas de que sempre haveria morticínio elevados, mesmo não quantificável, sem medidas anti-covid, e não havendo certezas de as suspensões de serviços do SNS resultam em mortes, devemos todos bater palmas ao Governo e continuar como estamos. A Bem da Nação.

E andamos nisto, morrendo gente em demasia, porque a segunda proposição é falsa.



DO PANDEMÓNIO EM LISBOA

Esta é coisa curta, mas ilustrativa do desnorte do Governo e da DGS: a variação da mortalidade no distrito de Lisboa mostra que o pico da gripe em Janeiro foi maior do que o da "pandemia da covid" em Março-Abril (que nem sequer registou um verdadeiro pico em Lisboa); e por sua vez o pico de Julho foi o maior de todos. Se se considerar os intervalos de confiança (vd. gráfico no primeiro comentário), então quase se pode dizer que a "pandemia da covid" não se fez sentir na região da capital. Já "pandemónio" de Julho, esse, é bem vísível e estatisticamente evidente. Mas ignorado pelo Governo e DGS.




DO JULHO, UM DESASTRE DE SAÚDE PÚBLICA (COM COMPROVATIVO ESTATÍSTICO)

Começa a ser algo irritante, mas com "remédio" eficaz, os "paraqueditas" que, de quando em vez, arremetem contra mim, quase sempre contra o meu currículo (com uma obsessão embirrenta no meu estatuto de doutorando, nem sei porquê).

Enfim, também especial atenção têm alguns dos meu queridos "atacadores" ao detalhe dos meus gráficos à cata de imprecisões. Se não apresento as linhas dos intervalos de confiança, gritam heresia!

Pois bem, se se quer intervalos de confiança (algo que sempre calculo mesmo quando não apresento por razões de maior simplificação gráfica), então aqui estão, e que a propósito mostram de uma forma ainda mais evidente como foi tenebroso o mês de Julho em termos de Saúde Pública, sem paralelo com os meses anteriores. E a culpa não foi da covid.

Passo a explicar o que fiz. Calculei a média (2009-2019) e os intervalos de confiança (a 95%) para cada mês, e comparei com o registo da mortalidade total do mês homólogio de 2020, e em seguida calculei três possíveis excessos: a) excesso de óbitos em relação ao limite inferior do intervalo de confiança (máximo expectável); b) o excesso de óbitos em relação à média; c) o excesso de óbitos em relação ao limite superior do intervalo de confiança (mínimo expectável). Por fim, deduzi as mortes por covid no respectivo mês, para assim ficar com o excesso de mortes não relacionadas directamente com a covid (no primeiro comentário, coloquei um gráfico sem as deduções da covid).

Eis então o triste retrato:

a) Março - terá ocorrido um excesso máximo de 1.046 óbitos, mas a mortalidade deduzida a covid está dentro do intervalo de confiança, pelo que pode não ter ocorrido qualquer excesso.

b) Abril - registou-se um excesso de óbitos não-covid de entre 445 e 1.377 pessoas, com um valor médio de 891 pessoas.

c) Maio - registou-se um excesso de óbitos não-covid de entre 287 e 1.162 pessoas, com um valor médio de 724 pessoas.

d) Junho - reforçando a tendência decrescente dos dois meses anteriores, registou-se um excesso de óbitos não-covid de entre apenas 14 e 930, com um valor médio de 472.

e) Julho - um desastre completo: o excesso de óbitos não-covid encontra-se entre um mínimo de 1.504 pessoas e um máximo de 2.705 pessoas. O valor médio deste excesso foi de 2.105. Em termos comparativos, entre 16 de Março e 31 de Julho morreram 1.737 pessoas por covid. O valor médio em excesso apenas no mês de Julho representa cerca de 68 caixões a mais todos os dias. O máximo diário de mortes por covid foi de 37 (dia 3 de Abril) e houve apenas 10 dias com mais de 30 mortes.

Espero com isto que se fique com plena consciência da enorme gravidade da situação de Saúde Pública durante o mês de Julho, sem um 'ai' nem um 'ui' do Governo e da DGS. Se há um mês de "pandemia" não foi nem Março nem Abril; foi Julho. E temo que Agosto não seja diferente.



sábado, 1 de agosto de 2020

DO RETRATO DE DUAS PANDEMIAS: A COVID E A NÃO-COVID

Eis que vos presenteio, com este gráfico, o seguinte, com dados numéricos bem explícitos:

a) a mortalidade média (2009-2019) - barra castanha;

b) a mortalidade por covid - barra roxa (obviamente a zero em Janeiro e Fevereiro)

c) o excesso ou a redução (apenas em Fevereiro) de óbitos em relação à média deduzida a mortalidade por covid (obviamente a zero em Janeiro e Fevereiro) - barra vermelha

d) a mortalidade total por mês - ponto amarelo (sendo que este valor iguala o somatório da média, da variação positiva ou negativa em relação à média e da moprtalidade por covid).

Está tudo aqui: o acaso, o impacte da covid, o impacte das políticas de saúde que se borrifaram em quase tudo o que não era covid, e ainda a situaçºao perfeitamente tenebrosa do mês de Julho.

Os bons entendedores entenderão estão gráfico; os outros continuarão a não...


DAS POLÍTICAS QUE (NOS) MATAM

Em Julho, segundo dados da DGS, morreram 150 pessoas por covid, o valor mensal mais baixo desde Março. Porém, paradoxalmente (ou não), Julho de 2020 é, entre os meses da «pandemia da covid» (Março em diante), aquele que apresenta um maior desvio da mortalidade total em relação à média (2009-2019): um acréscimo de 27,8%. Em Março último o acréscimo fora de 7,1%, em Abril de 19,6%, em Maio de 13,5% e em Junho de 7,9%.

Este acréscimo é um absurdo e um caso de Saúde Pública, mas o Governo prefere os "drinks de fim-de-tarde" da ministra da Cultura ou as bolas de berlim da praia da Lagoa do primeiro-ministro. Nem um ai se ouve do Governo, nem um ui da DGS. O "povo", esse, continua amedrontado pela covid-19, enquanto segue para o "matadouro" das outras doenças não tratadas. A imprensa nanja, enquanto manja. 

A mortalidade em Julho trucida quaisquer paninhos quentes, ou desculpas. Ultrapassa em 2.260 óbitos o valor médio do período 2009-2019; excede em mais de 1.100 óbitos (i.e., cerca de 35 caixões a mais por dia) o pior ano anterior (2013); suplanta em mais de 1.500 óbitos o máximo expectável; quase chegou a registar mais 3.000 óbitos do que os do ano mais calmo (2009).

Tudo isto (e muito mais, que referirei posteriormente) se passou em Julho de 2020. Não me venham dizer que a culpa é da covid, ou do azar, ou que o "mensageiro" manipula ou tem razões ideológicas e coisas que tais, e que blá blá blá... Areia para os olhos, ou melhor dizendo: punhais que matam. 

Suspender consultas, diagnósticos e cirurgias tinha um custo, e nem era preciso ser-se epidemiologista ou simples médico para antever consequências. Mas pior ainda, está agora a manter-se esta situação por meses a fio, alimentada ainda pelo contínuodiscurso de medo e de obsessão pela covid. E nem vidas nem Economia se salvaram. E a nossa imprensa ajudou nisto, o que me entristece e envergonha (tendo eu sido, em tempos, um jornalista). E com tudo isto se tem matado mais pessoas do que o SARS-CoV-2. Sinceramente, cada vez mais julgo que as actuais políticas de Saúde Pública são, verdadeiramente, a nossa principal pandemia.