quarta-feira, 5 de agosto de 2020

DA EVIDÊNCIA ESTATÍSTICA, HÉLAS, DO COLAPSO DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE

O mês de Julho teve um excesso de mortes inaudito, e quando apenas 1,5% dos óbitos se deveu à covid, mas vieram já céleres as desculpas oficiais (via DGS e IPMA): foi "apenas" do tempo quente. O calor é sempre um bom bode expiatório. "Siga-se para bingo",até porque só mata velhos, não é?

Pois, mas este mês de Julho e o supsto calor não matou só velhos. Dei-me ao trabalho de analisar com detalhe a mortalidade neste mês, por grupo etário, e calcular os desvios (excesso ou défice) não apenas em relação à média (2014-2019, os dados disponíveis no SICO), mas tendo em conta os tão famigerados intervalos de confiança. Deste modo, apresento no gráfico, para cada grupo etário, o desvio face ao máximo expectável (verde); à média (amarelo) e ao mínimo expectável (vermelho).

E eis as evidências: mesmo usando o limite superior do intervalo de confiança (máximo expectável), todos os grupos acima dos 45 anos apresentam excesso de mortalidade. No caso dos maiores de 85 anos chega aos 34,5%, um absurdo! E uma surpresa desagradável (mesmo se em termos absolutos os óbitos não são muitos), houve excesso de mortalidade também
face ao máximo expectável para o grupo 15-24 anos.

Se se considerar o desvio em relação á média, apenas os menores de 5 anos e o grupo 5-14 não apresenta excesso de mortalidade em Julho.

Mas vejam por vós. E tirem as vossas conclusões sobre o estado do nosso Serviço Nacional de Saúde. Continuem a achar que não, que não há problema algum na nova moda das consultas por telefone, nos exames suspensos, nas cirurgias adiadas, na manutenção da contínuada falta de confiança para se ir a um hospital, etc., etc., etc... Está tudo bem, não é? Vai tudo ficar bem, não é?


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