terça-feira, 26 de janeiro de 2021

DA BIPOLARIDADE, DO CHERRY PICKING E DA VELHA QUESTÃO DOS ASSINTOMATICOS

Para se ser Nefando ajuda ser bipolar. Por exemplo, há dias em que o Nefando acorda e acha que uma revista científica, peguemos na BMJ como exemplo, é óptima como "arma" para chamar dealer a um digno professor catedrático jubilado, especialista em Saúde Pública (e que não deve ter ficado no 248º lugar do seu internato, presumo). 

Noutros dias estremunha, porém, o Nefando. e vai de zurzir num editor da mesma BMJ, Peter Doshi, também professor da Universidade de Maryland, só porque, enfim, este coloca reservas sobre a eficácia das vacinas da Pfizer e da Moderna, e exige mais dados (vd. aqui).

Também sucede ao Nefando, além da bipolaridade, ser propenso ao famigerado "cherry picking", i.e., lê o que lhe interessa; suprime o que o incomoda. 

Há dias, no tal ataque ao digníssimo professor catedrático jubilado, o Nefando cita um artigo da BMJ ("Asymptomatic transmission of covid-19"), da autoria de Allyson M Pollock e James Lancaster (vd. aqui), transcrevendo até um parágrafo inteirinho em inglês. Nesse parágrafo, efectivamente refere-se que uma parte (49%) dos assintomáticos acabam por desenvolver sintomas. Embrulha lá, Torgal!

Sucede, contudo, que, no mesmíssimo artigo, e logo nos cinco parágrafos seguintes, surgem informações que, enfim, colocam em causa toda a teoria "nefandesca" em redor dos "perigosos assintomáticos" e dos testes PCR, a saber:

a) a única forma de detectar o vírus é através de cultura viral, e que os testes PCR (e outros) não distinguem se o vírus está activo (live vírus);

b) uma pessoa com um resultado positivo num teste PCR pode ou não ter uma infecção activa e pode ou não ser infecciosa;

c) são feitos alertas muito consistentes sobre os ciclos (Ct) dos testes PCR e como estes estão sujeitos a erros;

d) não apenas por não terem sintomas (como tosse), os autores afirmam que a duração de libertação de RNA viral é mais curto em pessoas assintomáticas, decorrendo daí que estas são provavelmente menos infecciosas do que aquelas que apresentam sintomas;

e) os autores destacam um estudo de prevalência na cidade de Wuhan (10 milhões de habitantes) onde não se encontrou evidências de transmissão assintomática;

f) e, last but not the least, os autores alertam para a necessidade de cuidados suplementares para os assintomáticos e os pre-sintomárticos (o que, na prática, coloca todas as pessoas que não apresentem sintomas de doença) a terem especial cuidado na lavagem das mãos e na distância social. Não referem as máscaras faciais. 

Talvez, sejamos benevolentes, o nosso Nefando tenha feito este "cherry picking" de modo involuntário. Talvez só consiga ler um parágrafo em inglês de mês a mês, Pode ser que no próximo mês leia o seguinte, de sorte que, lá para o Verão, entenderá o artigo. 



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