quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

DO POST DIDÁCTICO PARA ESTIMAR O GRAU DO ACTUAL CAOS

Quando se deseja estimar rapidamente o excesso de mortalidade, geralmente calcula-se a média de óbitos num determinado período (asumindo ser o valor expectável)  e compara-se com o valor observado. Se fizermos isso para os primeiros 20 dias de Janeiro, verificamos que já se contabilizaram 11.849 óbitos, o que contrasta com 7.905 óbitos na média dos últimos cinco anos (2016-2020).

Nesta óptica, e tendo conta os óbitos atribuídos à covid (2.714), teríamos um excesso de mortalidade de 3.944 óbitos, dos quais 1.230 óbitos por causas não-covid.

Tanto um número (covid) como outro (não-covid) já são bastante elevados, mas a não-covid (numa altura em que a vaga de frio parece ter já passado), tem assumido valores elevadíssimos, como se pode constatar nos 721 óbitos totais no dia de ontem (143 óbitos a mais do que o recorde até finais de 2020).

Porém, a mortalidade não-covid será ainda muitíssimo suiperior. Terrível, na verdade, porque demonstrativo dos efeitos colaterais de um SNS comatoso há meses. 

Sigam o meu raciocínio.

No Inverno, é comum, mesmo antes da covid, surgirem surtos gripais mais agrestes nuns anos do que noutros. Por exemplo, pegando nos primeiros 20 dias de Janeiro dos anos de 2009 a 2020 (antes da covid), encontram-se variações entre 6.726 óbitos (2016) e 8.870 óbitos (2017). A diferença, enorme (2.144 óbitos de diferença) é muito simples de explicar: o surto gripal em 2016 foi fraco; em 2017 foi forte.

Ora, a actividade gripal é um dos factores mais determinantes para as variações da mortalidade no Inverno. E sabemos também que a actividade gripal em 2021 é fraca, porque a covid tem sido muito forte e os casos de gripe e doenças respiratórias estão a níveis até mais baixos do que em 2016. Na verdade, mesmo assim, pode-se dizer, para efeitos deste meu raciocínio, que o ano de 2021 deveria estar a ser como o ano de 2016 a que se acresce a covid (o que não é pouco).

Simplificando, a mortalidade para 2021, no período em análise, deveria ser o seguinte:

M2021 = M2016 + Mcovid = 6.726 + 2.714 = 9.440 óbitos.

Porém, aquilo que se registou, até ao dia 20 de Janeiro, foram 11.849 óbitos. Isto é, uma diferença de 2.409 óbitos entre aquilo que seria expectável e o que se observa.

Em suma, estamos a ter, num período em que a covid está a matar quase três vezes mais do que em Outubro (a taxa de mortalidade diária dos internados passou de 1,5% para os actuais 4%), por causa do caos nos hospitais, e em simultâneo, esse mesmo caos, resulta numa mortalidade acrescida por outras causas da ordem dos 2.409 óbitos. E ainda por cima distribuídos por todas as idades acima dos 45 anos, embora com maior particularidade naqueels com mais de 85 anos (os tais que se queria proteger da covid).

Em suma, este é o triste resultado de uma estratégia política de conter a pandemia sem qualquer aposta num investimento reforçado no SNS, antes pelo contrário: assistiu-se a uma redução do número de médicos e à suspensão de consultas, diagnósticos e cirúrgias, deixando uma franja enorme de pessoas em grande vulnerabilidades neste Inverno, tanto para enfrentar uma infecção pelo SARS-CoV-2 como ourtra qualquer mazela ou doença.

O resultado está assim à vista, e só surpreende quem fez ouvidos moucos ao que eu e alguns outros foram alertando desde o início da pandemia: bastaram 20 dias de 2021 para termos um excesso de mortalidade de 2.714 óbitos por covid e 2.409 óbitos por causas não-covid. 

E a tudo isto, o Governo limpa as mãos, limpa as mãos por estas 5.123 vidas perdidas, culpando simplesmente as próprias vítimas e todos os portugueses. E sobretudo colocando os portugueses uns contra os outros. 

E o mais lamentável deste desastre é que vai continuar. E o "circo" também.

Fonte: SICO-eVM.



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