Era bom que as pessoas acordassem e não pensassem que a subida de mortes nas últimas semanas é só por causa da covid, e que foi tudo por causa dos convívios natalícios. Não sejam ingénuos. O SARS-CoV-2 está a fazer o seu curso, independentemente de lockdowns e restrições. Meter gente em casa, com a prevalência em 5% vai só piorar todos nas próximas semanas.
Daqui a poucos dias, para nosso triste lamento, Portugal vai ultrapassar a Suécia em mortes de covid por milhão de habitantes. A Suécia, o patinho feio, que, bem vistas as coisas, geriu a pandemia com racionalidade, com erros mas com resultados muito satisfatórias (escreverei mais detalhadamente ainda hoje). A partir dessa quero saber a opinião daqueles que sempre julgaram assassina e iresponsável a estratégia gizada por epidemiologistas com formação à séria. Nós, não temos epidemiologistas de formação e acção; temos apenas investigadores de epidemiologia, e muitos ad hoc.
Neste momento, confesso, que não tenho qualquer proposta para solucionar um beco sem saída. Espero que a meteorologia ajude. Espero que venha algum bom senso (optando-se por soluções como as propostas pelo ex-bastonário da Ordem dos Médicos, de reduzir os internamentos com base em decisões clínicas e não por testes PCR).
Mas tem de ser feito mais, e sobretudo pels outras doenças. Tem de se ganhar a confiança para as pessoas regressarem às urgências em caso de necessidade. Morrem pessoas por medo de irem às urgências. Isrto é terrível, e foi o discurso de medo da Imprensa com a satisfação do Governo.
Não se pode continuar a assistir impávido a uma carnificina atroz, entre mortos por covid e por aquilo que calhar. Ontem à noite estive a actualizar os gráficos da evolução da mortalidade desde io início de 2020, e é impressionante a escalada dos óbitos a partir do Natal (ou seja, antes de eventuais infecções resultarem em casos positivos). A rampa criada em Janeiro, sem fim à vista, faz as ondas da Primavera e do Verão pareceram planas.
Não pensem jamais que a culpa é do SARS-CoV-2 ou dos beijos e abraços. A culpa é da falta de estrutura para encaixar um surto invernal da covid, acrescido das debilidades exacerbadas pelo Inverno, ainda mais este que trouxe uma vga de frio. O Governo disse que tinha 17.000 camas para a covid. Não tinha. Não teve um plano de contingência para a vaga de frio. Andaram velhotes a morrerem como tordos. Desde o início do ano, só daqueles que tinham mais de 85 anos foram mais de 5.000; mais de três mil com idades entre os 75 e 84 anos. Nos primeiros 19 dias de Janeiro temos uma média de cerca de 580 óbitos por dia. Reparem que o mês de Setembro, o menos mortífero, tem uma média de 270 óbitos,. Considerem que quase não há gripes e pneumonias. Considerem também que o frio fragiliza qualquer doente, e que a eficácia do tratamento nos hospitais em relação à covid está três vezes pior do que em Outubro.
Não acordem. Não exijam ao Governo responsabilidades,. Continuem a pensar que tudo foi culpa dos abraços e beijos no Natal. Continuem assim que vamos ter todos um lindo "enterro". Ou nem isso.
Sem comentários:
Enviar um comentário