domingo, 10 de janeiro de 2021

DO CHOVER NO MOLHADO COM MAIS UM GRÁFICO QUE A IMPRENSA "STRAIGHT" NUNCA COMPREENDERÁ

Falar na mortalidade em ano de pandemia sem considerar, por exemplo:

a) que em 1960, Portugal tinha 8,85 milhões de habitantes, e agora tem 10,27 milhões (+ 16%);

b) que em 1960, Portugal tinha 711 mil pessoas com mais de 65 anos (8% do total), e agora tem 2,3 milhôes (22% do total), ou seja, aumentou cerca de três vezes o número da sua população idosa.

c) que em 1960, a esperança média de vida era de 63 anos, e que agora aproxima-se dos 82 anos (aumento de 19 anos de vida;

dizia eu, que falar dos efeitos da pandemia sem considerar isso (e contabilizando apenas mortes absolutas e ficando chocado com a quantidade de idosos que perde a vida; e perdem a vida cada vez mais de outras doenças não-covid), é ostentar um atestado de ignorância. 

Se quiserem ter uma percepção do efectivo impacte da pandemia da covid num contexto histórico (vá lá, de 60 anos), um indicador interessante é o índice de mortalidade total face à população idosa (neste casos de mais de 65 anos). Atenção: não é uma taxa directa de mortalidade, mas sim um indicador da incidência da mortalidade que permite "atenuar" o efeito envelhecimento num eventual aumento da taxa de mortalidade.

Ou seja, mesmo que haja uma tendência de aumento absoluto da mortalidade, se essa situação ocorrer sobretudo por via do envelhecimento da população (e por um menor número de nascimentos), este indicador pode perfeitamente mostrar uma "saudável" tendência decrescente. Ou seja, um aumento da taxa de mortalidade nem sempre corresponde a um agravamento das condições de vida (e de morte). Aliás, será estúpido achar que estamos agora pior por termos uma taxa de mortalidade de 12 por mil do que nos anos 80 quando estava abaixo dos 10...

Sendo assim, vejam como evoluiu este índice de mortalidade entre 1960 e 2020, e sobretudo o pequeníssimo crescimento causado pela pandemia (covid e efeitos colaterais) em 2020 face ao anos imediatamente anteriores. Houve apenas um pequeno aumento de 48,9 óbitos totais por 1.000 idosos em 2019 para 53,8 em 2020, mas esse valor está ao nível do verificado em 2010. A subida em 2020 está longe de ser catastrófica, e nem pouco mais ou menos. Aliás, amanhã falarei dos meses mais mortíferos desde 1960...

Mas sobretudo notem como estavam os valores na primeira década do presente século, ou nos anos 90. Isto já sem falar nos anos do Estado Novo.

Achar que vivemos um período jamais visto, é sobretudo mostrar ignorância sobre a História. Vivemos na melhor das épocas para vencer uma pandemia, com recurso à Racionalidade e à Ciência, mas infelizmente, com a ajuda da Imprensa, os Governos lançaram-nos numa deriva típica da Idade das Trevas onde o pânico e medidas obtusas matarão mais do que a doença.

Fonte: Eurostat (mortalidade mensal em Portugal entre 1960-2018) e SICO-eVM (mortalidade em Portugal em 2019 e 2020); Banco Mundial (população total e população com mais de 65 anos entre 1960 e 2019).



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