domingo, 31 de janeiro de 2021

DA ANALOGIA

O Governo português quis controlar uma cheia rezando para Nossa Senhora controlar as nuvens. E foi alegremente construindo no vale. Até que chegou Janeiro de 2021.

DA DESGRAÇA DO AMAZONAS EUROPEU

Continuem a achar que o Governo não tem de nos dar satisfações sobre o que se passa nos lares. Continuem a achar que o Serviço Nacional de Saúde (SNS), enfim, está a trabalhar bem, e que era suficiente se não fosse o Natal, se não fosse a variante inglesa, se não fosse o mau comportamento dos vizinhos, se não fosse a existência de doentes... 

Lancem loas ao Governo. Cantem ditirambos ao António Costa. Teçam elegias aos mortos, mas só se forem covid. Componham acrósticos em louvor de Marta Temido. E não se esqueçam também de uma odes ao Prof. António Costa Silva por ter dedicado 3 páginas de generalidades sobre Saúde de entre as 142 páginas da Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, com que o Governo nos entreteve durante o Verão enquanto NÃO reforçava o SNS.

Enterrem a cabeça na areia, enquanto se enterram e cremam muitos que não deveriam morrer se tivêssemos um Estado decente. 

Hoje já alcançámos o México. Amanhã seguir-se-á a Espanha. E mais a Croácia e o Perú. Nos seguintes, logo se verá; porém, sempre a subir.

Amanhã, segundo as minhas previsões, bateremos um novo recorde diário. A culpa não é do Governo. É dos mortos. E dos vivos. Mas nunca do Governo. Culpar Governos, só nos confins da Amazónia. E, contudo, Portugal está pior do que Manaus. Não parece, mas está.





DA AREIA PARA OS OLHOS, DOS FRETES DA IMPRENSA E DO DESCALABRO NOS LARES

A culpa foi do Natal, diz a Imprensa. A culpa é da variante inglesa, diz a Imprensa. E diz agora ainda, a Imprensa, que a variante inglesa está a atacar mais as crianças (vd. em baixo, notícia do inenarrável Público). 

Vá! Praticamente não há crianças a morrer de covid (até agora morreram três pessoas com menos de 20 anos, o que é 0,00015% de taxa de mortalidade), mas isso não interesssa nada. Também não interessa que num Janeiro de descalabro total, com dias sucessivos de mais de 700 mortes por todas as causas, o grupo etário dos menores de 25 anos até esteja com uma taxa de mortalidade abaixo da média. Isso não interessa. Ponha-se aí mais pânico. Em tudo. Ponham mais medo. Em todos. Ponham as pessoas a nem sequer questionar porque existem tantas mortes em Portugal por covid, quase todos idosos; a nem sequer reparar que estamos agora com níveis de mortalidade cinco vezes superiores ao Brasil; e que mesmo em Manaus (Amazonas), onde a situação é tenebrosa, afinal a mortalidade é semelhante à do nosso país. 

Existem dois motivos para o descalabro português. Primeiro, o colapso do SNS. Tenho aqui apresentado evidências da perda de eficácia no tratamento da covid. Em Dezembro morriam 25 pessoas por cada mil internados; agora morrem quase 45 por cada mil internados. Todos os dias são mais de 120 mortes a mais por causa desse colapso.

O segundo motivo é insusportavelmente silenciado: os lares, cujos utentes integram (diria quase na totalidade) o grupo dos maiores de 80 anos. Estive entretanto a calcular a taxa de incidência em Janeiro de 2021 (até dia 29) dos novos casos positivos por grupo etário. Pasmo! 

Minhas senhoras e meus senhores, o grupo etário mais atingido durante o mês de Janeiro é o dos maiores de 80 anos (35,7 casos por mil pessoas deste grupo etário), ligeiramente superior ao grupo dos 20-29 anos (35,6 por mil). 

Notem que a taxa de incidência, a partir dos 20-29 anos, se reduz nos grupos etários subsequentes até estancar nos 19,7 casos por mil no grupo dos 70-79 anos, o que se relaciona com questões de mobilidade e grau de contacto social. Assim, seria suposto que o grupo seguinte (maiores de 80 anos) tivesse uma incidência ainda menor; porém, em vez disso, apresenta a maior incidência de todos os grupos etários. Isso indicia, sem dúvida, que o problema advém dos lares, que, neste momento, serão autênticos "antros de covid", em descontrolo absoluto. E ninguém quer saber. 

O Governo não divulga o que se passa nos lares, a Imprensa não pergunta. Não se sabe quantos idosos dos lares estão infectados, quantos destes morrem em cada dia. Nada se sabe. Os velhos mortos dos lares, esses, vão-se somando, anonima e silenciosamente, e servindo somente para alimentar o pânico, de modo a se aceitarem todas as restrições e imposições de um Governo responsável por uma das gestões mais vergonhosas da pandemia a nível mundial. 

Portugal, por causa do caos do SNS e da falta de protecção eficaz dos lares, arrisca a tornar-se em breve um dos piores países afectados pela covid. Está, neste momento em 16º lugar (excluindo pequenas nações com menos de 1 milhão de habitantes), mas em menos de uma semana entrará no lamentável top-10. E se tudo continuar como está só pode piorar. Perdeu-se o controlo de uma doença controlável. 

O Ministério Público, se não estiver manietado, deveria abrir um processo de averiguações à gestão da pandemia nos lares. Já. E ja se faz tarde.



sábado, 30 de janeiro de 2021

VÍDEO 5 - DA EVOLUÇÃO DAS TAXAS DE MORTALIDADE EM PORTUGAL O IMPACTE DA PANDEMIA EM 2020 /

 


DA LÓGICA DA BATATA

A médica Isabel do Carmo, 80 anos, com um passado político conhecido, foi entrevistada na SIC, depois de um artigo de opinião no Público, que relatava a sua experiência de internamento de 10 dias no hospital depois de ter sido infectada pelo SARS-COV-2 num encontro familiar de Natal. No mesmo encontro, fica-se a saber, foi infectado também o seu ex-marido, Carlos Antunes, seu "companheiro de armas", 82 anos, que acabaria por falecer. Tinha, pelo que ela disse, um cancro no fígado.

Aquilo que sucedeu à sua família foi uma fatalidade, embora o seu tom não transparecesse - até por na parte final da entrevista ela se ter quase regozijado se ter lembrado de meter livros na mochila para o internamento. Mas, na verdade, a única coisa ilógica que assisti na entrevista foi o jornalista Miguel Ribeiro rematar:

"Isabel, muito obrigado por ter partilhado connosco a sua experiência, e que nos sirva de lição, também a muitos que têm andado distraídos porque as ruas ainda estão com gente e mais".

Sinceramente, não entendo esta lógica da batata. Este incitamento às pessoas para não andarem na rua é completamente absurda. Mais ainda sabendo o caso concreto que acabara de ser relatado.

Link para a entrevista na SIC, aqui.

DA NOVA PREVISÃO (29/1/2021)

Aqui segue a habitual previsão diária. Tendo em consideração que ontem o valor indicado pela DGS foi menor do que a minha previsão, significa um sinal menos negativo. O aumento dos internamento, conjugando com essa situação, leva a um aumento da variação possível no número de óbitos entre 281 e 315 óbitos. Se ficar abaixo dos 281 será um reforço para uma tendência de decréscimo (e melhoria da eficácia do tratamento do SNS, que bem é necessário.

O segundo gráfico mostra, porém, que estamos ainda muito longe de ficar abaixo dos 200 óbitos.


DAS AMBULÂNCIAS DO SANTA MARIA

Não vi televisão hoje. Alguém me sabe dizer quantas ambulâncias estão estacionadas no Hospital Santa Maria? Devem ser resmas, pelo que vejo das pessoas que estão à espera de ser atendidas nas Urgências (vd. imagem retirada às 00:06)

Link dos Tempos de Espera do SNS, em tempo real, pode ser visto aqui.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

DO CALVÁRIO DO BRASIL OU DA FALTA DE NOÇÃO DO PÚBLICO

O director e jornalistas do Público são tão delicodoces na análise da gestão da pandemia por parte do Governo de António Costa, mas não perdem uma oportunidade de zurzir no Brasil.

Fazem bem em relação ao Brasil, mas não têm noção. É certo que o Brasil, e sobretudo a acção do seu presidente, não é bom exemplo para ninguém, quer na gestão da pandemia quer em tudo o resto.

Mas, caramba! !"Calvário dos brasileiros"? "Sem rumo"?

Caramba! Eu até admitia que se o Público fosse um jornal da Finlândia escrevesse assim sobre o Brasil.

Mas bolas! O Público é um jornal de Portugal!

E Portugal tem 1.168 mortos com covid por milhão; e o Brasil tem 1.043 por milhão.

E Portugal teve um pico diário de mortes (em média móvel de 7 dias) nos 281 óbitos (registado hoje) , enquanto o Brasil tem um pico diário (também registado esta semana) correspondente a 51 óbitos (1064 óbitos para uma população 20,8 vezes maior).

O Público anda a brincar connosco. Não há uma crítica ao Governo de António Costa, mas o Brasil está "sem rumo" e a viver "um calvário", enquanto Portugal está, neste momento, com uma situação mais de 5 vezes pior. 

Definitivamente, o Público, o seu director e os seus jornalistas, já nem têm noção sequer que vivem em Portugal. Ou então pensam que o jornal se chama Acção Socialista.  

DO CONFINAR PARA SE MORRER LONGE DO SNS

 Vamos ser claros: o medo mata! O implícito ou explícito incitamento para não se ir ás urgências, com imagens de falsos entupimentos de ambulâncias por problemas de logística, também mata. As campanhas da DGS para não se ir a correr para as urgências, sabem o que fazem? Matam!

Acham que fugir do risco de forma irracional, salva? Não salva! Mata! 

Ponho estas exclamações para ver se as pessoas acordam. A estratégia que se anda seguir, sustentada no obscurantismo da informação (ninguém sabe o que se passa nos lares, que andam a alimentar as morgues) e na manipulação das massas (com matemáticos de serviço a debitar projecções sem jamais se conhecerem os pressupostos nem serem divulgadas), só anda a piorar as coisas. Só anda a matar mais..

Querem saber quanto anda a matar o medo, os confinamentos à maluca e a fuga às urgências? Basta ter um breve olhar para os mortos que ocorrem no próprio domicílio. 

Num ano médio, e com gripe (atenção!, e este ano não temos gripe), morrem por dia entre 100 e 115 pessoas no próprio domicílio. Este ano já chegámos aos 174 num dia. E desde o dia 10, altura em que o pânico se reinstalou) quase sempre se ultrapassam os 140-150 óbitos no domicílio. 

Apenas entre os dias 11 e 28 de Janeiro, a excesso de mortes ocorridas no domicílio foi de 46% em relação à média. 

Caríssimos, são 46% a mais. Foram mais 868 mortes apenas neste período, Parece-vos agora pouco comparado com os quase 300 de covid, não é? Mas esses da covid estão a morrer nesse número em grande parte pela perda de eficácia do SNS, que em Dezembro "deixava" que morressem por dia 25 pessoas em cada 1.000 internados, e agora "deixa" que se chegue aos 45 por cada 1.000 internados.

Mas vejam também a questão por outro prisma: deduzindo que o excesso de mortes no domicílio não foi por covid (supostamente, estas ocorrerão em meio hospitalar), pergunto-me quantas destas vidas poderiam ter sido salvas nas urgências, num ambiente sem medo e com um SNS em boas condições.

Continuo a insistir: temos duas pandemias: a covid e o estado do SNS, sendo que o estado do SNS exacerba a mortalidade do SARS-CoV-2 e a mortalidade por outras causas. E até agora não há ninguém responsável. Quer dizer: são todos os portugueses em geral, e nenhum em particular... além claro, agora, da variante britânica.

VÍDEO 4 - DA FUGA ÀS URGÊNCIAS

Novo vídeo no canal do Youtube, desta vez sobre os efeitos da fuga às urgências hospitalares em Janeiro de 2021.

Podem também subscrever o canal.

DA FUGA ÀS URGÊNCIAS OU DO COMO MORRER PELO MEDO

Durante o mês de Janeiro de 2021, e com uma vaga de frio à mistura e uma sociedade com meses de falta de assistência adequada pelo SNS, as urgências continuaram afluxos extremamente baixos. Morrem 700 pessoas por dia durante mais de uma semana e as urgências têm sempre menos pessoas do que nos dias mais calmos da pré-pandemia.

Sucede que as descidas não são apenas nos casos não-urgentes. São também nos números de casos de emergência (pulseira vermelha) e muito urgentes e urgentes (laranja e amarela), deduzindo-se assim (posto de parte que o Povo não anda mais saudável) que as pessoas, mesmo com sintomas graves, fogem das urgências como diabo da cruz. E muitos... morrem por medo da covid.

DO CONVIDADO INDESEJADO

António Costa anunciar ao Mundo que os portugueses não vão visitar os outros países nos próximos tempos é o mesmo que eu vos anunciar que não vou visitar a Sara Sampaio à sua casa.



DO TRABALHO

Uma grande parte das análises que tenho vindo aqui a apresentar sobre a pandemia e tudo o resto, acabam por se inserir no âmbito de um projecto onde tenho estado associado ao ISCTE.

Esta tarde vai ser apresentado muito sucintamente alguns dados e análises desse projecto (embora apenas preliminares) durante o evento anual do CIES-Iscte, desta vez subordinado ao tema Trabalho Científico e Pandemia.

Em formato exlusivamente online (Zoom), a participação é livre e gratuita. 

A parte em que me íntegro deve começar por volta  das 16h00 horas, e será apresentado pelo Pedro Adäo e Silva. Além dele e de mim, nesta equipa estão ainda o Daniel Carolo e a Tatiana Marques.

Podem acompanhar aqui no Zoom.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

DO X E DO Y OU DA PARVALHEIRA JORNALÍSTICA

Portanto, temos Dulce Salzedas, jornalista-especialista em Saúde da SIC, que nos diz que com a variante inglesa a nossa capacidade de transmissão do SARS-CoV-2 passou a ser de "X+Y" pessoas.

Vou aqui tentar resolver este problema:

Portanto, não sabemos bem qual o valor de X nem sobretudo de Y (acréscimo da variante inglesa), mas vamos assumir que X+Y = Z

porém sabemos também que Z = X+Y, donde resulta que Y = Z-X 

sabemos também que Z = W+V, embora também não saibamos quanto é W nem V; porém, mesmo assim permite-se saber que

X+Y = W+V, donde resulta que o Y = W+V-X

Também sabemos que W = P-R

e que

V = 2A+4T-(5/L), daqui resultando que

Y = P-R+2A+4T-(5/L)-X

E já está! Só ficamos a não saber os valores de P, R, A, T, L e X... Mas vamos saber um destes dias... com especialistas.

DAS CULPAS

Primeiro, a culpa era dos portugueses. Agora é da variante inglesa.

Claro que a culpa de o actual grau de mortalidade da covid em Portugal ser 35 vezes maior do que na Finlândia, ou três vezes maior do que na Espanha ou na Itália NÃO é por termos um SNS de merda, pois não? E muito menos do Governo, não é?

VÍDEO 3 - AS DUAS PANDEMIAS: PORQUE ESTÁ A COVID A MATAR TANTO EM PORTUGAL?

 Novo vídeo no canal do Youtube, desta vez sobre os indicadores de eficácia do tratamento dos doentes.-covid, que me têm permitido estimar os óbitos por dia.

Podem, obviamentem divulgar e subscrever o canal.



DA SUÉCIA, ESSE PAÍS COM EPIDEMIOLOGISTAS A SÉRIO, QUE NÃO USOU MÁSCARAS, QUE NÃO CONFINOU, QUE DIZIAM QUE MATAVA VELHOS, QUE... AFINAL ESTÁ JÁ MELHOR QUE PORTUGAL NA COVID E EM TUDO O RESTO

O título é grande, mas é propositado. Não há muito a dizer. Apenas  relembrar que nem sempre aquilo que parece, é. Não é por um Governo andar num corrupio de declarações televisivas, num  frenesim de papel que nos leva a um Estado autoritário, não é por se criar condições psicológicas colectivas que impelem as pessoas a ser polícias de costumes dos outros, não é com estratégias absurdas que se consegue vencer uma pandemia.

A Suécia bem avisou que a pandemia não era um sprint, mas sim uma maratona. Portugal andou a vestir-se de lebre, quando não passa de um caracol com um SNS tão sólido como a casca do gastrópode.

Além disso, a Suécia não está com sobremortalidade não-covid, ao contrário de Portugal. 

Ah, e já agora, o Brasil e a França, em mortes-covid por mihão, já estão atrás de Portugal. 





DO CONTÍNUO E MORTÍFERO CAOS

Como sabem tenho apresentado previsões diárias sobre a mortalidade-covid, com base em dois modelos expeditos, um dos quais baseado na taxa diária de mortalidade dos internados.

A degradação da eficácia do tratamento é evidente e assustadora. O gráfico que vos apresenta mostra que a taxa está a subir ininterruptamente desde o início do ano, agravando ainda muito mais o crescimento dos internados. Está, neste momento, no máximo, o que vai garantir, infelizmente, uma mortalidade elevadíssima nas próximas semanas.

Basicamente, o que o gráfico mostra é, por exemplo, que no início de Janeiro, morriam 24 pessoas por cada mil internados-covid; mas ontem morreram 45 pessoas por cada mil internados-covid. Isto é um claro sinal de colapso: não é só o vírus que está a matar; é a perda repentina de eficácia do SNS.

As minhas previsões para hoje indicam uma manutenção da mortalidade-covid acima dos 300 óbitos: 301, segundo o modelo da taxa de miortalidade; 305, segundo o modelo da linha de tendência.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

DO ENFADO AO NEFANDO

DO ENFADO AO NEFANDO / Eu sei, a culpa é minha. Toda minha. Quando se escolhe como contendor um tipo que aos 31 anos ficou na 248ª posição no internato de Medicina Geral e Familiar (e que, cinco anos antes, terminara a licenciatura num honroso 422º lugar, ex-aequeo, de entre 1.379 finalistas) não se pode augurar um debate lúcido, íntegro e justo. Levantei uma pedra e, em vez de sair de lá um lacrau (menos mal), saiu-me uma poia, que nem exoesqueleto possui, quanto mais coluna vertebral.

No boteco do Nefando não se destila só ódio requentado. Refina-se requintada maledicência, lapida-se as mais puras mentiras.

Que interessa ao Nefando se eu, desde Março, assumo que a covid é uma doença perigosa para os mais idosos, e que o grande problema, nunca controlado, se encontra sobretudo nos lares? 

Que interessa ao Nefando que eu tenha feito um "statement" em Maio de 2020, manifestando a minha posição, e que se mostra inalterada e inatacável? 

Que interessa ao Nefando que em 4 de Novembro eu tenha, além de recordado esse "statement" (para manifestar que nada mudara na minha posição), alertado para a degradação da situação portuguesa em relação à covid e aos efeitos de um SNS comatoso, como agora se encontra patente? 

Que interessa ao Nefando que todas as minhas análses e opiniões tenham sido no sentido de um enquadramento da doença num contexto de Saúde Pública, nunca tendo embandeirado em arco sobre o suposto "milagre lusitano" na contenção da primeira vaga?

Que interessa ao Nefando que eu integre uma equipa multidisciplinar de académicos que está a estudar os impactes da pandemia nos lares?

Nada lhe interessa. Nada lhe interessa sobre que escrevo, e como escrevo, e sobretudo como analiso. Nada interessará ao Nefando, cuja cabeça tem tantos neurónios como o seu umbigo.

Só lhe interessa meter debates em chafurdeiros, onde se sente como peixe na água. 

Eu já tinha aceitado, enfim, conviver com um tipo que faz queixinhas (como os putos), mas já não tolero que deturpe vergonhosamente as minhas posições e que, não satisfeito, altere o sentido daquilo que escrevo, como fez com um post recente. Onde aviso que os dados da Suécia estão sujeitos a alteração, mas que não deveriam, depois dessa operação, ultrapassar os valores da Espanha, contrapôs ele uma montagem malfeita de um gráfico onde surge a Suécia com uma média de 97. Mentira. Os dados da Suécia foram rectificados, como avisei, mas passaram dos 19 (inicialmente indicados por mim) para os 23 (imagem 3, agora retirada do Worldometer).

Perante isto, já não há irritação possível. Apenas enfado.

Deixou de ter piada, para mim, ter como entretém o Nefando e mais suas torresmadas. Desisto. Deixo a serpente sozinha, mais as suas crias e a sua língua. Que cuide dos dentes. Não por causa de cáries, mas para não se morder, 

Adeus. Nem mais uma linha para o Nefando.



DOS INCÊNDIOS E DA PANDEMIA

Ciclo encerrado no meio da locura pandémica, e enquanto em simultâneo preparo o doutoramento: com a apresentação da tese, terminei hoje o Mestrado em Gestão e Conservação dos Recursos Naturais, no Instituto Superior de Agronomia e Universidade de Évora. Esta última já era a minha alma mater (Engenharia Biofísica), e a primeira junta-se ao ISEG (Economia e Gestão). Seguir-se-à, agora, o ISCTE.

Pode causar confusão a muitos que, ponderado tudo isto, ainda esteja agora a "botar postas de pescada", segundo alguns, sobre os efeitos da pandemia e sobre políticas públicas na Saúde, e estar mesmo no projecto com ligações ao ISCTE sobre estas matérias.

Na verdade, aquilo que todas estas formações me têm ajudado é sobretudo uma melhor compreensão do mundo, e como ele funciona em repetição.

Por exemplo, cada vez encontro um maior paralelismo sobre os incêndios florestais - tema do meu mestrado e área sobre o qual me estou a debruçar no doutoramento - e a pandemia da covid.

Se nos incêndios, quando algo corre mal, os Governos culpam o tempo quente e seco do Verão; 

                    agora, na pandemia culpa-se o Inverno e o vírus.

Se no Verão, um incêndio se descontrola, a culpa é atribuída ao vento e não á incapacidade do combate e das estratégias de prevenção; 

                    agora, na pandemia, a culpa é dos doentes e nunca da incapacidade do SNS em se preparar para surtos e aguentar minimamente a sobrecarga de doentes com exigências de logística distintas da "normalidade"

Se no Verão, ocorrem grandes incêndios que chamam a atenção até internacional, o Governo culpa os supostos incendiários e nunca as falhas de um sistema corroído de interesse de capela;

                    agora, na pandemia, a culpa é dos portugueses que se deixaram infectar (mesmo se o Consellho de Ministros têm uma taxa de incidiência 6 vezes supeerior ao do povo; 35% vs. 6%) e não de um SNS que entrou em completo colapso quer para tratamento dos doentes covid quer dos outros.

Tanto num caso como no outros, estamos apenas perante um só problema: gestão. Ou mehor, ainda outro: incapacidade de assumir responsabilidades.

E sabem numa outra coisa que há também paralelismo? Nos incêndios também se pensa que as coisas se resolvem no futuro com diplomas legais. E já não falo apenas na gestão da pandemia que anda a produzir mais normas do que acções; falo sim na quantidade de diplomas que serão produzidos para anunciar um SNS melhor e mais eficaz. Isso geralmente é feito após anos catastróficos nos fogos. E resultam? Claro que não. Resultam até á próxima catástrofe.

Nota 1: Esta nota serve para anunciar a nota. A tese ficou-se pelo 18; a média pelo 17. Não é a perfeição, mas é o melhor que se vai conseguindo.

Nota 2: Agradecimentos especiais aos meus orientadores da tese: Teresa Ferreira e Francisco Moreira.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

DA SIMPLES CAUSA E ESPERADO EFEITO DO CAOS

Isto é muito simples de ver: em 1 de Outubro havia um pouco mais de 600 internados e morreram 6 pessoas nesse dia.

Hoje, que temos 10 vezes mais internados do que no dia 1 de Outubro, não estão a morrer 10 vezes mais pessoas do que no dia 1 de Outubro.

Se assim fosse, estariam a morrer 60 pessoas.

Estão sim a morrer quase 300. 

Quase 5 vezes mais. Se formos complacentes, quase o dobro do que se esperaria com a eficácia duante o mês de Dezembro, quando se tinha cerca de 3.000 internados.

Não consta que o vírus se tenha tornado mais letal. Aquilo que está a suceder é a consequência da falta de investimento do SNS, a falta de médicos, de enfermeiros, enfim, a falta de preparação do Governo. 

Veja como foi evoluindo perigosamente a taxa de mortalidade diária dos internamentos, até ao colapso absoluto a partir do início de Janeiro.

Fonte: DGS (cálculos meus; média móvel de 7 dias)

DA BIPOLARIDADE, DO CHERRY PICKING E DA VELHA QUESTÃO DOS ASSINTOMATICOS

Para se ser Nefando ajuda ser bipolar. Por exemplo, há dias em que o Nefando acorda e acha que uma revista científica, peguemos na BMJ como exemplo, é óptima como "arma" para chamar dealer a um digno professor catedrático jubilado, especialista em Saúde Pública (e que não deve ter ficado no 248º lugar do seu internato, presumo). 

Noutros dias estremunha, porém, o Nefando. e vai de zurzir num editor da mesma BMJ, Peter Doshi, também professor da Universidade de Maryland, só porque, enfim, este coloca reservas sobre a eficácia das vacinas da Pfizer e da Moderna, e exige mais dados (vd. aqui).

Também sucede ao Nefando, além da bipolaridade, ser propenso ao famigerado "cherry picking", i.e., lê o que lhe interessa; suprime o que o incomoda. 

Há dias, no tal ataque ao digníssimo professor catedrático jubilado, o Nefando cita um artigo da BMJ ("Asymptomatic transmission of covid-19"), da autoria de Allyson M Pollock e James Lancaster (vd. aqui), transcrevendo até um parágrafo inteirinho em inglês. Nesse parágrafo, efectivamente refere-se que uma parte (49%) dos assintomáticos acabam por desenvolver sintomas. Embrulha lá, Torgal!

Sucede, contudo, que, no mesmíssimo artigo, e logo nos cinco parágrafos seguintes, surgem informações que, enfim, colocam em causa toda a teoria "nefandesca" em redor dos "perigosos assintomáticos" e dos testes PCR, a saber:

a) a única forma de detectar o vírus é através de cultura viral, e que os testes PCR (e outros) não distinguem se o vírus está activo (live vírus);

b) uma pessoa com um resultado positivo num teste PCR pode ou não ter uma infecção activa e pode ou não ser infecciosa;

c) são feitos alertas muito consistentes sobre os ciclos (Ct) dos testes PCR e como estes estão sujeitos a erros;

d) não apenas por não terem sintomas (como tosse), os autores afirmam que a duração de libertação de RNA viral é mais curto em pessoas assintomáticas, decorrendo daí que estas são provavelmente menos infecciosas do que aquelas que apresentam sintomas;

e) os autores destacam um estudo de prevalência na cidade de Wuhan (10 milhões de habitantes) onde não se encontrou evidências de transmissão assintomática;

f) e, last but not the least, os autores alertam para a necessidade de cuidados suplementares para os assintomáticos e os pre-sintomárticos (o que, na prática, coloca todas as pessoas que não apresentem sintomas de doença) a terem especial cuidado na lavagem das mãos e na distância social. Não referem as máscaras faciais. 

Talvez, sejamos benevolentes, o nosso Nefando tenha feito este "cherry picking" de modo involuntário. Talvez só consiga ler um parágrafo em inglês de mês a mês, Pode ser que no próximo mês leia o seguinte, de sorte que, lá para o Verão, entenderá o artigo. 



DO DESASTRE LUSITANO - O VÍDEO

Um vídeo explicativo sobre a situação portuguesa no contexto da União Europeia e dos países com maior mortalidade por covid desde o início da pandemia. Um desastre.

Entretanto, se assim desejarem, podem subscrever o meu canal do Youtube. Tentarei com frequência colocar vídeos explicativos com questões relacionadas com a crise actual.

DO DESASTRE LUSITANO

O nosso Governo e a nossa fantástica Imprensa continuam unidos na construção da Narrativa: tentam agora convencer-nos que a pandemia se descontrolou em todo o lado. E que a culpa é dos casos positivos e dos portugueses. É assim? Não.

Está sobretudo descontrolada em Portugal, e poucos são os países da União Europeia em crescimento da mortalidade. E aqueles que se encontram nessa situação (e.g. Dinamarca, Irlanda e Espanha) estão com níveis proporcionalmente muitíssimo mais baixos.

Estamos com níveis absurdos de mortalidade or covid (o pico já suplantou 5 vezes o pico do Brasil e quase 3 vezes o pico dos Estados Unidos), porque o nosso SNS entrou em colapso absoluto, tanto no tratamento da covid como no das outras doenças. As análises e previsões que tenho feito comprovam isso, com as taxas de mortalidade diária dos internados a mais que triplcarem em relação a Outubro.

Havia 17.700 camas prometidas para a covid? Não havia nada.

Reforço do SNS com um plano Outono-Inverno? Qual quê! Saíram do SNS mais de 900 médicos ao longo de 2020.

Queriam milagres? Saiu-nos o Inferno.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

DA PREVISÃO ACTUALIZADA DE 24/1/2021

Em função do crescimento dos internados, entre os dias 23 e 24, bem como dos óbitos do dia 23, prevejo a possibilidade da mortalidade por covid-19 no dia 24 possa atingir valores em redor dos 284 óbitos, embora o modelo da tendência polinomial (que tem falhado quase sempre por valores abaixo do observado) aponte para valores mais baixos (258 óbitos). 

Chamo, mais uma vez a atenção, que os óbitos estarão bem acima (mais de 100) do que seria expectável se o SNS não tivesse colapsado. Ou seja, se a taxa de mortalidade diária dos internados se tivesse mantido nos 2,5%, como em Dezembro, seria expectável a ocorrência de 150 óbitos. Esta taxa está, actualmente, nos 4,6%.

Continuam as previsões pessimistas para os próximos dias. A taxa diária de mortalidade dos internados continua manifestamente alta, e com a contínua subida dos internamentos, não há qualquer possibilidade de se descer abaixo dos 200 óbitos nos próximos dias. Só por milagre. Baixar os 100 óbitos diários será ainda mais demorado. Mesmo que não entrassem mais internados (impossível, claro), tal objectivo demoraria mais de duas semanas.

O caos do SNS paga-se caro.


domingo, 24 de janeiro de 2021

DO COMPORTAMENTO POVO VS. CONSELHO DE MINISTROS

Desde o início da pandemia, o Povo está com uma incidência acumulada de 6% de casos positivos.

Desde o início da pandemia, o Conselho de Ministros conta já com 7 casos positivos. São 20 ministros (incluindo o Primeiro-Ministro). Contas feitas, é uma taxa de incidência de 35%. Ou seja, quase 6 vezes superior à do Povo.

Quem se anda a portar mal?

DA INTERPRETAÇÃO SOBRE AQUILO QUE SE ESTÁ A PASSAR EM JANEIRO DE 2021

Depois de resolver problemas de aúdio, vou reiniciar vídeos explicativos, com detalhe, sobre a pandemia,.

Desta vez, explico como se deve olhar para o extraodinário aumento da mortalidade em Portugal durante estas últimas três semanas.

DO BRASIL, ONDE SUPOSTAMENTE HÁ UM PRESIDENTE CRIMINOSO, EMBORA PORTUGAL JÁ ESTEJA PIOR

No dia em que Portugal utrapassa o Brasil no número de mortes por covid por milhão de habitantes, e sabendo também que há mais casos positivos acumulados por milhão de habitantes no nosso país, é muito curioso, e revelador da acefalia crítica do jornalismo lusitano, este tipo de notícias. 

Em Portugal, como se sabe, tudo correria bem se os portugueses não se portassem mal. O Governo tem uma "estratégia", os portugueses é que não se encaixam nela. A "estratégia" de António Costa baseava-se apenas em exigir que os portugueses não ficassem doentes; se não houvesse doentes, não havia mortes. A chatice foi os portugueses não se encaixaram nesta douta estratégia governamental. E só por isso, enfim, muitos morreram.


sábado, 23 de janeiro de 2021

DA COVID PORTUGUESA E DA COVID DA EUROPA

Vejam o gráfico. Vejam bem mesmo.

Actualmente, a situação em Portugal, em relação à covid, é complicada. Mas também é bom inculcar-se que o "sucesso" da invasão de um inimigo, mesmo que seja um vírus, depende das nossas capacidade de organização e de defesa.

E vamos ser claros. Portugal é agora, de longe, o país que está em pior situação da UE se considerarmos a mortalidade por covid padronizada à população portuguesa (cerca de 10,2 milhões de habitantes). Está com uma média móvel de 7 dias de 212 óbitos.  Um absurdo. Se excluirmos o Reino Unido, já não pertencente à UE, os países mais próximos são de Leste (a rondar os 140), que não tiveram primeira vaga.

De resto, estamos com mais do dobro das mortes (padronizadas) de países como a Alemenha e a Irlanda, que tiveram um forte aumento de intensidade da covid nas últimas semanas. Estamos com quase o triplo da Itália. Com quase 4 vezes mais do que a Espanha, Nem vale a pena falar da Suécia, que mesmo com as actualizações não ficará acima do nível de Espanha. Da Finlândia então nem vale a pena falar, mas mostra bem como a realidade da covid não é a mesma ao longo da Europa.

Diria que, sendo certo haver um recrudescimento da pandemia (por via da sazonalidade), seria "aceitável" que Portugal estivesse a registar 100-140 óbitos por dia. Mas nada disto está a suceder nas últimas duas semanas, e andamos agora com dias sucessivos a ultrapassar os 200 óbitos diários e a aproximar-se dos 300.

Portugal, o seu Governo e o nosso SNS, estão a falhar rotudamentente ao nível da assistência aos doentes-covid. Não culpem o inimigo, quando as defesas miliares estão a mostrar-se paupérrimas. 

Outros países, no início da pandemia, falharam. Mas aprenderam. Nós não. Não aprendemos e achámos que bastava rezar à Nossa Senhora de Fátima. E o Governo achou que desaparecerem mais de 900 médicos durante o ano passado, ou não investir em mais camas hospitalares, ou em reforço de estudos epidemiológicos, não trazia consequências nefastas.

Além de tudo isto, quase todos os países da UE estão com tendência decrescente, ou seja, o pico desta segunda vaga verificou-se em Dezembro, e estão agora a descer. Portugal está no auge. O dia de ontem atingiu o máximo de sempre e op máximo da média de 7 dias. 

Seria bom que se assumisse que está tudo mal, porque se não servir para remediar este "terramoto", terá de servir para evitar o seguinte. Com outras políticas. Com outros políticos.



DA DESGRAÇA EM DESGRAÇA

Não vale a pena negar: a covid descontrolou-se em Portugal, na mesma linha que se descontrolou na Espanha e na Itália, sobretudo durante a Primavera de 2020, e na Europa de Leste, neste Outono e Inverno. Estamos a bater recordes de mortes em dias sucessivos, a par também de um incremento das mortes não-covid. E temo que Portugal venha a ser um dos países da Europa mais afectados pela pandemia, ultrapassando em muita a própria Espanha. Pior ainda: está com níveis de mortalidade elevada para outras causas.

De facto, o descontrolo é absoluto, msotrando-se evidente no contínuo crescimento da taxa diária de mortalidade nos internados, que começou no início de Janeiro em 2,6% e agora vai nos 4,7%. O perfil dos internados pode agora ser diferente, mas tem reflexos catastróficos no aumento de mortos, que presumo estar a ocorrer sobretudo nas enfermarias. Falta informação, porque em tudo a DGS e o Goveno sonegam informação para que não se revele ainda mais o caos em todo o seu esplendor.

A minha previsão de ontem, embora apontando para novo máximo, falou por bastante (tinha indicadi 241, registaram-se mais 33), revelador do aumento do caos. Para o dia de hoje (resultados a saber amanhã), o modelo da tendência polinomial aponta-me para 244 (mas os resultados de hoje não ajudam para uma previsão) e o modelo da taxa de mortalidade para 281, o que significaria novo recorde.

Não me admiraria nada, caso os internamentos se mantenham em crescimento, mesmo que ligeiro, que cheguemos em breve aos 300 óbitos.

A forma como o SNS não se preparou, fez muito por isto. 

Fonte: DGS


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

DAS PREVISÕES OU DA TRISTEZA EM ACERTAR SOBRE O CAOS

Desde o dia 12 de Janeiro, depois de encontrar dois modelos que me parecem expeditos mas rigorosos (taxa de mortalidade diária dos internados e  uma regressão polinomial grau 2 que relaciona internados com óbitos), tenho apresentado previsões diáriasn sobre os óbitos por covid.

Mais do que andar a ser Zandinga, estes modelos têm-me ajudado (e espero que também a quem me segue) a melhor percepcionar o "grau de caos" do SNS. Por um lado, comparando com as taxas de mortalidade em Outubro e em Dezembro, mostra-se que, se se tivessem mantido esses níveis de qualidade no tratamento dos doentes-covid, estaríamos agora com cerca de menos 100 mortes no segundo caso (Dez), e cerca de 150 mortes no primeiro caso (Out).

Por outro lado, os dois modelos permitem observar que o incremento das mortes por covid não estão apenas relacionado com o número de internamentos, mas sim muito relacionado com o agravamento da taxa de mortalidade diária dos internados, que passou de 2,6% no dia 1 de Janeiro para quase 4,2% ontem. Isto constitui um crescimento brutal, e prevejo que, se isso se mantiver, será preciso descer os internados para níveis inferiores a 5.250 (estão em 5.779) para se conseguer baixar a fasquia dos 200 óbitos diários. Isto demorará muitos e muitos dias, até porque o fluxo de novas entradas (internados) continua a ser superior aos das mortes e aos que recebem alta.

No entanto, cada vez se mostra mais evidente que a "estabilidade" do SNS no tratamento da covid, perante a débil capacidade actual de resposta, só se encontrará quando os internamentos baixarem dos 3.500 internados. Somente nessa altura começaremos a ver menos de 100 óbitos por dia.

Significa que o nível de mortalidade por covid vai-se manter por mais algumas semanas bastante elevado [para amanhã prevejo um novo máximo, em redor de 240 óbitos], não tanto pelo número total de casos positivos (que nada representam sobretudo na população jovem, até pela metodologia e rigor dos testes PCR) mas sim pelo grande número de contaminados com mais de 80 anos, que suspeito (imenso) provenham sobretudo dos lares.

Nos gráficos, mostro-vos o confronto entre as minhas previsões e os registos contabilizados pela DGS desde o dia 13 de Janeiro, bem como os habituais gráficos da previsão do dia de hoje (22/1).



DA IGREJA DA SANTA CACHIMANA OU DA CIÊNCIA A MARTELO

O Excelentíssimo Senhor Doutor João Júlio Milheiro Cerqueira, Omnipotente Pastor da Igreja da Santa Cachimana, vulgo Scimed - Ciência Baseada na Evidência, é homem de Fé, mas com dúvidas. 

Ontem questionou, retoricamente, os seus fiéis sobre em quem confiar: se em "hereges" ou se no European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC); se em "hereges" (onde me incluiu) ou em políticos dos Governos europeus que impuseram lockdowns.

Do alto do seu cachinguento pedestal, trescalou o Excelentíssimo Senhor Doutor a prova irrefutável contra o impenitente "herege", vulgo eu, que consta, enfim, do printscreen de uma notícia do Jornal de Negócios. Bem sabemos que o Jornal de Negócios, tal como outros distópicos órgãos, é a Evidência que faz Luz na Igreja da Santa Cachimana, onde o seu Maioral-Presbítero até consegue, como se confirmou há dias, ler por antecipação relatórios demográficos produzidos no futuro, e não a ser feitos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), como costumeiro, mas sim pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). 

Ora, manifesta-se patente que o Sumo-Sacerdote da Igreja da Santa Cachimana não necessita jamais de ir à Fonte da Sabedoria: neste caso, ler mesmo o relatório do ECDC. Basta-lhe o Jornal de Negócios. E assim faz escusa em ler sequer a página 6 do dito relatório que refere tão-só isto: "Portugal has observed a notable increase in the number of all reported cases of COVID-19 in recent weeks. This increase HAS BEEN ATTRIBUTED [destaques meus] mainly to the relaxing of the NPIs during the end-of-year festive season but also, to a lesser extent, to the spread of the VOC 202012/01 in some regions of the country" (vd. aqui).

Ó pá, deixemo-nos de pormenores gramaticais. O Excelentíssimo Senhor Doutor, também Doutrinador-Mor da Igreja da Santa Cachimana, não é obrigado a ler aporrinhantes relatórios de 29 páginas do ECDC para dar sentenças aos fiéis. Nem tão-pouco tem necessidade em saber línguas de povos bárbaros, de sorte que se mostra irrelevante, excepto ao aporreado Rigor, saber que se uma entidade diz que "tem sido atribuído" uma determinada causa a um certo efeito, não significa que essa entidade a esteja a atribuir ou sequer confirmar qualquer relação. Não digam vós, seguidores do demo, que, se assim pretendesse estabelecer inequívoca relação, o ECDC teria escrito "is attributed" ou "was attributed", em vez de "has been attributed", ou sido ainda mais explícito  com um simples "is", assumindo assim clara relação causa-efeito... Mas, adiante, homens de pouca Fé! Acreditem no Excelentíssimo Senhor Doutor, o Supremo Girigote da Igreja da Santa Cachimana..

De igual modo, o Excelentíssimo Senhor Doutor, com funções de Tanateiro-Chefe da Igreja da Santa Cachimana, não precisa sequer de ler absolutamente nada para garantir que os lockdowns são a Supimpa Maravilha criada por políticos rectos a bem do indisciplinado Povo. Quem não achar ser a primícia maravilha do mundo civilizado é um "herege" que deve morrer na fogueira, com direito a ventilador de uma UCI a bombar por debaixo das brasas.

Aliás, que se cuide o etíope  Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde, pelo ímpio comunicado do passado dia 31 de Dezembro de 2020 onde se refere o seguinte: "However, these measures [lockdowns] can have a profound negative impact on individuals, communities, and societies by bringing social and economic life to a near stop. Such measures disproportionately affect disadvantaged groups, including people in poverty, migrants, internally displaced people and refugees, who most often live in overcrowded and under resourced settings, and depend on daily labour for subsistence. (vd aqui).

Quem não souber traduzir, sempre pode ir perguntar ao presumido Mandraqueiro-Gunga da Igreja da Santa Cachimana, o Excelentíssimo Senhor Doutor João Júlio Milheiro Cerqueira. E levem-lhe 248 caixas de Alka-Seltzer, se faz favor.





DOS NÚMEROS DE 21/1/2021

Seguindo os cálculos que tenho vindo a apresentar em função dos internamentos, da taxa diária de mortalidade dos internados e da linha de tendência entre óbitos e internados, para o dia 21 (ontem), tenho as seguintes previsões:

* Mortalidade entre 226 e 229 óbitos, podendo-se atingir um novo máximo.

A taxa diária de mortalidade dos internados (4,02%) está francamente alta (mas com tendência a estabilizar). Se estivesse ao nível de Outubro, para o actual número de internados, seria previsível a ocorrência de 84 óbitos. Se se considerar a taxa diária em Dezembro seria previsível 141 óbitos.


DOS ESCROQUES

Toda a imprensa nacional, como o Público, divulgou hoje, triunfantemente que o Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) liga o  recente incremento de casos positivos "ao relaxamento no Natal e variante inglesa do vírus".

Mentira pegada. Aldrabice consumada. Criminiosa manipulação. Comensal asco.

O relatório do ECDC, conforme se pode ver na página 6 (vd. aqui),  diz somente isto: "This increase has been attributed mainly to the relaxing of the NPIs [Nonpharmaceutical Interventions] during the end-of-year festive season but also, to a lesser extent, to the spread of the VOC 202012/01 in some regions of the country."

O "tem sido atribuído" não é nem nenhuma certeza, nem o ECDC andou a investigar o caso português nem confirma nem desmente essa associação, que Governo, os consultores da DGS (que não sabem a origem de 87% das infecções) e a Imprensa forçam em atribuir ao Natal e ao suposto mau comportamento das pessoas aquilo que se tornou sobretudo um problema de caos no SNS. 

Tenho a mais completa vergonha deste nosso jornalismo de sarjeta. Shame on you, senhores jornalistas!


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

DO POST DIDÁCTICO PARA ESTIMAR O GRAU DO ACTUAL CAOS

Quando se deseja estimar rapidamente o excesso de mortalidade, geralmente calcula-se a média de óbitos num determinado período (asumindo ser o valor expectável)  e compara-se com o valor observado. Se fizermos isso para os primeiros 20 dias de Janeiro, verificamos que já se contabilizaram 11.849 óbitos, o que contrasta com 7.905 óbitos na média dos últimos cinco anos (2016-2020).

Nesta óptica, e tendo conta os óbitos atribuídos à covid (2.714), teríamos um excesso de mortalidade de 3.944 óbitos, dos quais 1.230 óbitos por causas não-covid.

Tanto um número (covid) como outro (não-covid) já são bastante elevados, mas a não-covid (numa altura em que a vaga de frio parece ter já passado), tem assumido valores elevadíssimos, como se pode constatar nos 721 óbitos totais no dia de ontem (143 óbitos a mais do que o recorde até finais de 2020).

Porém, a mortalidade não-covid será ainda muitíssimo suiperior. Terrível, na verdade, porque demonstrativo dos efeitos colaterais de um SNS comatoso há meses. 

Sigam o meu raciocínio.

No Inverno, é comum, mesmo antes da covid, surgirem surtos gripais mais agrestes nuns anos do que noutros. Por exemplo, pegando nos primeiros 20 dias de Janeiro dos anos de 2009 a 2020 (antes da covid), encontram-se variações entre 6.726 óbitos (2016) e 8.870 óbitos (2017). A diferença, enorme (2.144 óbitos de diferença) é muito simples de explicar: o surto gripal em 2016 foi fraco; em 2017 foi forte.

Ora, a actividade gripal é um dos factores mais determinantes para as variações da mortalidade no Inverno. E sabemos também que a actividade gripal em 2021 é fraca, porque a covid tem sido muito forte e os casos de gripe e doenças respiratórias estão a níveis até mais baixos do que em 2016. Na verdade, mesmo assim, pode-se dizer, para efeitos deste meu raciocínio, que o ano de 2021 deveria estar a ser como o ano de 2016 a que se acresce a covid (o que não é pouco).

Simplificando, a mortalidade para 2021, no período em análise, deveria ser o seguinte:

M2021 = M2016 + Mcovid = 6.726 + 2.714 = 9.440 óbitos.

Porém, aquilo que se registou, até ao dia 20 de Janeiro, foram 11.849 óbitos. Isto é, uma diferença de 2.409 óbitos entre aquilo que seria expectável e o que se observa.

Em suma, estamos a ter, num período em que a covid está a matar quase três vezes mais do que em Outubro (a taxa de mortalidade diária dos internados passou de 1,5% para os actuais 4%), por causa do caos nos hospitais, e em simultâneo, esse mesmo caos, resulta numa mortalidade acrescida por outras causas da ordem dos 2.409 óbitos. E ainda por cima distribuídos por todas as idades acima dos 45 anos, embora com maior particularidade naqueels com mais de 85 anos (os tais que se queria proteger da covid).

Em suma, este é o triste resultado de uma estratégia política de conter a pandemia sem qualquer aposta num investimento reforçado no SNS, antes pelo contrário: assistiu-se a uma redução do número de médicos e à suspensão de consultas, diagnósticos e cirúrgias, deixando uma franja enorme de pessoas em grande vulnerabilidades neste Inverno, tanto para enfrentar uma infecção pelo SARS-CoV-2 como ourtra qualquer mazela ou doença.

O resultado está assim à vista, e só surpreende quem fez ouvidos moucos ao que eu e alguns outros foram alertando desde o início da pandemia: bastaram 20 dias de 2021 para termos um excesso de mortalidade de 2.714 óbitos por covid e 2.409 óbitos por causas não-covid. 

E a tudo isto, o Governo limpa as mãos, limpa as mãos por estas 5.123 vidas perdidas, culpando simplesmente as próprias vítimas e todos os portugueses. E sobretudo colocando os portugueses uns contra os outros. 

E o mais lamentável deste desastre é que vai continuar. E o "circo" também.

Fonte: SICO-eVM.



DO "TENHAM MUITO MEDO" OU DA PANDEMIA CHAMADA CAOS, AGORA QUE ULTRAPASSÁMOS AS 700 MORTES DIÁRIAS E 500 SÃO NÃO-COVID

O SICO-eVM contabiliza, para o dia de ontem, e por agora, 711 óbitos. Com rectificações, o número deve aumentar. Destas, 221 foram covid. Significa que cerca de 500 serão não-covid. Nos anos em que a gripe é fraca (p. ex., 2016), a mortalidade total por dia, neste período, ronda os 370. Vejam em que pé estamos, e não é só pela covid. Nem é sobretudo pela covid.

Para quem andou a defender que a covid é que era importante, e que o resto podia esperar, eis o lindo resultado: a estratégia do Governo (de gerir a imagem e culpando a população,, de andar a mentir sobre os meios disponíveis, e cingir-se a atacar uma pandemia com base em testes e produção de legislação sobre restrições) não só não impediu um aumento da letalidade nos doentes covid como implicou uma mortandade nas afecções não-covid neste Janeiro do nosso decontentamento e de pessoas descompensadas por meses de falta de assitência médica decente.

Minhas senhoras e meus senhores, se têm mais de 45 anos, cuidem-se. Rezem. Os primeiros 20 dias de Janeiro têm sido um caos, com aumento inusitado da mortalidade em todas as faixas etárias a partir da meia-idade. Mesmo naquelas em que a covid apresenta baixa letalidade.

Embora nos menores de 45 anos, a mortalidade em relação à média registe uma variação pouco significativa (e até aos 24 anos até diminuiu), nos primeiros 20 dias de Janeiro disparou para quase 60% na faixa dos maiores de 85 anos. E também subiu muitíssimo logo a partir dos 45 anos, com subidas entre os 34% e os 48%. E isto não é explicado, nem pouco mais ou menos, directamente pelo SARS-CoV-2.

Eis o caos em todo o seu esplendor. Achavam que só se morria de covid? Apoiaram o Governo para que só pensasse em covid, e que "tudo o mais vá pró inferno", como naquela canção do Roberto Carlos? Pois bem, o Inferno está instalado. A culpa é da covid, não é? Dos mal comprtados, não é? Dos doentes, não é? Pois é! É dos doentes; de todos os doentes; e só dos doentes. Se morrem por uma qualquer doença, por falta de assistência médica, a culpa só pode ser dos doentes; nunca do Governo/Estado. Onde já se viu exigir a um Governo que crie condições para tratar da saúde dos seus cidadãos? 

A culpa, vão dizer muitos, é indirectamente daqueles que, portando-se mal, se deixaram infectar pelo SARS-CoV-2 e que  entupiram o SNS. Claro que sim. Nunca jamais é do Governo que nada fez perante a diminuição de mais de 900 médicos no SNS em plena pandemia, e que dizia ter mais de 17.000 camas para uma segunda vaga, quando afinal só tinha pouco mais de 2.000... Sim, o Governo não tem culpa. Durmam descansados... até ao sono eterno, que provavelmente não será de covid, mas de outra mazela tratável mas que se torna intratável num SNS feito em cacos.

Fonte: SICO-eVM.