terça-feira, 19 de janeiro de 2021

DA TEMPESTADE PERFEITA PARA O DESASTRE HUMANO E A DERIVA DITATORIAL

Há uma estranha atmosfera que se vive em Portugal. A ultrapassagem da fasquia das 200 mortes num só dia em Portugal atribuídas quase alegra as pessoas que defendem estarmos a viver uma verdadeira hecatombe que justifica todas as derivas totalitárias do Governo, e que essas pessoas abraçam como salvíficas, ao mesmo tempo que culpam o vizinho, que visitou a família no Natal, pelo descalabro.

Eu, enfim, continuo a lamentar todas as mortes de ontem - as 218 atribuídas à covid e mais as 419 por outras causas. E também lamentar o completo descontrolo do SNS (e do Governo) que "conseguiu" criar bodes expiatórios (o Povo) para uma estratégia errada que permitiu criar a "tempestade perfeita" que desencadeou a actual mortandade: 

a) população débil por meses sem assistência médica, 

b) atravessando uma vaga de frio invernal 

c) dentro de um sistema de saúde em degradação (menos 918 médicos em Setembro de 2020 em comparação com Janeiro de 2020)

d) perante um vírus sazonal bastante agressivo para a população idosa;

e) grande parte dela vivendo em lares, onde o controlo das infecções foi sempre ténue.

Bem sei que estas evidências não colhem na esmagadora maioria da população, que já está "formatada" e que, por ela, sobretudo para quem é funcionário público, se fecharia o país, e se controlaria tudo para se salvar a pele.

Bem sei que, formatadas pelo medo, essas pessoas não se irão questionar sequer sobre os motivos para a Portugal ter apenas 35% de casos positivos a mais do que a Espanha (média móvel de sete dias) mas contabilizar agora uma mortalidade mais de 250% superior. 

Qual a justificação para essa diferença, já que a Espanha (ao contrário da Suécia) é aqui ao lado? Será que a diferença está na Espanha ter aprendido com a Primavera de 2020 e politicamente houve empenho posterior para fortalecer os serviços de saúde? A resposta que deveríamos dar era SIM. E o nosso Governo fez o mesmo? E a resposta deveria ser um rotundo NÃO.

No momento em que o primeiro-ministro pede um "soberessalto cívico", para justificar mais restrições e tirar a água do capote (desresponsabilizando-se), eu também humildemente gostaria de o pedir. Pensem, analisem. Vejam o que nos podia estar a suceder mesmo perante um crescimento nos internamentos. 

Se estivéssemos com um SNS capaz, provavelmente morreriam hoje 79 pessoas com covid (um pouco mais do que com as pneumonias), conforme podem ver nos meus cálculos. Assim, com o SNS no estado que está, muito provavelmente teremos mais um dia com mais de 200 mortos. A minha previsão aponta para valores entre 193 e 223. 

É triste pensar-se que tudo isto se deve a um vírus e aos portugueses. E não ao vírus e ao Governo.

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