Hugo Sequeira (vd. perfil aqui), que se apresenta aqui no FB como cirurgião plástico do Hospital de Braga, decidiu, num comentário a um meu post, passar-me um "atestado de ignorância", e de forma sarcástica, por eu ter destacado esta tarde que a taxa de ocupação de um determinado centro hospitalar (Tâmega e Sousa) estar quase sempre no limite (acima de 90%) e atingindo mesmo períodos de sobrelotação antes da pandemia.
Escreveu ele em tom gozão (vd. em baixo): "O facto de trabalhar com uma ocupação de 90% deveria ser boa gestão. Ter um doutorado ou doutorando a questionar isso é surpreendente... a produção cirúrgica é equivalente?", acrescentando mais tarde: "Trabalhar com ocupação acima de 90% no verão só teria implicações no Inverno se fossem ocupações prolongadas... que por norma não são! E o Sr. Professor devia saber isso. Estamos de acordo que o problema é o desinvestimento de anos no SNS (que obviamente lhe tira flexibilidade) e o desnorte, comprovado pelo verão que passou sem que qualquer estratégia tivesse sido delineada (por exemplo esses hospitais de campanha)."
Sendo que eu não sou Professor, nem médico nem epidemiologista nem virologista (e são estas as recorrentes acusações que me fazem nos últimos tempos, como se apenas esses profissionais tivessem neurónios), e sendo o Doutor Hugo Sequeira um médico encartado, sei bem como o argumento do título académico ainda conta muito em Portugal. Como se um disparate dito por um suposto especialista deixasse de ser um disparate por ser dito por um suposto especialista; e como se uma análise rigorosa e correcta de um suposto não-especialista fosse um disparate apenas porque ele não é supostamente um especialista.
Venho, portanto, colocar o Doutor Hugo Sequeira no devido pedestal de especialista encartado apenas com um objectivo: chamar-lhe ignorante encartado, expondo-o aqui como o paradigma da arrogância, que, conhecendo apenas o seu umbigo, não se esforça para estudar a "real" realidade, zurzindo lesto em todos os que ele julga lhe são inferiores na sapiência, apenas pela "falha" crucial de não serem médicos.
Com efeito, conforme podem observar no gráfico que aqui coloco, com dados do SNS (vd. link em baixo), exemplificando com 2019 para o hospital em questão, o número total de dias de internamento na especialidade médica e na especialidade cirúrgica são superiores nos meses de Outono-Inverno (Dez-Mar) do que nos meses de Verão (Jun-Set).
Para que não me viesem dizer que isto é um caso especial, fiz também as contas a nível nacional. Somando internamentos das duas especialidades, o mês com mais dias de internamento em 2019 foi Janeiro (540.105 horas) e o mês com menos foi Agosto (486.581 horas), ou seja, ou seja, menos 10% neste mês de Verão em relação ao mês de Inverno. Que quiser que vá fazer mais anos para confirmar uma situação óbvia para quem conhece minimamente a realidade da Saúde Pública em Portugal. Significa isto que se estiver a trabalhar no Verão acima de 90% de taxa de ocupação em internamento quase de certeza terei esgotamento no Inverno e sem capacidade de suportar picos. Isto é elementar.
Espero, enfim, sinceramente, que o Doutor Hugo Sequeira seja melhor a fazer cirurgias plásticas...
Fonte: Actividade de internamento hospitalar (SNS, vd. aqui).
Bom dia Pedro Vieira
ResponderEliminarNós os médicos por vezes somos um pouco “míopes”. Continue o excelente trabalho para, também a nós, ajudar a alargar horizontes.
Obrigado.
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