sexta-feira, 16 de outubro de 2020

DO PAÍS QUE NÃO SABIA QUE SE MORRIA E QUE IGNORAVA HAVER INTERNAMENTOS

 Antes da pandemia da covid, tinha consciência de haver muita gente que ignorava a realidade. Agora, com a pandemia, pasmo em saber que a ignorãncia atinge até muitas das nossas elites pensantes, mesmo aquelas com talento. A pandemia da covid parece ter surpreendido muita gente como se o SARS-CoV-2 tivesse tido o condão de nos ter retirado, pela primeira vez, a imortalidade. 

Entretanto, agora, o "horror" às mortes por covid foram "substituídas" pelo "horror" dos internamentos, contabilizando-se os casos positivos à unidade (ainda agora no café ao lado ouvia um "debate" sobre a gravidade de se ultrapassarem os 2.000 casos positivos) e o crescimento dos internamentos. Ontem aumentaram em mais 22 os internamentos, dos quais mais cinco em UCI, tendo morrido 21 pessoas. A situação, embora lamentável, não parece fugir muito do padrão das doenças respiratórias, que em anos anteriores se mostram até de maior perigosidade, causando muitas mais mortes e internamentos.

De acordo com dados oficiais, coligidos pelo Eurostat, as doenças respiratórias (excluindo cancros e tuberculose) mataram em Portugal, no ano de 2015, cerca de 126 pessoas por 100 mil habitantes, ou seja, um total de 12.852 óbitos nesse ano, o que dá 32 mortos por dia. Destes, cerca de 16 mortes diárias (imaginem no pico do Inverno) foram de pneumonias, em grande medida provenientes de gripes. Lembram-se de algum político ter imposto estado de emergência ou calamidade e o diabo a quatro?

No caso dos internamentos por doenças respiratórias, por regra, constituem cerca de 10% do total ao longo do ano. Os internamentos por pneuonias (sobretudo bacterianas, que até tem vacina) atingem os 117 por dias, sem grande variação entre 2009 e 2016, de acordo com o relatório do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias 2017 do Ministério da Saúde. Ou seja, antes da covid (que, aliás, indirectamente fez decair as infecções respiratórias em 60%, o que significa menos hospitalizações por pneumonias este ano e muito menos mortes), não só havia internamentos por doenças respiratórias como mais mortes por doenças respiratórias. 

Mas que interessa isso? Vale a pena escrever alguma coisa mais sobre isto quando 0o pânico está reinstalado, e nessa "guerra", onde a DGS claramente esconde informação? Sabe-se ao dia quantas mortes por (ou com) covid, mas nunca se sabe (nem a DGS quer que se saiba) quantas mortes estão, simultaneamente, a ocorrer por pneumonias. Isto é, inadmissível, mas que interessa que eu e uns quantos esbracejem? 

As pessoas estão já "amestradas" pelo pânico; as elites e imprensa, ignaras em matemática e em contextualizar a realidade, ajudam a "formatar" um estranho consenso. Temo, muito em breve, um colapso social, económico e anímico. O vírus não é inteligente, mas conseguiu tornar-nos, como sociedade, em autênticos burros sem capacidade de racionalizar. Os Governos, esses, os dois países que acham que trapos nas fuças é que resolvem os problemas, estão a viver momentos de glória: mandam como déspotas perante um povo encarneirado e agradecido. Vai ser difícil reerguermo-nos como sociedade, e recuperar direitos.




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