Enquanto o discurso do medo alimenta a pandemia, as mortes evitáveis aumentam. Enquanto o discurso da alegada falta de camas hospitalares para a covid impera, a fuga às urgências mantém-se. E as mortes por afecções não-covid aumentam para níveis insanos.
Cada vez mais fico abismado com as evidências de uma crise de Saúde Pública que passa despercebida em Portugal: as mortes evitáveis, que parecem não chocar ninguém. Neste post coloco três gráficos para vossa apreciação:
1 - Excesso de mortalidade no período de 12 a 22 de Outubro em relação à média (2009-2019)e contributo da covid e das afecções não-covid. Apesar do crescimento dos óbitos por covid, estes são em menor número: 182 contra 323.
2 - Evolução, entre 12 e 21 de Outubro, para todas as unidades hospitalares, do número de episódios emergentes (pulseira vermelha da Triagem de Manchester) para o ano de 2020 e para a média dos anos de 2017-2019.
3 - Evolução, entre 12 e 21 de Outubro, para todas as unidades hospitalares, do número de episódios muito urgentes (pulseira laranja da Triagem de Manchester) para o ano de 2020 e para a média dos anos de 2017-2019.
Reparem apenas na queda brutal sobretudo nos casos "muitos urgentes", em que existe perigo de morte se não houver um atendimento rápido. Não estamos a falar de casos pouco urgentes que enchem desnecessariamente as urgências (a Triagem de Manchester tem mais três cores de pulseiras abaixo da laranja). Estes são os casos graves que necessitam mesmo de assistência médica imediata, de contrário o risco de morte é certo ou elevadíssimo em pouco tempo. Ora, temos aqui, só para os casos muito urgentes, uma descida de 30%. Foram menos 468 atendimentos "muito urgentes" por dia!
Poder-se-ia pensar que, de repente, a população portuguesa começou a ser saudável, e a não ficar com tantas afecções súitas e graves (que representam as pulseiras vermelha e laranja),. Mas se esse milagre estivesse a suceder, então não teríamos o excesso de mortes que assistimos paulatinamente desde a Primavera.
Na verdade, aquilo que estes gráficos mostram é uma coisa simples e tenebrosa: com a campanha de alarmismo da covid, muitas pessoas têm medo de ir ao hospital mesmo quando se sentem muito mal. Muitas acabam por "visitar" a morgue pouco depois.
E a DGS, Ministério da Saúde e uma parte muito considerável dos médicos assobia para o ar. E uma "coisa" outrora chamada Imprensa, nada. Tudo para a covid. Tudo para a morte. Silenciosa. A loucura de uma sociedade é isto que estamos a assistir.
Fonte: SICO-eVM para o primeiro gráfico); Monitorização dos Serviços de Urgência (SNS, dashboard 6, que pode ser consultado aqui).
Nos anos 1970 a afluência ao Serviço de Urgência do H. de Santa Maria rondava as 300 a 500 pessoas por dia. Eram internadas, no total, umas 40 pessoas.
ResponderEliminarNo fim dessa década, após o retorno de milhares, a afluência diária era sempre superior a 1.000. Em «média» 1.4 pessoa por minuto.
Equipa médica: Cinco médicos, um Neurologista, um Cardiologista e um Gastro-enterologista presentes. 24 horas de serviço. Pelas 18 horas um interno ia à enfermaria ver 'como iam as coisas'. Após a saída às 09 horas ia-se à enfermaria ver se seria necessário algo. Os internados não podiam ficar prejudicados por toda a equipa ter estado um dia 'de Banco'.
Nunca ninguém teve 'burn outs' nem 'metia baixa'.
Abraço
oliveira
No entusiasmo, esqueci-me de dizer que até à década de 1990 o número de internados não variou (40-50 por dia).
ResponderEliminarDesde os anos de 1980 se falava numa triagem. Para ser boa tinha que ser feita por um Interno evoluído. E este fazia falta, sobretudo, na Sala de Observação (SO).
Com o protocolo de Manchester (que não foi explicado) houve inúmeras cenas gagas. A triagem era feita por enfermeiros ignorantes. Na enfermaria recebi um homem a 'cozer' a 40o. Na triagem, como critério importante para a admissão, escreveram 'muito quente'.
Abraço