domingo, 25 de outubro de 2020

DO SABER COMO OS PAÍSES SE "SAFARAM"

Vou, por agora, apresentar-vos dois gráficos para que, mais tarde, talvez amanhã, vos mostrar uma breve conclusão sobre como diversos países de um conjunto de países da OCDE (incluindo Portugal) se comportaram durante a pandemia, não apenas no que diz respeito à mortalidade por covid mas sobretudo nos cuidados assistenciais para as outras afecções. 

Como tenho dito, não vale a pena um país ter um desempenho razoável no combate a uma pandemia quando, em simultâneo, o respectivo serviço nacional de saúde descura tudo o resto. Portugal é um caso paradigmático, como tenho repetido, e esta análise apenas evidencia com factos. E com comparações. Não somos os piores, mas estamos muito longe do "milagre lusitano"; pelo contrário, os indicadores são preocupantes.

Os gráficos que em baixo surgem são os seguintes:

2) Variação (%) da mortalidade total em 2020 (até meados de Setembro) em função da média dos últimos cinco anos. (verde significa que houve redução; vermelho que houve excesso; Portugal está a amarelo)

1) Contributo (%) da covid para a mortalidade total em cada pais ao longo de 2020 (até Serembro, vd, nota final) 

Estes gráficos mostram duas distintas mas complementares perspectivas. Por um lado  revela-se que o impacte da covid (até Setembro) foi muito distinto regionalmente, mesmo na Europa. Por exemplo, enquanto na Bélgica por cada 100 óbitos por todas as afecções, 11 foram por covid, em Portugal foram apenasd 2 e em diversos países do Leste e nórdicos foi inferior a 1. Aliás, a maior incidência e mortalidade por covid no mês de Outubro em alguns países de Leste (e.g. Hungria) não surpreende demasiado. Portugal, neste aspecto, está numa posição bastante razoável, com o peso da mortalidade por covid muito mais baixo do qu Chile, Bélgica, Estados Unidos, Suécia, Espanha, França e mesmo Holanda e Suíça.

Por outro lado, revela-se que a covid levou a estratégias em termos de políticas públicas de saúde (e de Saúde Pública) que tiveram muito distintos efeitos. Com efeito, há um grupo de países que registou mesmo uma redução na mortalidade em relação à média; outros em que a covid teve um impacte mínimo; outros ainda que tiveram um agravamento na mortalidade total que não é explicada apenas pela covid (e.g., Portugal, que tem um excesso de mortalidade de 7,5% quando a covid representou 2,2% da mortalidade total); e outros ainda que, apesar de uma mortalidade elevada por covid, a mortalidade total teve uma variação inferior (revelador de os serviços de saúde terem conseguido dar resposta às outras afecções). Portugal, neste aspecto, não tem ums situação famosa: dos países em análise é o sétimo com maior acréscimo, com a agravante de a variação da mortalidade total ser superior ao peso da covid na mortalidade total. 

Mas uma análise cruzada (com um gráfico que cruza este dois), com maior detalhe, será apresentada mais tarde. E com conclusões para debate.

Fonte: Our World in Data (vd. aqui) e Worldometers, com tratamento de dados, segundo a seguinte metodologia: 1) cálculo da mortalidade total em 2020 até 20 de Setembro [excepto Hungria, França e EUA (até 6 de Setembro) e Nova Zelândia, Alemanha e Suíça); 2) cálculo da mortalidade por covid até até á respectiva data de referência, permitindo assim saber o peso da covid na mortalidade total; 3) cálculo da média dos cinco anos anteriores até à data de referência, permitindo assim saber a variação da mortalidade total em 2020 em relação à média.




5 comentários:

  1. Obrigado pelo estudo. Que lhe fique como consolação que o facto de quase ninguém abordar isto e, sobretudo média e portugueses em geral, demonstrar à evidência como estão mais preocupados em protagonizar dramas que em informar-se. Até o Clinton já tinha reparado neste fenómeno quando um dia desabfou: “look at the trendlines, not at the headlines”

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  2. Obrigado pelo estudo. Que lhe fique como consolação que o facto de quase ninguém abordar isto e, sobretudo média e portugueses em geral, demonstrar à evidência como estão mais preocupados em protagonizar dramas que em informar-se. Até o Clinton já tinha reparado neste fenómeno quando um dia desabfou: “look at the trendlines, not at the headlines”

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  3. A Itália está ausente dos quadros. Dificuldades com os dados?

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    1. Itália só tem dados até Junho pelo que optei por não incluir na comparação. Mas estava com elevada percentagem de mortes por covid (um pouco menos do que a Espanha, julgo).

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  4. Deixo um pequeno contributo. A população portuguesa está em contracção: em 2020, a população total é cerca de 1% inferior à da média anualizada de 2015-2019. Já a população da Suécia, por exemplo, está em expansão: em 2020, é quase 2% superior à média anualizada dos 5 anos anteriores. Na Suécia, seria de esperar um excesso de mortalidade de 2% só à conta da evolução demográfica, e este aspecto representa um factor de confundimento nas análises.

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