quinta-feira, 29 de outubro de 2020

DO DESCONTROLO, CLARO... DOS LARES, MUITO PROVAVELMENTE

Nos últimos tempos tenho sido bastante atacado (já para não falar da censura do FB), por vezes ataques de carácter e de rigor científico, mas, enfim, isto é mais forte do que eu. E, portanto, mais uma análise, mais um alerta. Chamo a atenção que, no futuro, passarei a escrever a doença como DIVOC e o agente como SRAS-VoC-2 para tentar contornar a censura que o FB anda a colocar aos posts sobre estas matérias.

Face à falta crónica de transparência da DGS (que impede que se tenha facilmente acesso aos casos positivos por idade, bem como os dados da mortalidade, pois os seus boletins "apagaram essa informação... tem de se recorrer aos jornais), nem semnpre é fácil fazer o acompanhamento da evolução. Contudo, fiz agora, recorrendo a informação dos jornais e aos dados da população do INE, uma comparação da incidência diária da DIVOC (casos positivos) por grupo etário (em função da população) em dois períodos distintos; 5-22 de Outubro (18 dias) e 23-27 de Outubro (5 dias).

Além do já conhecido aumento de casos positivos, aquilo que ressalta à vista é o aumento generalizado  da incidência em todas as faixas etárias, mas sobretudo com especial gravidade nos maiores de 80 anos, o grupo mais vulnerável e que integra grande parte dos utentes dos lares.

Com efeito, a incidência diária de casos positivos nos maiores de 80 anos passou de 17 por 100.00 pessoas desse grupo no primeiro período (5-22 out) para 31 no segundo período (23-27out). É um aumento de 80% na incidência no grupo que mais contribui para as mortes por covid (duas em cada três mortes por DIVOC são de maiores de 80 anos). De imediato isso justfica o aumento da mortalidade nos últimos dias e que se agravará nas próximas semanas...

O aumento da incidência é generalizado, como podem observar no gráfico, mas maior na população activa (20-59 anos), diminuindo com a idade. Os valores nos grupos dos 60-79 anos são já muito mais baixos do que nos grupos da população em idade activa mais jovem, mas depois sobe bastante no grupo dos maiores de 80, a faixa etária onde se encontram muitos dos 100 mil utentes dos lares. 

Ora, era suposto os mais  idosos estarem com os mais baixos níveis de incidência se, por exemplo, nos lares as medidas profilácticas estivessem a ser adequada e eficazmente aplicadas. E isto indicia que não estão. Mas sobre os lares portugueses pouco se sabe (excepto, sem se ter acesso a qualquer base de dados que são responsáveis por 40% das mortes por DICOV em Portugal). Continuamos no absurdo de ser mais fácil saber nos lares no Reino Unido, por exemplo, do que em Portugal). E a imprensa não achar nada estranho.

Tenho defendido, desde Março, que a luta contra a DIVOC é sobretudo uma luta ao nível da protecção dos grupos vulneráveis em lares. Não vale a pena confinar 100% da população, fazer lockdowns e recolher obrigatório, meter máscaras na rua e em todo o lado, se depois, nos lares, a DIVOC se espraiar tão ou mais facilmente como na população cá fora.

Tenho defendido, com evidências (e não sou só eu, claro), que o problema da DIVOC não é uma questão de número de casos, mas sim de quantidade de casos na população idosa, e isso consegue-se com especiais cuidados (e sem desleixos) sobretudo nos lares.

Para terem ideia daquilo que digo, façamos um exercício simples, extrapolando as taxas de letalidade distintas entre grupos etários. Se porventura tivessemos 400 mil casos positivos (um absurdo, claro!) na nossa população com menos de 40 anos haveria talvez no máximo 60 óbitos; se tivermos esses 400 mil casos na nossa população de mais de 80 anos as mortes talvez se aproximassem das 60 mil. Vejam isto, obviamente, apenas como mero exercício de comparação para destacar as diferenças brutais em termos de letalidade nos grupos etários. 

Resumindo e concluindo: mais do que andar com medidas e medidinhas sem nexo, convinha saber ao certo aquilo que o Governo anda a fazer (ou deixar de fazer) nos lares. Foi sempre aí que se jogou a questão fulcral da DIVOC.



5 comentários:

  1. Pedro Almeida Vieira,
    Como nós vemos e sabemos tudo está mal estudado e concretizado. E não só neste país.

    Para aliviar e para sentir bem o que é a espécie humana, veja com pachorra [Full Screen, [K] para parar, [J] para andar para trás, [L] para andar para a frente]. No fim-de-semana...

    The Most Hilarious Things That Court Reporters Have Ever Recorded To Be Said In Court
    https://www.youtube.com/watch?v=BL5fvHkxjqE

    oliveira

    ResponderEliminar
  2. Eu tenho publicado muitos dos seus 'desabafos', até porque conconcordo com grande parte deles, no meu FB em modo público e até agora o 'lápis azul' do mesmo ainda não me censurou nenhum. Vamos ver... Um abraço!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tenha presente que PAV está no «Index». Estar [ou não] no «Index» é fruto da 'inteligência artificial' que mais não é do que um produto electrónico da estupidez natural. Tire a senha e espere a sua vez...
      Cumprimenta

      Eliminar
  3. Infelizmente questionar o absurdo das medidas (em público) vale o rótulo de negacionista e uma segregação na sociedade.

    Quanto aos lares deixar as pessoas sem visitas afinal revelou-se uma medida de tortura, em vez de se criarem condições de segurança.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É o argumentum ad hominem. O novo normal.

      Eliminar