quinta-feira, 15 de outubro de 2020

DA INDIGÊNCIA JORNALÍSTICA OU DA NECESSIDADE DE JÁ NÃO DEIXAR PASSAR CERTAS COISAS EM CLARO

Uma jornalista do Público, Alexandra Campos, que se apresenta com 25 anos de jornalismo e "várias acções de formação em Jornalismo de Saúde", publicou, agora mesmo, uma peça que titula "Hospitais de LVT: esgotada mais de 80% da capacidade de internamentos e dois terços dos cuidados intensivos". Isto merecia quase um despedimento, por dois motivos:

1) Esgotamento provém de esgotar, isto é, consumir, gastar ou secar até á última gota, espécime, artigo, unidade, ou cama, neste caso (vem nos dicionários). Não há um esgotamento a 80%, a 70% ou a qualquer outro número. Esgotar é a 100% (e usar aqui a percentagem é redundante). Não é admissível que alguém, e muito menos um jornalista de um periódico que se quer credível, possa usar o verbo esgotar neste caso, e muito menos acoplar uma percentagem que não seja de 100%. Excepto se for mau jornalista ou queira intencionalmente fazer mau jornalismo para alarmar as pessoas.

2) Para quem se arroga de ter, no currículo, "acções de formação em Jornalismo de Saúde", convenhamos que a jornalista Alexandra Campos deveria saber enquadrar a actual procura com aquilo que habitualmente sucedia sem covid. Por exemplo, no ano de 2019, em Outubro tinhamos, nos hospitais de LVT (Lisboa e Vale do Tejo), uma taxa (anual) de ocupação que variava entre 79,1% nos hospitais de Lisboa Ocidental e 101,3% no hospital de Vila Franca de Xira (significando que já houvera, ao longo do ano, situações de efectivo esgotamento). Ou seja, estar próximo do esgotamento (e estar próximo do esgotamento não é estar esgotado) é a situação normal dos nossos hospitais com ou sem covid. E não há, na peça da jornalista do Público, qualquer enquadramento. Eu chamo a isso mau jornalismo.



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