sábado, 10 de outubro de 2020

DA COVIDZINHA DE 1998-1999 E DA PANDEMIA MORTÍFERA DE 2020

No Inverno de 1998-1999, no rescaldo da Expo-98, houve gripe. A habitual gripezinha. Portugal tinha então aproximadamente a mesma população de hoje, mas muito menos velhos: com mais de 85 anos contava apenas cerca de 145 mil pessoas, enquanto agora se aproxima dos 320 mil, ou seja, os muito idosos mais que duplicaram. No final do século XX, Portugal tinha, portanto, uma populalação teoricamente bastante menos vulnerável. 

Porém, nesse Inverno (do qual não tenho memória de ter sido mediaticamente relevante do ponto de vista da saúde pública, e eu era então jornalista no Expresso e na Grande Reportagem), a gripe bateu forte. Não lhe chamemos gripe mas sim "covidzinha", visto ser, assim o dizem, menos mortífera que a covid. Bom, escrevia então eu, a covidzinha de 1998-1999 bateu bem forte. Entre Dezembro de 1998 e Fevereiro de 1999 morreram, no total, 37.227 pessoas, sabendo-se que a covidzinha não deu apenas um pequeno empurrão. Passou por cima da vida de muita gente. Só em Janeiro de 1999 foram registados 14.737 óbitos (o pior ano de que encontro registos na base de dados do INE), o que significa uma absurda média diária de 475 caixões por dia! Terão ocorrido, acredito, alguns dias com mais de meio milhar de mortos.

A título comparativo, no período de maior mortalidade por covid (Março-Maio), registaram-se 30.642 óbitos. Comparando este valor de mortalidade total com aquele Inverno de 1998-1999, temos menos 6.585 óbitos em apenas três meses; menos 73 caixões por dia em sucessivos nove dezenas de dias. O mês mais mortífero de 2020 com influência da covid (Março) teve 10.619 óbitos, ou seja, uma média de 342 mortes por dia; e destes apenas cerca de 30 por dia foram por covid.

Houve mais três Invernos (1996-1997; 2014-2015 e 2017-2018) com trimestres de mortalidade acima de 35 mil óbitos. No gráfico que apresento destaco ainda os 10 meses mais mortíferos desde 1996 confrontando-o com o mês mais mortífero desde que apareceu por cá a pandemia.

Tenho manifestado a minha opinião, alicerçada por análises e atendendo aos estudos de muitos investigadores, que a covid é uma doença perigosa para as pessoas vulneráveis.Porém, a estratégia absurda que se tem estado a seguir em muitos países e particularmente em Portugal (com o desleixo na assistência médica em outras enfermidades) está a causar efeitos colateriais piores do que a covid. 

A manipulação mediática, o fomento da "cultura do medo" e as redes sociais que a fomentam, e os interesses num negócio de larga escala (a indústria dos testes em que vivemos, a que se seguirá a indústria da vacinação a larga escala, mesmo de jovens que estatisticamente não são afectados pela covid) estão a empurrar-nos para um mundo distópico. E temo que haja dificuldades em nos recompormos animicamente depois disto: a nossa vida está, como nunca, impregnada pelo medo da morte. Vejo isso pelo menos no olhar de quem usa máscara. E isso assusta-me mais do que a covid.



5 comentários:

  1. Janeiro de 2017 foi o mês em que morreu a mãe, de gripe A, com a vacina do SNS e mais outra vacina de reforço.

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  2. Olá Boa Tarde! A primeira vez por aqui, embora siga os seus posts por vezes no FB. Agradeço muitíssimo o seu trabalho e a partilha.

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  3. Olá Boa Tarde! A primeira vez por aqui, embora siga os seus posts por vezes no FB. Agradeço muitíssimo o seu trabalho e a partilha.

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  4. 70% das camas em unidades de cuidados intensivos estão ocupadas
    O número foi avançado pelo secretário de Estado adjunto da Saúde, António Lacerda Sales.

    70%???????????

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    1. Não deve ser com COVID. Com base no ECDC database, a ocupação diária dos Cuidados Intensivos por COVID-19 em Portugal, até 9 de Outubro, era menos de metade da registada no pico de ocupação em Abril.

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