Eu gosto muito do Público. É o meu jornal, como leitor, há décadas, mesmo quando fui jornalista em outros. Por isso entristece-me muito a falta de rigor neste título (e em certa medida no enfoque do artigo), que enviesa, para a opinião pública, a real situação em Portugal no contexto europeu.
Reparem: titula o Público que Portugal está numa situação de excesso "moderado" de mortalidade, e que "noutros países é 'extremamente elevado'"... OK! Eu já levo de barato que os dados estatísticos para Portugal no sistema Euromomo estejam subcontabilizados. Mas mesmo assim vamos ser objectivos: o Euromomo contabiliza a mortalidade em 20 países europeus. As piores situações de excesso são, como se sabe, de Itália, Espanha, França, Bélgica, Holanda e Reino Unido. Depois segue-se a Suíça e a Suécia. A seguir, vem Portugal. Contemos os países antes de Portugal: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8... Portanto, Portugal está na 9ª posição em 20 países se invertermos a tabela do pior para o melhor. Colocando do melhor para o pior, ficamos na 12ª posição. Melhor que Portugal estão os seguintes 11 países do grupo de 20: Alemanha, Áustria, Dinamarca, Estónia, Finlândia, Grécia, Hungria, Irlanda, Luxemburgo, Malta e Noruega. Neste lote, a Irlanda, este sim, motivo de orgulho, até regista menos mortes no período covid do que o expectável!.
Em suma, Portugal está na segunda metade da tabela relativamente ao excesso de mortalidade. Isto é assim uma coisa tão extraordinária num país geograficamente periférico, com densidades populacionais baixas e que beneficiou da chegada mais tardia do coronavírus? Porque raio este elogio, expresso ao longo do artigo? Já ficamos eufóricos por estarmos a meio de uma tabela da desgraça?
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