domingo, 12 de abril de 2020

DA INCIDÊNCIA DA COVID NO PAÍS

Tenho mostrado algum cepticismo no uso dos casos positivos para uma correcta avaliação da covid-19 em Portugal, embora possa constituir um indicador ao nível da incidência e da sua evolução.
Predispus-me assim a analsar com mais detalhe os casos positivos por concelho, cruzando essa informação com a população dos respectivos concelhos e, por outro lado, com a sua densidade populacional. Para essa informação utilizei os dados da população dos últimos Censos (2011) e as densidades populacionais indicadas pelo Pordata.
Apesar de Lisboa ter o maior número de casos (890), de forma clara o Norte do país é, como se sabe, aquele com maior prevalência, embora nem seja nas grandes cidades que a situação se mostra mais preocupante. Com efeito, se considerarmos o número de casos por 10 mil habitantes, eis a lista dos primeiros 10 concelhos:
1 - Vila Nova de Foz Côa (70 casos) - 96 casos / 10.000 hab
2 - Ovar (409 casos) - 74 casos / 10.000 hab
3 - Castro Daire (91 casos) - 59 casos / 10.000 hab
4 -Valongo (479 casos) - 51 casos / 10.000 hab
5 - Resende (53 casos) - 47 casos / 10.000 hab
6 - Maia (588 casos) - 43 casos / 10.000 hab
7 - Gondomar (681 casos) - 41 casos / 10.000 hab
8 - Matosinhos ((682 casos) - 39 casos / 10.000 hab
9 - Porto (885 casos) - 37 casos / 10.000 hab
10 - Braga (621 casos) - 34 casos / 10.000 hab

Como termo de comparação, a Espanha (todo o país, mas com regiões onde a prevalência é muito superior) apresenta 35,5 casos por 10.000 habitantes, ou mais precisamente 3.551 casos positivos por 1 milhão de habitantes.
Por curiosidade, Lisboa apresenta hoje 16 casos por 10.000 habitantes, estando na 33ª posição a nível nacional.
No gráfico em baixo apresenta-se a relação entre a prevalência de casos (número de positivos em relação aos habitantes) e a densidade populacional. A ideia era saber se os mais densos e maiores aglomerados populacionais apresentavam uma maior prevalência de casos positivos. E os resultados não fogem daquilo que seria expectável face aos objectivos do estado de emergência: reduzir significativamente o risco de contágio nas maiores cidades onde os contactos e a proximidade física (transportes públicos, por exemplo) é geralmente maior.
Assim, actualmente,a maior prevalência de casos atinge sobretudo alguns concelhos de mais baixa densidade populacional onde os contágios se iniciaram numa fase precoce e/ou em "nichos", como lares de idosos, propensos a elevado nível de contaminação geral. São, aliás, os casos de Vila Nova de Foz Côa, Castro Daire e Resende, que estão no top 10, mas também os de Alvaiázere (11º) e Torre de Moncorvo (16º), que têm menos de 20 mil habitantes e uma densidade inferior a 100 habitantes por Km2.
Para análises mais aprofundadas seria fundamental que a DGS disponibilizasse informação sobre a incidência dos casos em lares (onde parece ser o principal foco de contaminação nos pequenos aglomerados). Em todo o caso, parece evidente que, embora com enormíssimos custos económicos, parece-me que o estado de emergência terá tido um efeito positivo em evitar a propagação da pandemia. Mas isso é apenas uma pequena vitória. Na verade, como tenho repetido, o problema não é o input (nível de contaminação), mas os outputs, ao nível das mortes (totais, e não apenas por covid-19),a curto e longo prazo.
Nota final: um agradecimento ao Paulo Fernandes, que,de forma indirecta, me estimulou a fazer esta análise, depois de ele próprio a ter feito entre os países mundiais.



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