De todas as análises que tenho vindo a fazer - e não uso modelos matemáticos de previsão complexos e que são, portanto, muito falíveis, e socorro-me 'apenas' dos dados da Vigilância da Mortalidade da DGS, i.e., da realidade -, esta que agora vos apresento é porventura a que melhor reflecte a actual situação. Muito desfavorável, convenhamos: o tão almejado 'planalto', ou o desejado 'pico', não existe ainda. Pelo contrário, só vejo uma interminável 'colina'.
Com efeito, o gráfico em baixo mostra a evolução da diferença da mortalidade (desde Dezembro de 2019 até ao dia 7 de Abril) entre o período em curso (2019-2020) e o período homólogo da década anterior. Usei a média móvel de 5 dias para atenuar variações bruscas diárias, mas sem retirar rigor na análise, já que é um período suficientemente curto. A análise desde Dezembro permite ter em consideração o período típico da gripe sazonal e da maior mortalidade no Inverno, e contextualizar com o último mês desde o surgimento da covid-19 em Portugal (primeiro caso 'descoberto' em, 2 de Março; primeira morte oficial em 16 de Março).
Pois bem (ou mal), aquilo que está a suceder começa a ser assustador. Desde a segunda semana de Março deste ano observa-se uma rápida e aparentemente ininterrupta subida da diferença da mortalidade em relação à média da última década. No dia 9 de Março, a diferença de mortalidade era favorável a 2020, com menos de 47 diários óbitos em relação à média; e no dia 7 de Abril a diferença era já desfavorável a 2020 em 61 óbitos diários em relação à média.
Se somarmos os óbitos acima da média a partir do dia em que a diferença se torna desfavorável ao ano de 2020 (dia 17 de Março), temos então um excedente total de 803 óbitos até 7 de Abril (última data usada). Como se sabe, a DGS reporta 'apenas' 380 óbitos por covid-19.
Note-se que o actual hiato é cerca de três vezes superior ao que se observou em Janeiro e Fevereiro, durante cerca de um mês, em virtude da gripe sazonal, um pouco mais intensa neste período. Nesse período, a diferença rondou no máximo os 20 e poucos óbitos a mais por dia.
Não há, pois, qualquer sinal, ao longo deste último mês, e muito menos na última semana, de qualquer alteração no declive nem tão-pouco qualquer sinal de abrandamento com vista à criação' de um planalto. Apontar um 'pico', no actual contexto, é fazer futurologia por mais catedrático que se seja.
O único aspecto menos negativo é estarmos num período do ano mais amenos em termos climáticos e, portanto, com menores taxas de mortalidade.
Conclusão: esqueçam a ideia de 'planalto' durante os próximos dias. Nada indica que o 'pico' tenha sido atingido. Pelo contrário. Enquanto não atingirmos um 'pico' na curva da diferença da mortalidade, e começarmos a ter níveis de mortalidade próximos da média, então continuaremos muito longe de controlar a epidemia.
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