quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

DO BRASIL DO MAU BOLSONARO E DO PORTUGAL DO BOM COSTA, OU DA ANÁLISE ENTRE O SUPOSTO INFERNO E O ALEGADO PARAÍSO

O Brasil de Bolsonaro - ou melhor, o Brasil por causa do Bolsonaro, que pessoal e ideologicamente não aprecio nada - esteve na berlinda noticiosa durante meses. As notícias sobre a covid e a sua mortalidade atroz durante o final da Primavera e o Verão foram constantes. O Brasil era apontado como o paradigma do que não devia ser feito, como um antro de políticos irresponsáveis. Pelo contrário, Portugal, para consumo interno da máquina de Propaganda Mediática (leia-se, imprensa nacional) era olhado como o exemplo "evidente" de políticas responsáveis. 

Sendo certo que mantenho a opinião que houve uma política irresponsável do Governo de Bolsonaro, na mesma linha de análise isenta, e em oposição, jamais embarquei na narrativa do "milagre lusitano". E mais: nunca suportei as análises delicodoces da nossa imprensa, que, cantando como um cisne, nos levava a acreditar na tese montada pelo Governo de Costa: se algo correr mal, a culpa é das pessoas; se algo correr bem, deve-se aos políticos.

Como se sabe, a Estatística, em particular, e a Ciência, em geral, têm a "imperfeição" de desmontar ficções. Ora, tendo em conta o padrão sazonal que o SARS-CoV-2 mostra - além de outros que ainda desconhecemos -, quando se olhava para o Brasil em Maio, em Junho e nos meses seguintes, não se devia esquecer que, embora tenha um clima muito diversificado e distinto do nosso clima europeu (mediterrânico e atlântico), as estações do ano estão invertidas. Grosso modo, o Carnaval deles em Fevereiro é como se fosse no nosso Agosto. E isso conta muito para infecções de padrão sazonal.

Posto isto, decidi fazer uma comparação mensal da mortalidade média diária por covid entre Portugal e o Brasil, padronizado para a população portuguesa (10,2 milhões de habitantes vs.  213,2 milhões), mas confrotando meses de características similares. Ou seja, o nosso Março corresponde ao Setembro brasileiro, o Abril ao Outubro, e assim sucessivamente. Como a pandemia não fez ainda um ano, esse paralelismo impede que se cruze o nosso Verão (meses de Julho a Setembro), de baixa mortalidade por covid, com o Verão brasileiro (Janeiro a Março). No caso do nosso Dezembro (que compara com o Junho brasileiro) considerei apenas os primeiros sete dias.

O resultado deste confronto - que em certa medida compara sete pares de meses, i.e., sobretudo os desempenhos na Primavera e no Outono - parecem-me muito interessante. E nada abonatório para Portugal. Com efeito, se nos meses correspondentes à nossa Primavera (com transição do Inverno, em Março; e para o Verão, em Juho), Portugal apresentou um desempenho globalmente melhor do que o Brasil (com excepção de Abril, correspondente ao Outubro brasileiro), o Outono está a ser bem pior em Portugal.

Assim, em Outubro, a mortalidade média diária em Portugal foi de cerca de 18 óbitos, enquanto no Brasil (padronizado à população portuguesa) foi um pouco menos de 10 no mês paralelo (Abril). Sempre se pode dizer que em Abril estava a começar a pandemia no Brasil. E é verdade: no mês de Maio de 2020, as mortes diárias por covid mais que triplicaram em relação ao mês anterior (36,4 óbitos padronizados), e ainda subiria emn Junho. Porém, quando confrontamos Maio e Junho do Brasil com os correspondentes meses simétricos de Portugal (Novembro e Dezembro), a nossa situação é extremamente desfavorável.

Mas, obviamente, como somos um país pequeno (10 milhões) passamos despercebidos no desastre, Já o Brasil não só tem mais de 200 milhões de pessoas, mas tem também Bolsonaro, o que dá sempre jeito para aplicar a máxima: enquanto se criticam os defeito dos outros, não se criticam os meus. Ter uma imprensa globalmente acrítica também ajuda.



1 comentário:

  1. Apenas um apontamento
    O Brasil é composto por Estados com certa autonomia em relação ao governo federal. Além do STF ter dado o controle da pandemia aos governadores dos estados. O governo federal decretou o estado de calamidade em janeiro e ainda se mantém.
    Posto isto, lembro, que o maior número de óbitos no Brasil, ocorreram nos estados onde governadores e prefeitos decretaram o loockdown e proibiram o tratamento precoce. Isto a nossa imprensa não refere.

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