Faltam cinco dias para o fim do ano, os dados de 2020 têm 11 dias baseados em estimativas, mas pode fazer-se já o balanço do impacte da pandemia, comparando as taxas de mortalidade (a forma mais objectiva de se fazer uma análise racional) com a média dos últimos cinco anos (2015-2019) e dos últimos 20 anos (2000-2019).
Conclusões principais:
1 - Infelizmente, ou talvez felizmente, o ano de 2020 não mostra um perfil "contra-natura", ou seja, a taxa de mortalidade por faixa etária apesesenta uma evolução natural, com baixíssima mortalidade até aos 44 anos, baixa até ao 64 anos, e depois progressivamente a subir até ser bastante alta a partir dos 85 anos.
2 - Comparando com a média de 2000-2019, no ano de 2020 nenhuma faixa etária regista um agravamento. Repito: NENHUMA, nem mesmo no grupo dos maiores de 85 anos.
3 - Comparando com a média de 2015-2019, no ano de 2020 observa-se um agravamento a partir dos 55 anos, mas apenas estatisticamente significativo a partir dos 75 anos, e maior ainda nos maiores de 85 anos. No entanto, convém salientar que a taxa de mortalidade está em permilagem. Ou seja, em termos percentuais, em 2020 morrerão 16,8% dos idosos com mais de 85 anos, quando a média dos últimos cinco anos foi de 16,1%. Estamos portanto a falar de um ano de pandemia em que se regista um agravamento de 0,7 pontos percentuais na taxa de mortalidade dos mais idosos, sabendo também que para esse acréscimo houve também o contributo de afecções não-covid.
4 - Para os pais que vivem apavorados perante as os seus filhos pequenos, a boa notícia: o ano de 2020 foi menos mortífero do que a média dos últimos cinco anos para as faixas etárias dos menores de 15 anos.
5 - Para o grupo de jovens desde os 15 anos até aos adultos com menos de 55 anos, no ano de 2020 nada de anormal se passou. Em alguns dos grupos etários a taxa de mortalidade até desceu em relação aos anos mais recentes.
6 - Pela primeira vez, agrupando toda a população, a taxa bruta de mortalidade em Portugal (pelo menos desde que existem registos mais fidedignos) irá ultrapassar os 12 por mil, mas esse valor explica-se em grande medida pelo envelhecimento da população e por a mortalidade se concentrar (felizmente) na população mais idosa. Por exemplo, em 1995, apenas 22% das mortes foi de maiores de 85 anos; e desde 2017 tem ultrapassado os 40%. Isto explica-se porque, enfim, as pessoas passaram a viver mais e já não são tantas a ficar pelo caminho antes de chegarem aos 85 anos.
Tendo em conta tudo isto, aqueles que andam pelos caminhos da histeria podem continuar assim a comparar a covid com a Gripe Espanhola, e a "hiperventilar" face ao bombardeamento mediático e político em torno da presente pandemia.
Nota metodológica - Tendo em conta que o INE só divulgará a estimativa da população de 2020 dentro de alguns meses, as taxas de mortalidade no ano N foram calculadas com a população estimada no ano N-1. Para o ano de 2020, utilizou-se os dados do SICO-eVM até 20 de Dezembro, estimando-se a mortalidade dos restantes 11 dias do ano com a média de óbitos registados nos primeiros 20 dias de Dezembro. Para os restantes anos usou-se os dados de óbitos do INE. Embora fosse escusado de dizer, mas como sei que muitas pessoas ignoram a forma de cálculo da taxa de mortalidade, convém referir que para cada grupo etário se divide os óbitos das pessoas desse grupo pela população desse (e apenas desse) grupo.
Claro que nos habituámos mal... Eu pelo menos.
ResponderEliminarClaro que é impossível manter uma «página» de novidades.
Claro que ao povo, faltam saber e cultura.
Claro que lhe agradeço mais este muito bom esclarecimento.
oliveira