Pelas mais diversas maleitas, incluindo covid, este ano deverão morrer um pouco mais de 52 mil idosos de idade superior a 85 anos. Um drama!, dirão muitos. Sim, se fizermos mal as comparações. Por exemplo, se compararmos directamemnte com 1971 seria impossível tal suceder, porque... enfim, só existiam então 44 mil idosos nesta faixa etária.
Na verdade, assistindo ao chinfrim e ao horror deste ano de 2020 - em que o objectivo da maioria é apenas sobreviver, e não viver, e prescindindo de conviver - parece que estávamos muito bem nos anos 70 ou mesmo antes disso, quando os velhos com mais de 85 anos morriam muito pouco. Era um aqui, outro ali; um hoje, outro daqui a uma semana ou mês. Deduzo que no tempo da gripe espanhola morreram poucos idosos com mais de 85 anos. Desconfio, aliás, que na época da Peste Negra não terão sido mais de meia dúzia em Portugal... pelo simples facto de ser raríssimo chegar-se a essa idade.
De forma muito estranha, vivemos hoje, especialmente nesta época de pandemia histérica, um paradoxo: choramos o sucesso. Com efeito, se compararmos para Portugal as taxas de mortalidade de 2020 em TODAS as faixas etárias, TODAS sem excepção serão mais baixas do que foram no ano 2000, mesmo para os mais idosos. isto devia ser motivo de regozijo, mesmo em época de pandemia, mas não é: sente-se o medo e o pânico. A imprensa mostra u cenário apocalíptico.
Numa sociedade de baixa literacia matemática, sobretudo nas elites "culturais" (o que torna este tipo de literacia ainda mais pernicioso, porque não há pessoa mais perigosa do que, por exemplo, um filósofo completamente ignorante em Matemática), por certo que se considerará negativo que 43% do total das mortes sejam de maiores de 85 anos (como acontecerá em 2020), quando em 1995 este grupo representava apenas 22,2% do total dos óbitos. O drama é morrer-se velho quando, nas anteriores gerações, se morria novo, ou quando ser-se velho era ter 65 anos, ou mesmo 40 anos como se vêem em alguns documentos do século XVIII ou XIX,
Morrer mais velhos, morrermos cada vez mais velhos, meus amigos e minhas amigas, não é um drama. Pelo contrário. É uma vitória, mesmo se efémera. O drama é, sim, a morte; o drama não é conseguirmos adiar a morte, não é conseguirmos (como estamos a conseguir) reduzir a mortalidade em todas as faixas etárias ao longo das últimas décadas.
Devíamos sim estar optimistas, e a celebrar a vida que a Ciência e a Medicina nos prolonga, de sorte a chegarmos ao final da segunda década do século XXI e estamos perante um novo vírus que mata proporcionalmente menos pessoas do que uma gripe mais agressiva nos anos 90 do século XX. E sobretudo vivermos e convivermos, não deixando que a Política e a Imprensa nos convençam que é um perigo viver e conviver; e que a vida serve apenas para sobreviver sob a promessa impossível de risco zero de morte.
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