sexta-feira, 15 de maio de 2020

DAS MORTES EM LISBOA E DAS COSTAS LARGAS DA COVID


Tem sido evidente que a mortalidade por covid-19 tem vindo a descer significativamente, conforme mostram os boletins da DGS. Contudo, como também tenho aqui mostrado, causa-me estranheza observar que a variação dos óbitos na faixa dos mais idosos continua pouco favorável. Encontrar onde anda o probllema é, perante a ausência de dados muito detalhados, uim trabalho detectivesco, uma vez que a DGS (a quem caberia identificar situações anormais) anda entretida a criar regras esdrúxulas que, por certo, irão ao pormenor de determinar a distância mínima entre castelos de areia nas praias.

Assim, comecei a observar as variações da mortalidade por distrito ao longo deste ano (comparar com a média daria imenso trabalho). Todos apresentam variações favoráveis (decréscimos significativos) a partir do início de Abril, embora com alguns sinais não tão evidentes em zonas menos afectadas pela covid, como Coimbra e Lisboa. No entanto, mesmo o distrito de Lisboa indicava-me que, em termos absolutos, a situação não era assim demasiado chocante, Mas havia ali sinais de desconfiança. Aprofundei a investigação. Fui ver ao nível de concelho.

Como sabem, o concelho de Lisboa (apesar de pouco afectado pela covid) é um dos mais envelhecidos do país. Fui olhar então para as variações semanais dos óbitos (entre a semana 1 e a 19) e, hélas, a mortalidade está ainda bem acima dos valores expectáveis para a época desde a segunda semana de Março (sema 13 do ano). Não há propriamente um pico de mortalidade, característico de um surto epidémico, mas antes uma subida e uma manutenção. Ou seja, desconfio que o excesso de mortes tenha outras causas que não a covid. O excesso de mortalidade que calculei desde a segunda semana de Março até agora são de quase 100 óbitos a mais, o que não é coisa de somenos, mas sobretudo denota que algo anda a falhar.

Para ter um termo de comparação regional, observei o concelho de Sintra, mais jovem, onde se observa um pico de óbitos em redor da segunda semana de Março, embora não demasiado anormal. mas a seguir uma descida significativa, estando a mortalidade actualmente dentro dos níveis expectáveis. Claramente observa-se comportamentos similares em Lisboa e Sintra entre as semanas 12 a 15, mas a seguir Sintra desce na mortalidade, e Lisboa mantém ou até sobe, divergindo ainda mais da média expectável. Isto é um sinal de alarme.

Faço esta análse apenas como alerta, mais uma vez, para a necessidade de se analisar não apenas o que se anda a passar com a covid, mas com todo as funcionalidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Convinha que fossemos rapidamente para uma "nova normalidade", que deveria ser, no caso do SNS, no sentido de repor a confiança nos cuidados de saúde básicos e na confiança das pessoas para uma assistência médica segura. De contrário, continuo a temer que o SARS-CoV-2 venha a matar mais por via indirecta do que pela covid que provoca. E não épor causa dos convíveios nas praias, nos restaurantes e nas creches.


Nota: O gráfico mostra as variações semanais dos óbitos por concelho. Está indicado o mês (Jan, Fev, Mar, Abr, Mai) na semana em que tanto o dia de início como o dia do fim dessa semana se encontram no mês referido.

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