sexta-feira, 31 de julho de 2020

DO MORTICÍNIO DE VERÃO

O mês de Julho termina hoje. Será o primeiro mês do Verão do nosso descontentamento. A menos que haja um milagre (coisa rara de suceder, e mesmo assim, por regra, apenas em cima de azinheiras), este vai ser o primeiro mês de Julho desde que há registos (e presumo desde sempre em Portugal) sem um único dia - repito UM ÚNICO dia - com menos de 250 mortes. E o mês que conta, hélas, 27 dias (poderão ser 28, com hoje), vou repetir VINTE-E-SETE dias a ultrapassar os 300 óbitos. Nunca visto em Julho e em qualquer mês de Verão. Houve ainda três dias que chegaram às quatro centenas de óbitos.

O ano mais próximo desta desgraça foi o de 2013, com "apenas" 12 dias acima de 300 óbitos (uma onda de calor terrível de duas semanas), mas mesmo assim teve 8 dias com menos de 250 óbitos. Dos 12 anos em análise apenas estes dois, e mais 2010 (com 10), 2016 (com  8), 2012 e 2019 (ambos com 1), registaram dias com mais de 300 óbitos. 

O morticínio do Julho de 2020, com uma tenebrosa estabilidade em alta, pode ter um pequeno dedo do calor em alguns poucos dias, mas escancara sobretudo a terrível situação de fragilidade e abandono da população idosa, fruto dos continuados abandonos e suspensões dos cuidados de saúde essenciais  (73% da mortalidade em Julho foi de pessoas com mais de 75 anos).

Se esta situação se mantiver, acho que sim, que devemos usar, sim senhor, as mãos para reagir a esta "linda" actuação da DGS e do Governo (que comandam o SNS), mas não propriamente para lhes bater palmas. 


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