quinta-feira, 23 de julho de 2020

DA FÁBRICA DE FAZER MORTOS

Bem sei: aqui vai mais um sermão aos peixes. Mais um post que irritará uns quantos. Mais uma minha perplexidade nestes tempos distópicos. Mas segue.

Ora, tenho para mim, que os hospitais são locais para salvar vidas; não apenas para registar últimos suspiros. Tenho também para mim que nos hospitais existem várias funções: médicos, enfermeiros e outro pessoal fundamental para a gestão da saúde individual e pública. Os dois primeiros grupos devem (e sabem fazê-lo) salvar vidas. Não se lhes peça mais O outro vasto grupo deve fazer funcionar a «máquina», o que também salva vidas, ou as deixar morrer prematuramente se houver desleixo.

Tenho para mim, continuando, que neste último vasto grupo deveria haver pelo menos uma "alminha" que monitorizasse o que se anda a passar quotidiamente no conjunto dos hospitais. É tarefa que não é complicada, porque felizmente até existe moderna monitorização (e Portugal está na vanguarda). Porém, a tecnologia não é tudo. Tem de ser usada, olhada e depois tem de existir acção. Ou seja, eu gostava que houvesse uma "alminha" que olhasse para os números; ou então que um qualquer informático lhe pusesse uma buzina na orelha para o alertar em situações anómalas.

Tudo isto para dizer que não consigo, sinceramente, compreender como é possível que a DGS, o SNS ou alguém dos raio que nos parta não veja que desde a última semana de Junho esteja a ocorrer um incremento absurdamente elevado de mortes em unidades hospitalares, que atingiu, até agora o ponto mais alto em 20 de Julho, e nada se diz, nada se faz, nada. Tudo na paz do Senhor. Como se, na verdade, não estivessemos a viver uma siruação completamente anormal, e que não tem a ver com a covid. Uma situação de calamidade que, na verdade, está a ser pior do que a registada no pico da covid em Março-eAbril.

Não, não estou, infelizmente, a exagerar. Vejam o gráfico: em Julho, nas unidades de saúde devia estar a registar-se menos de 170 óbitos diários. Já ultrapassámos os 230, acima mesmo dos valores do pico da covid, e a cois começou a ser detectável ainda em Junho. Estamos hoje, em Julho, senhores!, com níveis de mortalidade em unidades de saúde que são típicas de Janeiro, o que é tudo menos normal.E não: não é por causa da covid.

Digam-me: o que anda a suceder nos hospitais? Colapsaram? Levam para lá agora apenas os moribundos, as pessoas que estão nas últimas? Os hospitais servem apenas agora para registar mortes? E ninguém acha isto estranho? Ninguém investiga? Todos acham a coisa "normal", não o sendo?


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