Quando se fizer, verdadeiramente, sem “ideologites”, o balanço do impacte da covid e destes tempos distópicos, deve ter-se em consideração análises e reflexões como estas que se seguem:
1) A covid-19 matou, entre Março e finais de Junho, 1.579 pessoas, tendo o coronavírus sido detectado em 42.523 pessoas.
2) Em virtude das medidas de confinamento e distanciamento social, entre Março e finais de Junho de 2020, o SNS detectou menos 46% episódios de gripe e menos 66% de episódios de infecções respiratórias do que a média de 2017-2019 em período homólogo.
3) Entre Março e Junho dos anos de 2017 e de 2018 (anos com dados oficiais disponíveis), a taxa de letalidade por infecções respiratórias (mortes por estas causas por total de casos de gripes e infecções respiratórias) rondou os 1,64%.
4) Significa isso que este ano de 2020, entre Março e Junho, em virtude das medidas de confinamento e distanciamento, terão morrido cerca de 700 pessoas por infecções respiratórias "comuns" (715, na minha estimativa), ou seja, menos - repito, menos - cerca de 1.300 pessoas daquilo que seria expectável (e que ocorreriam, certamente, se não houvesse covid, porque não haveria assim confinamento nem distanciamento social).
5) Resulta assim que, em termos de balanço, por causa da covid terão morrido mais cerca de 300 pessoas do que seria expectável morrerem por infecções respiratórias entre Março e Junho de 2020. Ou seja, explicando em detalhe o raciocínio. Sem SARS-CoV-2, assume-se que teriam morrido, nestes meses, por infecções respiratórias, cerca de 2.000 pessoas (como nos outros anos). Ora, directamente pela covid morreram 1.579 pessoas , a que se tem de acrescentar mais 715 óbitos (estimativa) por outras infecções respiratórias para este ano, no período em análise, dando assim quase 2.300 óbitos. Deduzindo as tais 2.000 mortes "habituais" por infeccções respiratórias, temos então o impacte líquido da covid: 300 óbitos a mais.
6 - Porém, temos o outro lado da “moeda”. Também pelo forte contributo das (erradas, na minha opinião) decisões políticas na luta “obsessiva” contra a covid (adiamento de cirurgias, exames, consultas, e da fuga por pânico e medo das urgências hospitalares), o excesso de mortalidade foi assustador entre Março e Junho (e piorou mais em Julho). Considerando a média de 2009-2019, o excesso de óbitos entre Março e Junho este ano é de 4.182, com um intervalo de confiança (a 95%) entre 2.311 e 6.053 óbitos), o que torna a situação particularmente trágica.
7) Em tom de conclusão: parece-me evidente que o pandemónio em redor da covid terá causado muitas mais mortes do que a própria pandemia. E o mês de Julho tem confirmado, e temo que a situação possa tornar-se mais dramática. E nem sequer estou a meter ao barulho a Economia.
Nota 1: Links de bases de dados oficiais usadas:
a) Mortalidade em Portugal (DGS) - https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOGRhNjdjYzgtOGZmNy00NDZjLWI1YTctNWQyNzRiMDg3NzJiIiwidCI6IjQyOTc3ZjkwLWE1NjItNDk1OS04ZjJjLTE4NDE2NjI1Zjc2NiIsImMiOjh9&mnredir=1&lnc=6047AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
b) SICO (DGS) - https://evm.min-saude.pt/#shiny-tab-q_total
c) Monitorização da gripe e outras doenças infecciosas (DGS) - https://www.sns.gov.pt/monitorizacao-do-sns/servicos-de-urgencia/caracterizacao-urgencias/?fbclid=IwAR22DhJxh8R42-krtfppvYBVRJ9gtD57udtBOl2O8tLww2d18TME7rvoCNk
Nota 2: A mortalidade por infecções respiratórias para os anos de 2017 e 2018 são oficiais; para os anos de 2019 e 2020 são estimativas com base com base na taxa de letalidade média para os anos de 2017 e 2018 (1,64%). Foram calculados, para os anos de 2017 e 2018, as taxas de letalidade mensais (Março a Junho) que variam entre 1,49% e 1,84% em 2017, e entre 1,48% e 1,78% em 2018.
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