quarta-feira, 15 de julho de 2020

DO ENIGMA DO AUMENTO DAS MORTES EM BONS ARES

Desde que há registos automáticos (a partir de 2016), nunca houve tão poucas doenças respiratórias na Primavera e Verão, fruto do distanciamento social imposto pelo SARS-CoV.

Analisando os dados da Monitorização da Gripe e de Outras Infecções Respiratórias da DGS, desde Março deste ano registou-se uma queda acentuadíssima deste tipo de afecções, o que levou, obviamente, a menor quantidade de internamentos e, claro, de mortes. Vejam o primeiro gráfico que apresenta a variação ao longo dos meses, tanto nas gripes como em outras infecções respiratórias. Não é, aliás, surpresa para ninguém que o Inverno tem os valores máximos (tanto para a gripe como para as outras afecções), mas na Primavera e no Verão essas doenças não desaparecem nunca de todo (mesmo a gripe).

Porém, o mais surpeendente é que, apesar de tudo isto, está a morrer-se muito mais. Apenas a título de exemplo, no dia 14 de Julho de 2019 (ou seja, fez ontem um ano) registaram-se 39 episódios de gripe, 977 episódios de outras infecções respiratórias e, globalmente, morreram 254 pessoas.

Ontem, ano da desgraça de 2020, apesar de se registarem apenas 10 episódios gripais (-75% em relação a 2019) e somente 235 episódios de outras infecções respiratórias (-76% em relação a 2019), conforme podem ver no segundo gráfico, acabaram por morrer 378 pessoas (valores provisórios).

Significa isto que, mesmo com a covid-19, estão a ocorrer muito menos infecções respiratórias (que é uma das principais causas de morte), mas anda-se a morrer muito mais. Muito mais mesmo. Especulo assim, e permitam-se a ironia negra, para esconder a irritação: como o SNS não anda a dar conta do recado para as outras doenças, consolemo-nos pelo menos com o facto de o último fólego de muitas das vítimas deste abandono, que morrem de mil e outras coisas, algumas evitáveis, ser feito a plenos pulmões, bem sadios.



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