domingo, 6 de dezembro de 2020

DOS SOBREVIVENTES

Nunca vi, em qualquer ano anterior, um jornal a dedicar insistentes reportagens sobre os “sobreviventes” de outras doenças ou mesmo das pneumonias que, quando levam a internamentos, apresentam taxas de letalidade que ultrapassam os 20%. 

Neste aspecto, o Público, enfim, la vai seguindo o seu novo “livro de estilo”, pró-apocalipse, e hoje presenteia-nos cim uma sugestiva reportagem intitulada “E depois da covid-19? As dores e os projectos que continuam com os sobreviventes”. 

Aí está: SOBREVIVENTES! Ou melhor dizendo, como afirma a jornalista Andrea Cunha Freitas, o “pelotão de sobreviventes”, que estão com “mazelas”, supostamente inimagináveis e únicas, que são, parece para quem leia a dita reportagem, exclusivas da nova doença.

Ora, mas de quantos SOBREVIVENTES com “mazelas”, de toda a ordem, estamos a ter? São 10? São 100? São 1.000? São 10.000? São 100.000? Um milhão? A reportagem responde. Citemos Andrea Cunha Freitas: “Há, actualmente, cerca de 200 mil pessoas em Portugal que tiveram covid-19 e recuperaram. No mundo serão cerca de 40 milhões. Porém, muitos não escaparam ilesos.” 

Aí está: são MUITOS, o que é um número que se situa entre 0 e mais infinito. E que justifica inteiramente que se chegue à conclusão de a nova doença só dar dois resultados possíveis: mortos ou sobreviventes. Com mazelas.

A reportagem do Público pode ser lida aqui.



1 comentário:

  1. Perdoe-me a «graçola».
    'Muitos' são sempre diferentes de 0 (Zero) e podem ir para quaisquer dos infinitos; seja o 'universo' positivo, seja o 'universo' negativo.
    Aliás a humanidade mais facilmente acreditou nas partes positiva apesar de se adivinhar que há imensas mais partes negativas [*] ou negras.

    [*] Como escreveu Millôr Fernandes, nega tivas, referindo-se às nativas mulatas.

    Um abraço do oliveira

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