A obsessão da imprensa pela Suécia atinge níveis patológicos. Hoje divulgam aos sete ventos, de forma quase orgástica, que o rei sueco assumiu que a abordagem falhou. Que queriam que ele dissesse? Que resultou? Que estava contentíssimo pelas mortes?
Aquilo que mais me irrita na cobertura noticiosa sobre a Suécia, castigada pelos media por ser “impura", por não seguir a estratégia dos demais, é a falta de reconhecimento de uma estratégia correcta que sempre pressupôs a correcção de erros depois de se assumirem publica e transparentemente falhas nos cuidados dos lares. Numa primeira fase, durante a Primavera, terão aí morrido mais de três mil idosos. Não por falhas na estratégia aplicada à comunidade, mas por falhas nos serviços médicos nos lares, as quais não são responsabilidade da Agência sueca de Saúde Pública. Porém, desde o Verão, a situação sueca não me parece dramática dentro do contexto de uma pandemia que tem afectado países com estratégias muito rígidas, com recurso a máscaras até na rua (um absurdo), lockdowns e recolher obrigatório. Elogio a estratégia da Suécia não por ser imaculada, mas sim por ser racional, por reconhecer falhas, e adequando as medidas em função da situação a cada momento, em vez de andar a accionar medidas como baratas-tontas, sem avaliação, sem bases científicas, só porque sim, e escondendo os verdadeiros problemas.
Ainda mais curioso é reparar como a imprensa portuguesa, do qual o Público se constitui porta-estandarte, não deslarga a Suécia, que tem já menos casos positivos que Portugal, que dentro de um mês terá previsivelmente menos mortes por covid, e que (falarei com detalhe sobre isso muito em breve, com cálculos) tem tratado muito melhor os seus idosos do que o nosso país. Não vejo tanta preocupação com a Bélgica que é o país líder da mortalidade, e ainda por cima com duas ondas muito pronunciadas (aqui sim, evidente) de elevada mortalidade.
Em todo o caso, convém relembrar que a Suécia está longe, à escala mundial, de ser um modelo de sucesso na pandemia (na Europa há muito poucos), mas não é nenhum inferno. Deixo aqui os 20 países que, apesar da suposta terrível situação da Suécia, estão com mais mortes por milhão de habitantes (e incluindo apenas países com mais de 1 milhão):
1 - Bélgica
2 - Itália
3 - Peru
4 - Bósnia
5 - Eslovénia
6 - Macedónia do Norte
7 - Espanha
8 - Reino Unido
9 - Estados Unidos
10 - República Checa
11 - Argentina
12 - França
13 - Bulgária
14 - México
15 - Arménia
16 - Brasil
17 - Chile
18 - Panamá
19 - Equador
20 - Hungria
P.S. As fotos são da minha viagem à Suécia em Agosto, onde se vive, apesar da pandemia. Só se morre se se viveu. Se se nasceu e não se viveu, a morte é apenas o inglório regresso ao tempo anterior ao nascimento.
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