domingo, 13 de dezembro de 2020

DO "BRUTAL" IMPACTE DA COVID NA SUÉCIA

Como não tenho os mesmos dados para Portugal, faço esta análise para a a omnipresente Suécia, que como se sabe está (ainda) com mais mortes por covid do que Portugal.

Vejamos então o que se passa na Suécia com a pandemia. O Statistiska centralbyrån (SCB), o homólogo do nosso INE na Suécia, reportou, pelo 10º mês consecutivo de 2020 um aumento populacional naquele país escandinavo. No início do ano estimava-se a existência de 10.336.399 pessoas; em Outubro contabilizavam-se 10.377.781. Deduzo que em Portugal, o saldo natural vai ser negativo, mas não por culpa da covid. Na Suécia, todos os meses de 2020 registam aumentos em relação ao mês anterior e ao mês homólogo do ano anterior. A covid trouxe consequências? Sim, Até 25 de Novembro houve um acréscimo de 4,9% dos óbitos em relação à média dos cinco anos anteriores, pese embora os cerca de 7.500 óbitos por covid, mas esse valor é inferior ao peso da covid no total da mortalidade no ano (8,4%), o que evidencia que o seu sistema nacional de saúde não colapsou; pelo contrário. Falarei melhor sobre isso, comparando com Portugal, muito em breve.

Mas vamos lá apresentar alguns dados, e "desenhos" (leia-se gráficos) para ver o impacte da covid na Suécia, e deduzir assim o motivo pelo qual as suas autoridades não entraram em pânico nem em esquizofrenia impondo medidas absurdas. 

Gráfico 1 (G1) - Mostra o impacte absoluto da mortalidade por covid na população sueca (estimada em 2019) por faixa etária. Em termos globais, sendo a Suécia um dos países com maior mortalidade por milhão de habitantes por covid, esta doença matou 0,07%. Daí que nem sequer se veja bem as barras vernelhas no gráfico, sendo que até aos 30 anos é zero. Recordemo-nos com a gripe espanhola, dependendo da fonte, matou entre 1,0% e 5,4% da população mundial no período 1918-1920.

Gráfico 2 (G2) - Mostra a taxa de mortalidade (por 100 habitantes) por faixa etária. Coloquei duas casas decimais para que não se pensasse que não houve mortes até aos 70 anos. Só a partir dos 90 anos a taxa de mortalidade supera os 1%. Julgo que, a partir dessas idades, a morte já era frequente, mesmo antes da covid.

Gráfico 3 (G3) - Mostra a taxa de letalidade por faixa etária na Suécia, ou seja, óbitos por 100 casos positivos, onde mais uma vez se evidencia que a covid é sobretudo uma doença perigosa para idades avançadas, e portanto as medidas de saúde pública e os protocolos clínicos devem ter isso em elevada consideração. Considerando a população sueca, significa que a doença só constitui um problema relevante para 15% da população, aspecto relevante na definição das estratégias de combate ao vírus.

Gráfico 4 (G4) - Mostra a taxa de internamento por faixa etária na Suécia (em Portugal ignora-se). Como se pode observar os valores são globalmente muito baixos, notando-se também aqui um padrão interessante: as maiores percentagens não se observam no grupo dos mais idosos (80-89 e mais de 90 anos). Cruzando com a taxa de letalidade, isto mostra sobretudo que uma grande parte das mortes advém de um estado clínico (sobretudo em idades muito avançadas) que já era grave antes do surgimento da covid. Em suma, muitas das pessoas que faleceram por covid teriam, infelizmente, morido mesmo com uma simples pneumonia, caso  a tivesse contraído.

Em suma, estes quatro gráficos, olhados sem paixões exacerbadas e pânicos esquizofénicos, são utéis para compreender a visão racional da Suécia. É certo que todos lamentamos (e lamentaremos ainda mais se forem pessoas chegadas... ou nós próprios) as mortes por covid, mas como sociedades temos obrigação de ponderar de forma racional os impactes de uma determinada doença no contexto socio-económico e de saúde público. Não podemos continuar a querer acabar com uma dor de cabeça da sociedade, estrangulando-lhe a goela. 

Fonte: Agência de Saúde Pública da Suécia (dados da covid, aqui) e SCB (dados populacionais, aqui e aqui).






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