Uma das coisas que mais me irrita - sim, tenho andado irritado - é a incapacidade da maioria dos Governos europeus em assumirem erros (e o de Portugal, nesse aspecto, tem esse problema crónico) e em procurarem e adoptarem soluções que se mostraram bem-sucedidas noutros contextos - aquilo que se chama benchmarking.
Isto a pretexto da propalada segunda onda da c0vid, e da preferência por estratégias que de eficácia duvidosa na contenção da pandemia e com evidentes consequências nefastas na Economia e na saúde mental das populações.
Sendo certo que, na União Europeia (UE-27), o mês Novembro foi o pior desde o início da pandemia (94.193 óbitos contra 75.472 registados em Abril), não se pode afirmar - na minha opinião é errado e abusivo - que a (suposta) segunda onda está a ser pior do que a primeira (Primavera). Com efeito, se compararmos a situação dos cinco países com maior mortalidade por c0vid em Abril (França, Espanha, Itália, Bélgica e Alemanha) com a mortalidade em Novembro observamos uma redução de 16% no número de óbitos. A primeira onda, em termos efectivos no seio da UE-27, foi extremamente localizada. Os cinco países acima identificados agruparam 85% das mortes em Abril; agora em Novembro ronda os 57% (e uma redução absoluta de 10 mil óbitos). Em Abril. e em termos relativos (padronizado à população portuguesa), a situação apenas se mostrou preocupante sobretudo na Bélgica (194 óbitos diários), Espanha (117), França (105), Itália (86), Suécia (86), Irlanda (82) e Holanda (74), sendo que então em 16 países da UE-27 se registou uma mortalidade diária inferior a 20 óbitos (padronizados), a maioria dos quais localizados na região leste e norte da Europa
Na verdade, Novembro veio sobretudo mostrar que a c0vid atacou sobretudo os países que tinham sido poupados ao "ataque" da Primavera. De entre os oito países que em Novembro registaram mais de 100 óbitos diários (padronizados), somente na Bélgica e na Itália se pode dizer que existe uma segunda onda, podendo-se acrescentar também o Luxemburgo (embora seja caso especial, devido à reduzida população).
De resto, os outros países bastante afectados em Novembro (Eslovénia, República Checa, Bulgária, Hungria, Croácia e Polónia, numa primeira linha, e Áustria, Roménia e Grécia, numa segunda linha), tinham tido valores relativamente reduzidos de mortalidade na Primavera. Ou seja, não se pode dizer que estejam a sofrer uma segunda onda, mas sim uma primeira onda, pois não a tiveram na Primavera.
Porém, na minha opinião, aquilo que se deveria estar a olhar era sobretudo para os casos de sucesso, quer para os países que se estão a portar relativamente bem neste Outono (face à Primavera) quer para aqueles que sempre mantiveram a c0vid longe de constituir um factor de mortalidade excessiva.
No pimeiro lote, excluindo Chipre (por ser ilha de pequena dimensão), destacaria a Finlândia, a Dinamarca e a Estónia, que têm conseguido, ao longo dos meses, sempre baixa mortalidade, e sobretudo agora em Novembro. Note-se que na Finlândia e na Estónia a máscara não faz parte da estratégia de contenção da pandemia.
Num segundo lote, destacaria as boas evoluções da Espanha (que, mesmo ainda não estando num situação aceitável, conseguiu reduzir a mortalidade de Novembro em 50% face ao valor de Abril) e sobretudo da Irlanda e, em certa medida, da Suécia. Este último país é, como se sabe, o mais "liberal" e menos restritivo de todos os países da UE-27, e embora tenha aumentado significativamente a mortalidade em Novembro, é o oitavo com menos mortes diárias. No caso da Irlanda, cuja realidade e estratégia conheço mal, a evolução desde Abril é impressionamente favorável.
Em suma, de uma forma racional, em vez de se insistir em medidas de eficácia absurda (e.g., máscaras na rua, que é das medidas mais estúpidas, como vos asseguro por experiência própria de 19 dias na Itália) ou contraproducentes (restrições de horários ou de acessos, que mais não fazem do que aumentar congestionamentos e comportamentos de maior risco). parecer-me-ia mais útil analisar as práticas que foram sendo implementadas noutros países e que tiveram sucesso. E aplicá-las, adoptando-as à realidade de cada país.
E, sobretudo, acabar com o mito de a c0vid estar a ser uma catástrofe equiparada à gripe espanhola, e que existe uma segunda onda pior do que a primeira. Nesta linha, um artigo do "inefável" David Dinis, no Expresso desta semana, é de uma ignorância criminosa...
A c0vid, assuma-se, é um actualmente problema grave de Saúde Pública, não apenas por causa do SARS-CoV-2 mas sobretudo pelas estratégias políticas seguidas por muitos Governos. E temo cada vez mais que o lastro que deixará, em termos de mortes e de danos para a Economia, será sim catastrófico, se se mantiver o status quo dessas políticas, assente num histerismo generalizado.
O gráfico que em baixo apresento mostra como era a mortalidade por c0vid em finais de Maio e em finais de Novembro, que permite, interpretando, verificar que Novembro fustigou sobretudo os países poupados aos "ataques" da Primavera, Oprtunamente, se possível, apresentarei aqui mais análises sobre a evolução da pandemia na UE-27.
Fonte: Worldometers (dados actualizados).
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