terça-feira, 8 de dezembro de 2020

DOS EPIDEMIOLOGISTAS QUE MATAM COM O SUSTO

Pegue-se num "assunto qualquer" e pergunte-se a uma especialista desse "assunto qualquer" se esse "assunto qualquer" é importante. O especialista desse "assunto qualquer", pessoa competentíssima mas com alguma compreensível frustração por nunca lhe perguntarem se o tal "assunto qualquer" é importante, aproveitará a oportunidade para exacerbar a importância desse "assunto qualquer". No limite, dirá que a sobrevivência da espécie humana está dependente de assumir que esse "assunto qualquer " é fundamental e deve ser relegado para o patamar da importância suprema em exclusivo e para todo o sempre.

Ora, exagero à parte, o maior erro da estratégia de combate à actual pandemia foi não ter permitido um debate sério entre as diversas perspectivas que se jogam quando se está perante questões relacionadas com políticas de Saúde Pública. A ideia obtusa, muito portuguesa, de ter dado a primazia absoluta a epidemiologistas, virologistas e pneumologistas - pouco habituados à atenção dos media e do público -, levou a um inquinamento da comunicação, e cometeram-se erros de estratégia e de comunicação. 

Ainda hoje estamos a pagar isso, mas o mal começou desde cedo, logo no início da pandemia, onde teria sido fundamental uma estratégia de comunicação ponderada, e medidas políticas com alguma maturidade. Começou-se mal, e pior se continua, com a persistente informação enviesada e a comunicação social a aliemtar continuamente o pânico. Não surpreende que, sobretudo em países de fraca literacia em Saúde, as mortes em excesso sucedam por "fuga" aos serviços de urgência. 

Em Portugal, quase nove meses depois das primeiras mortes da "dita doença", os serviços de urgência continuam com um índice de procura de cerca de metade da resgistada antes da pandemia. No primeiro gráfico, a título de exemplo, apresento o número total de episódios de urgência para o dia 6 de Dezembro. A brutal queda não se deveu ao facto de os portgueses terem passado a estar mais saudáveis, mas sim mais temerosos de irem ao hospital. Alguns fizeram mal, porque simplesmente morreram em casa.

Um outro sinal evidente de que a morte pode vir pelo susto evidencia-se pela análise do segundo gráfico, que mostra a percentagem de óbitos em 2020 fora dos estabelecimentos de saúde. Por norma, e nesse aspecto a Saúde de uma sociedade parece um relógio suíço, regista-se ao longo de um ano médio uma percentagem entre 35% e 40% do total dos óbitos fora dos hospitais (residências, lares, ruas, etc.). Porém, vejam o que sucedeu em Março, numa primeira fase quando surgiu os casos positivos, e sobretudo a partir da segunda quinzena com as primeiras mortes e o decreto do confinamento. Num ápice, a mortalidade fora dos hospitais subiu até aos 47% e esteve longos meses sempre acima dos 40%, e bem acima da média. 

Em suma, o medo mata. E tem matado mais do que o SARS-CoV-2, Mas são mortes invisíveis. Esquecidas, Irrelevantes. Não é assim, Direcção-Geral da Saúde?

Fonte:SICO-eVM e SNS (vd. aqui).





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