terça-feira, 15 de setembro de 2020

DAS CONSEQUÊNCIAS DO MEDO E DAS MÁS ESTRATÉGIAS

Decidi fazer um simples exercício: comparar a mortalidade total dos últimos 365 dias (14 de Setembro de 2019 a 13 de Setembro de 2020) com um período homólogo que tivesse tido um surto gripal relevante e também uma onda de calor no Verão. Escolhi assim o períod homólogo de 2016-2017.

Vejam como foi o surto gripal de 2016-2017 e comparem-no com o surto gripal de 2019-2020 e com o pico da covid de 2020. Mas depois comparem sobretudo os dois Verões.

Na verdade, apesar daquele terrífico pico da gripe de 2016-2017 (sobre o qual nem um ai se ouviu da DGS e do então Governo, já então liderado por António Costa), a mortalidade no período em análise (365 dias) acabou por ser inferior ao de 2019-2020.

Com efeito, para o mesmo número de dias registaram-se 111.150 óbitos em 2016-2017, enquanto em 2019-2020 foram 117.152. Ou seja, mais 6.002 óbitos para 2019-2020 (e ninguém diria, vendo aquele pico de gripe em 2016-2017). Grande parte desta diferença surge a partir de Julho. A diferença de mortalidade entre 1 de Julho e 13 de Setembro nos dois períodos em análise é de 4.066 óbitos.

Ou seja, este Verão, quase sem mortes por covid, está a ser devastador, donde continuo a insistir que a gestão da covid está a ser catastrófica, não por causa da gestão da covid propriamente dita, mas sim pela forma como se está continuadamente a descurar os serviços de saúde. Não estamos a morrer pelas balas do inimgo (leia-se, covid), mas de fome e sede (leia-se, falta de serviços de saúde para as outras afecções e doenças)

Nota: Análise feita com base nos dados do SICO-eVM. O período em análise para ambos os anos teve em consideração o ano bissexto de 2020, pelo que houve um acerto no calendário para 2016-2017, de modo a se compararem 365 dias.



2 comentários:

  1. Boa tarde, acho que se está sempre a comparar algo que parte de um ponto de vista errado. Apesar da comparação ser matemáticamente correcta, os pressupostos não são os mesmos. Compara-se mortalidades COVID-19 que levou com regras muito restritas em cima (lockdown extenso por exº) com outros anos onde se deixaram as doenças como a gripe "andarem naturalmente" como sempre, sem efeitos mitigadores. A comparação correcta seria os dados da mortalidade COVID-19 à "rédea solta" com as dos outros anos. Assim chegamos sempre a estas conclusões de que as mortes COVID-19 são poucas mas sem sabermos se não serão poucas porque se esteve a evitar que a doença se espalhasse.
    Espero ter sido claro.
    Obrigado

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    1. Nesta análise em concreto,aquilo que pretendo mostrar é exactamente o efeito do medo e de estratégias excessivamente protectionistas para uma determinada doença (neste caso, a covid) mas que descura todas as outras. Não tenho qualquer dúvida que a covid mataria mais sem um lockdown, mas também não tenho dúvidas que a mortalidade seria muito mais baixa no Verão deste ano se o SNS não tivesse a meio gás e não se tivesse instalado um pavor na ida às urgências. Note ainda que o lockdown, sobretudo na Primavera, veio reduzir a mortalidade por pneumonias. Tenho feito ultimamente análise em função das taxas de mortalidade para diferentes grupos etários,que mostra que a proporção de mortes nos mais idosos só começou a ser desfavorável em relação à média a partir de Junho,período em que abrandou bastante a incidência/mortalidade pela covid. Donde, penso que faz todo o sentido estas análises, que procuram sempre explicar a realidade. Sobre a comparação entre lockdown e não lockdown (com medidas menos restritivas) temos o caso da maioria dos países europeus e a Suécia. Não me parece que a Suécia esteja agora mal na fotografia.

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