domingo, 27 de setembro de 2020

DA PNEUMONIA, DA COVID, DO DOUTOR FILIPE FROES E DA OBSESSÃO QUE NOS MATARÁ

Uma das pessoas que tem "surfado" bem a suposta onda do SARS-CoV-2, assumindo-se como um "Papista da Covid", à espera da recompensa, é o Doutor Filipe Froes. Depois de em Março ter votado no Conselho Nacional de Saúde Pública contra o encerramento das escolas, tem ele, nos últimos tempos, sido um acérrimo defensor do uso de máscaras em todo e qualquer lugar e da gravidade da situação. Parece, quem o vê, que a covid é a única doenças respiratória que mata, e que ele, eminência parda, nunca tal viu. Pois, eu quero acreditar que ele vê bem, mesmo se usa óculos como eu; e que vê todos os anos muito pior do que a covid. Todos os anos ele vê a pneumonia a atacar. E a atacar bem.

Na verdade, eu até aceitaria as mudanças do Doutor Filipe Froes se o tivesse visto, há um ano ou antes, a fazer-se ouvir, lutando a favor de medidas de controlo da "descontrolada" e "imprevisível" pneumonia, que, por exemplo, em Janeiro de 2017 matou diariamente mais do que a covid no seu pico em Abril deste ano.

E que, sistematicamente, nos outros meses, mata habitualmente sempre mais do que a covid anda agora a matar. Por exemplo, este mês de Setembto a covid matou cinco pessoas por dia; as mortes por pneumonia em Setembro de 2017 e 2018 matavam na ordem da dezena por dia.

De facto, eu gostaria de ter visto o Doutor Filipe Froes, e a nossa imprensa, a defender em 2017, ou mesmo antes, medidas preventivas para as pneumonias, que nesse ano mataram 5.596 pessoas. E que também dêsse murros na mesa em 2018 por não ter sido feito nada, resultando na morte de mais 5.724 pessoas pela pneumonia. Não me recordo de o ter visto reagir. E nem de o ver contextualizar a covid e a mostrar como alguma coisa deve ser feito em relaçâo à pneumonia, que nem seja o 8 (como se olhava para a pneumonia) nem o 80 (como se olha agora para a covid).

Infelizmente, a DGS ainda não se preocupou em disponibilizar as mortes por pneumonia em 2019 e em 2020 (este ano terá descido bastante, por causa do distanciamento social), mas analisando os dados não há nenhum sinal de que venha aí uma segunda fatídica onda de mortes por covid, mas sim é expectávelque surja a habitual onda de mortes por pneumonias (e a covid andará à boleia mas sem dramas).Ou seja, o expectável crescimento de mortes seguirá um padrão habitual, sobre o qual o Ministério da Saúde e a Propaganda Mediática (leia-se, imprensa) pouco se importaram em anos anteriores, considerando ser "normal".

A covid, continuo a defender, é uma doença perigosa para os mais idosos e vulneráveis, mas o seu impacte está a ser sobrevalorizado, e com isso se está a subvalorizar um conjunto vasto de cuidados de saúde públicos que causa muitas mais mortes. E está também a asfixiar a Economia (de onde acham que vêm o Orçamento da Saúde senão dos impostos que dependem da actividade económica?). A obsessão pela covid está a matar-nos mais que o SARS-CoV-2.

De resto, deixo-vos aqui mais um gráfico. Só para que possam raciocinar por vocês.

Nota: Este e outros textos podem ser lidos no blog "Nos Cornos da Covid" em https://noscornosdacovid.blogspot.com/ . Os dados da mortalidade por pneumonia (SNS) podem ser consultados aqui: Para obter os dados da mortalidade por pneumonias devem ser seleccionadas as doenças utilizando a classificação ICD do J.12.0 ao J18.9. A mortalidade diária por covid em Setembro refere-se aos primeiros 26 dias.




2 comentários:

  1. Só umas achegas: Portugal tem a mortalidade por pneumonia mais elevada de toda a OCDE (Health at a Glance, OECD).
    Em média, morrem habitualmente mais de 16 pessoas por dia em Portugal por pneumonia (relatório ONDR), mas em 2020 nenhuma pneumonia grave passa sem testagem ao SARS-CoV-2. A positividade no teste é passível de alterar a habitual classificação da causa dos óbitos.

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