O Doutor Baltazar Nunes, actual responsável pela divisão de epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Pública (INSA), que não conheço, será certamente homem grato. Em 25 de Abril, o Público referia que ele apenas recomendava ser preciso "evitar que haja 'uma disrupção do Serviço Nacional de Saúde', mas também defend[ia] que se ganhe alguma imunidade da população".
Parece ter mudado de opinião a partir do momento em que começou a fazer a modelação da pandemia para a DGS. E assim, esta semana veio lesto mostrar serviço de "modelação", ou de simples lavagem, garantindo que o «INSA afasta que a quebra de cuidados [de saúde pelo SNS] possa ter sido o motivo ou a 'principal causa' para o aumento de mortalidade".
Para sustentar a sua "tese" diz que "calcular o valor de óbitos num período e subtrai-lo à média dos últimos cinco anos é um indicador mas é um indicador frágil na perspetiva de perceber quais os fatores que estão associados a esse aumento”.
Ora, até aqui tudo bem. A simples estatística descritiva não identifica factores, mas, contudo, tal não significa que seja impeditiva de encontrar evidências. E a evidência, mais que evidente (desculpem o pleonasmo), é a existência de um grande excesso, persistente, e que não se explica nem pelas (supostas) ondas de calor nem pela covid.
E devendo saber o Doutor Nunes isto, e muitíssimo mais da "cepa" do que eu, não pode, não deveria eticamente poder, minimizar um excesso consistente, persistente e inalterável ao longo de meses a fio, e que ele sabe não estar associado à covid.
Ademais, tem a DGS, através da base de dados do SICO - e portanto o Doutor Nunes, como consultor -, acesso imediato aos certificados de óbito diários, podendo assim muito, muito rapidamente apurar quais foram as verdadeiras causas de mortes no presente ano, e identificar muito, muito rapidamente as causas do excesso de mortes. Num dia de trabalho, garanto, teriam uma conclusão.
Poderia isto fazer a DGS e o Doutor Nunes. Mas a DGS, já se sabia, não está interessada. Quanto ao Doutor Nunes, constato que também, mostrando porém disponibilidade para servir de lavandaria da DGS.
Enfim, é muito triste quando chegamos à conclusão que, neste desgraçado país, até em questões de Saúde Pública estamos longe de ver independência no pensamento e na acção.
Nota: A notícia do Público de Abril está aqui (em acesso livre): A posição recente está, por exemplo, aqui.
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