No momento em que Portugal se aproxima da Suécia na mera contabilização das mortes causadas pela covid, causa-me cada vez mais estranheza que se insista que foi o nosso "simples" mau comportamento no Natal (eu, por exemplo, antecipei-o uma semana e estive apenas com parte da família) e no Ano Novo que espoletou a desgraça que vivemos. E que tudo isto é só culpa da covid, e não da incapacidade de resposta do SNS e da sua crónica debilidade exacerbada pelo pânico e a histeria.
Causa-me também estranheza que muitos ainda acenem com os erros (confessados) pelas autoridades suecas, que contam com verdadeiros epidemiologistas de formação e não com uns quantos feitos ad hoc ou porque fizerem estudos sobre epidemias, como é o caso português.
Causa.-me também estranheza que não olhem para a suposta estratégia de Portugal, que farta-se de combater a pandemia com papel (leis) e testes, mas não tem gente no terrenos para sequer saber o que se anda a passar (onde estão estudos epidemiológicos, de risco a nível local; se vissem o que a Suécia tem caíriam de vergonha; veja, a este respeito o recente post do Tiago Franco).
Para todos aqueles que apontam para a Suécia, e depois os comparam aos outros países escandinavos, digo-vos: é verdade que a Suécia apresenta resultados menos bons que a Noruega, a Finlândia e até a Dinamarca. Mas aqueles países fecharam. Querem assim? Mas a questões centrais são duas. Primeiro, querem agora viver uma vida sem risco e dar em troca a própria possibilidade de viver e conviver? Segunda, mas os resultados da Suécia foram maus? Foram anormais ao longo de 2020?
Há dias mostrei aqui um simples gráfico que comparava a taxa de mortalidade dos maiores de 65 anos na Suécia em 2020 e comparava com a taxa de mortalidade média (média dos óbitos dos cinco últimos anos a dividir pela média da população desse período).
Decidi, no entanto, desagregar esses cálculos por ano e por grupo etário, para evitar qualquer viés. E sobretudo mostrar como, antes da covid, eram (e continuarão a ser) bem diferentes as probablidades de se morrer aos 65 anos ou aos 90 anos. Parece que se anda a esquerecer que, por exemplo, alguém com mais de 90 anos já tinha a probabilidade em 20% de se finar ao longo de um ano, enquanto aos 65 é de menos de 2%. Portanto, uma pessoa de 65 anos não deveria entrar em pânico porque sabe que há muitas pessoas de 90 anos a morrer. Com ou sem SARAS-CoV-2. É a infeliz Lei de uma Vida Feliz.
Posto isto, olhem para os gráficos. Qualquer pessoa sem vendas ideológicos ou sociológicas poderão constatar que a taxa de mortalidade em todos os grupos etários na Suécia em 2020 foi praticamenrte semelhante aos anos anteriores, tanto no grupo dos 65-79 anos, no grupo dos 80-89 anos e no grupo dos maiores de 90 anos. Em alguns casos, o ligeiríssimo aumento entre 2019 e 2020 decorre de uma pequena descida da taxa entre 2018 e 2019. A maior subida (se assim se pode chamar) foi nos maiores de 90 anos [quem nos dera a todos chegar a essa idade], onde 2020 teve uma taxa superior em 0,7 pontos percentuais em relação ao anterior máximo no período (2017, que tinha uma taxa de 23,6%). [não é possível comprarar com Portugal, porque no SICO só há a classe dos maiores de 85 anos]
Ou seja, efectivamente morreram mais suecos idosos (em termos absolutos) durante o ano da pandemia, mas porque também a Suécia contava mais idosos do que nos anos anteriores. A proporção manteve-se. Factualmente, não se vê o impacte da pandemia como se vê em Portugal.
Os resultados da estratégia da Suécia, apesar de todo o histerismo e de acusações de eutanásia (com base em relatos sobre injecções de morfina [aqui em Portugal é mais morrerem os velhos à sede], é uma estratégia que apresentou bons resultados, porque não parou a sociedade, a Economia, as relações sociais, nem andou em derivas totalitárias. Foi a melhor estratégia. Eu sei que muitos não querem admitir, mas é essa a realidade.
Ah, e a Suécia não fechou escolas com a fúria dos europeus. E porquê? Porque estudos epidemiológicos, feitos por epidemiologistas à séria, com base em ciência empírica (e não em ciência feita em auditórios) concluiu que o risco era irrelevante. Aliás, um estudo sueco, publicado este mês numa revista inglesa (The New England Journal of Medicine, vd. aqui) aponta para zero mortes entre as crianças e um risco mínimo, mínimo para os professores. E tudo sem máscaras.
Fonte: SCB (o INE da Suécia)