quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

DA CURA E DA INCÚRIA

O problema é, mostra-se cada vez mais, na incapacidade do SNS em salvar os doentes. Nos maiores de 80 anos a taxa de letalidade era, no início da pandemia, de 20%. Com a melhoria dos conhecimentos na melhor terapêutica foi conseguindo-se baixar até rondar os 15%. De repente, dispara para os 34%. Mais do que duplicou. Isto explica porque andam a morrer mais de 200 pessoas por dia, em vez de menos de 100, como tenho tentado referir nas minhas previsões.

A culpa não é dos médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde.

A culpa é de um um Sistema e de uma estratégia que desinvestiu na Saúde durante anos (políticos de todos os quadrantes), que deixou diminuir em mais de 900 o número de médicos em plena pandemia, que mentiu no número de camas disponíveis, que não implementou um plano de contingência para a vaga de frio.

Os médicos nem sempre fazem milagres. Os políticos, esses, nunca. Na generalidade, fazem merda. E desta vez apanhamos com ela nas fuças. E muitos ainda agradecem. E criticam quem anuncia que o rei vai nu.

DAS VACINAS

 E o motorista que se *oda! O importante é a carga.

Iin Público)

DA NOVA PREVISÃO E DA CONFIRMAÇÃO DO COLAPSO DO SNS

Enquanto se discute encerramento de escolas, parece que os lares continuam a alimentar os hospitais e as morgues. E ninguém parece interessado em saber porque hoje previsivelmente morrerão entre 218 e 227 pessoas (cf. actualização em baixo). 

Ontem "falhei" por quatro óbitos (no modelo da taxa de mortalidade), mas para mim mais importante do que acertar é destacar que existem sobretudo três razões para esta hecatombe:

a) número de internados acima de 3.500 (a partir do qual o sistema entra em colapso), muito abaixo das propaladas 17.000 camas que o Governo dizia existir em Outubro;

b) a população idosa estar numa situação de elevada fragilidade face ao abandono da assistência médica ao longo de mais de 10 meses;

c) o descontrolo completo nos lares, onde se continua sem ter números diários porque Imprensa e Governo não querem saber, e que estão a lançar para os hospitais os idosos para morrerem.

Estamos a viver um período complicado, mas não se culpe o SARS-CoV-2 nem se olhe agora para as escolas como o problema. São manobras de diversão do Governo. 

Estamos a deixar morrer os velhos e a "matar" uma sociedade. Portugal é o único país da Europa Ocidental, a par do Reino Unido, que está num pico de mortalidade. E isso não se deve à covid mas ao falhanço no tratamento da covid. Quem não quiser olhar para a Suécia, então olhe agora para a Espanha. 

Fonte: DGS 


quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

DA MORFINA OU DA SUÉCIA, CLARO, E TAMBÉM DAS ESCOLAS

No momento em que Portugal se aproxima da Suécia na mera contabilização das mortes causadas pela covid, causa-me cada vez mais estranheza que se insista que foi o nosso "simples" mau comportamento no Natal (eu, por exemplo, antecipei-o uma semana e estive apenas com parte da família) e no Ano Novo que espoletou a desgraça que vivemos. E que tudo isto é só culpa da covid, e não da incapacidade de resposta do SNS e da sua crónica debilidade exacerbada pelo pânico e a histeria. 

Causa-me também estranheza que muitos ainda acenem com os erros (confessados) pelas autoridades suecas, que contam com verdadeiros epidemiologistas de formação e não com uns quantos feitos ad hoc ou porque fizerem estudos sobre epidemias, como é o caso português. 

Causa.-me também estranheza que não olhem para a suposta estratégia de Portugal, que farta-se de combater a pandemia com papel (leis) e testes, mas não tem gente no terrenos para sequer saber o que se anda a passar (onde estão estudos epidemiológicos, de risco a nível local; se vissem o que a Suécia tem caíriam de vergonha; veja, a este respeito o recente post do Tiago Franco).

Para todos aqueles que apontam para a Suécia, e depois os comparam aos outros países escandinavos, digo-vos: é verdade que a Suécia apresenta resultados menos bons que a Noruega, a Finlândia e até a Dinamarca. Mas aqueles países fecharam. Querem assim? Mas a questões centrais são duas. Primeiro, querem agora viver uma vida sem risco e dar em troca a própria possibilidade de viver e conviver? Segunda, mas os resultados da Suécia foram maus? Foram anormais ao longo de 2020?

Há dias mostrei aqui um simples gráfico que comparava a taxa de mortalidade dos maiores de 65 anos na Suécia em 2020 e comparava com a taxa de mortalidade média (média dos óbitos dos cinco últimos anos a dividir pela média da população desse período).

Decidi, no entanto, desagregar esses cálculos por ano e por grupo etário, para evitar qualquer viés. E sobretudo mostrar como, antes da covid, eram (e continuarão a ser) bem diferentes as probablidades de se morrer aos 65 anos ou aos 90 anos. Parece que se anda a esquerecer que, por exemplo, alguém com mais de 90 anos já tinha a probabilidade em 20% de se finar ao longo de um ano, enquanto aos 65 é de menos de 2%. Portanto, uma pessoa de 65 anos não deveria entrar em pânico porque sabe que há muitas pessoas de 90 anos a morrer. Com ou sem SARAS-CoV-2. É a infeliz Lei de uma Vida Feliz.

Posto isto, olhem para os gráficos. Qualquer pessoa sem vendas ideológicos ou sociológicas poderão constatar que a taxa de mortalidade em todos os grupos etários na Suécia em 2020 foi praticamenrte semelhante aos anos anteriores, tanto no grupo dos 65-79 anos, no grupo dos 80-89 anos e no grupo dos maiores de 90 anos. Em alguns casos, o ligeiríssimo aumento entre 2019 e 2020 decorre de uma pequena descida da taxa entre 2018 e 2019. A maior subida (se assim se pode chamar) foi nos maiores de 90 anos [quem nos dera a todos chegar a essa idade], onde 2020 teve uma taxa superior em 0,7 pontos percentuais em relação ao anterior máximo no período (2017, que tinha uma taxa de 23,6%). [não é possível comprarar com Portugal, porque no SICO só há a classe dos maiores de 85 anos]

Ou seja, efectivamente morreram mais suecos idosos (em termos absolutos) durante o ano da pandemia, mas porque também a Suécia contava mais idosos do que nos anos anteriores. A proporção manteve-se. Factualmente, não se vê o impacte da pandemia como se vê em Portugal. 

Os resultados da estratégia da Suécia, apesar de todo o histerismo e de acusações de eutanásia (com base em relatos sobre injecções de morfina [aqui em Portugal é mais morrerem os velhos à sede], é uma estratégia que apresentou bons resultados, porque não parou a sociedade, a Economia, as relações sociais, nem andou em derivas totalitárias. Foi a melhor estratégia. Eu sei que muitos não querem admitir, mas é essa a realidade. 

Ah, e a Suécia não fechou escolas com a fúria dos europeus. E porquê? Porque estudos epidemiológicos, feitos por epidemiologistas à séria, com base em ciência empírica (e não em ciência feita em auditórios) concluiu que o risco era irrelevante. Aliás, um estudo sueco, publicado este mês numa revista inglesa (The New England Journal of Medicine, vd. aqui) aponta para zero mortes entre as crianças e um risco mínimo, mínimo para os professores. E tudo sem máscaras.

Fonte: SCB (o INE da Suécia)




DO LAXISMO EM LAXISMO ATÉ À LÁSTIMA FINAL

Era bom que as pessoas acordassem e não pensassem que a subida de mortes nas últimas semanas é só por causa da covid, e que foi tudo por causa dos convívios natalícios. Não sejam ingénuos. O SARS-CoV-2 está a fazer o seu curso, independentemente de lockdowns e restrições. Meter gente em casa, com a prevalência em 5% vai só piorar todos nas próximas semanas. 

Daqui a poucos dias, para nosso triste lamento, Portugal vai ultrapassar a Suécia em mortes de covid por milhão de habitantes. A Suécia, o patinho feio, que, bem vistas as coisas, geriu a pandemia com racionalidade, com erros mas com resultados muito satisfatórias (escreverei mais detalhadamente ainda hoje). A partir dessa quero saber a opinião daqueles que sempre julgaram assassina e iresponsável a estratégia gizada por epidemiologistas com formação à séria. Nós, não temos epidemiologistas de formação e acção; temos apenas investigadores de epidemiologia, e muitos ad hoc.

Neste momento, confesso, que não tenho qualquer proposta para solucionar um beco sem saída. Espero que a meteorologia ajude. Espero que venha algum bom senso (optando-se por soluções como as propostas pelo ex-bastonário da Ordem dos Médicos, de reduzir os internamentos com base em decisões clínicas e não por testes PCR).

Mas tem de ser feito mais, e sobretudo pels outras doenças. Tem de se ganhar a confiança para as pessoas regressarem às urgências em caso de necessidade. Morrem pessoas por medo de irem às urgências. Isrto é terrível, e foi o discurso de medo da Imprensa com a satisfação do Governo. 

Não se pode continuar a assistir impávido a uma carnificina atroz, entre mortos por covid e por aquilo que calhar. Ontem à noite estive a actualizar os gráficos da evolução da mortalidade desde io início de 2020, e é impressionante a escalada dos óbitos a partir do Natal (ou seja, antes de eventuais infecções resultarem em casos positivos). A rampa criada em Janeiro, sem fim à vista, faz as ondas da Primavera e do Verão pareceram planas. 

Não pensem jamais que a culpa é do SARS-CoV-2 ou dos beijos e abraços. A culpa é da falta de estrutura para encaixar um surto invernal da covid, acrescido das debilidades exacerbadas pelo Inverno, ainda mais este que trouxe uma vga de frio. O Governo disse que tinha 17.000 camas para a covid. Não tinha. Não teve um plano de contingência para a vaga de frio. Andaram velhotes a morrerem como tordos. Desde o início do ano, só daqueles que tinham mais de 85 anos foram mais de 5.000; mais de três mil com idades entre os 75 e 84 anos. Nos primeiros 19 dias de Janeiro temos uma média de cerca de 580 óbitos por dia. Reparem que o mês de Setembro, o menos mortífero, tem uma média de 270 óbitos,. Considerem que quase não há gripes e pneumonias. Considerem também que o frio fragiliza qualquer doente, e que a eficácia do tratamento nos hospitais em relação à covid está três vezes pior do que em Outubro.

Não acordem. Não exijam ao Governo responsabilidades,. Continuem a pensar que tudo foi culpa dos abraços e beijos no Natal. Continuem assim que vamos ter todos um lindo "enterro". Ou nem isso.





DO MAU COMPORTAMENTO

Hoje foi Siza Vieira. Já são cinco ministros positivos. Taxa de incidência do Consellho de Ministros: 25%. E depos é o Povo, cuja taxa de incidência pouco ultrapassa os 5% desde o início da pandemia, que anda, supostamente, a portar-se mal? E que leva raspanetes? E que fica confinado, alguns sem salário ou sem rendimentos?

Proponho medidas urgentes para "achatar" a curva do Governo. Assim para a taxa de incidência passar a ser inferior a 5%, entram já…



terça-feira, 19 de janeiro de 2021

DA PEQUENA VANTAGEM DE SER UM PAÍS PEQUENINO MAS DA GRANDE DESVANTAGEM DE TER POLÍTICOS PEQUENINOS

Portugal tem a vantagem de ser um país pequenino. Andar apenas a tratar de pouco mais de 10 milhões de almas tem a sua vantagem. Uma desgraça nunca parece grande à escala mundial. Morrem 218 pessoas em Portugal, isso parece não ser nada se os Estados Unidos anunciarem 3.000. 

Porém, sucede que os tais 3.000 em terras do Tio Sam são menos de 100 em terras de Viriato. E, portanto, por estas e por outras, passamos despercebidos.

Foram incansáveis as notícias sobre os Estados Unidos, o Brasil, o México, até a Índia sobre os milhares de mortos. Aterradores. Nós, porém, até chegámos, supostamente, a ser (auto-)rotulados de "milagre" pela forma como nos estávamos a portar no combate á pandemia. Uma estratégia que, obviamente, se devia à extraordinária capacidade política do Governo.

Contudo, enquanto outros países apostaram numa melhoria dos seus serviços de saúde, o nosso extraordinário Governo foi a banhos, confiando que bastava suspender consultas, exames, diagnósticos e tudo o resto para ir safando o barco. Deu-se mesmo ao luxo de deixar candidamente que o número de médicos baixasse em 918 entre Janeiro e Setembro de 2020, mas fizesse o truque de destacar que houvera um aumento de 548 entre Setembro de 2019 e 2020 (vd. imagem em baixo, retirado do relatório do SNS).

A realidade é esta: em plena pandemia (que não existia em Setembro de 2019) o Governo não teve capacidade de resposta para a saída de mais de 900 médicos. Queria agora um milagre? Temos excesso de doentes ou falta de camas e de médicos?

No entanto, aquilo que mais me surpreende é a (in)capacidade de análise crítica dos portugueses, e com a  nossa conivente Imprensa à cabeça. Mortes nos Estados Unidos? Culpa do Trump. Mortes no Brasil? Culpa do Bolsonaro. Mortes na Itália? Culpa da soberba transalpina. Mortes na Índia? Culpa do subdesenvolvimento daquele desgraçado país. Mortes na Espanha? Culpa de não serem como nós.

Enfim, e foi-se olhando sempre para os outros, enquanto a população se fragilizava de meses sem assistência médica. E não se investia. E mentia-se com as supostas 17.700 camas ali prontas para qualquer coisinha, embora afinal outro documento do SNS dissesse que afinal eram apenas 2.120.

Os milagres, porém, por vezes acabam. E então revelam-se todas as fragilidades. Mas nunca as fragilidades do Governo, que nunca falha, nunca nada admite. 

E quando tudo se desmorona, culpa os portugueses. Como se a culpa de uma invasão que trucida um povo seja culpa do povo e não do Estado que não reuniu as condições para estancar o avanço do inimigo e proteger o povo. Os contratos sociais que tacitamente assinamos não é para que um Governo culpe o seu povo, como este está a fazer. Mas aquilo que me causa mais irritação é ver esse mesmo povo, pequenino, concordar com o Governo, e aceitar que este o culpe por o invasor o ter invadido.

E por agora é tudo. 

Deixo-vos apenas, para reflexão, uma análise que compara a situação de Portugal com os 10 países com mais mortes por covid em número absoluto. Mostra-se aqui o valor máximo (pico) da pandemia, medido com base na média de sete dias e em função da população portuguesa (padronização). Se Portugal (que está agora no valor máximo, com 167 óbitos diário, em média móvel) fosse um país da dimensão dos Estados Unidos ou da Índia ou do Brasil, hoje estaríamos a ser notícia a nível mundial. E duvido que ninguém achasse que o Governo era alheio a isto.

Mas como somos um país pequenino com governantes pequeninos, a culpa disto é só dos portugueses, que merecem o devido castigo: manterem-se pequeninos e serem governados por governantes pequeninos.


DA TEMPESTADE PERFEITA PARA O DESASTRE HUMANO E A DERIVA DITATORIAL

Há uma estranha atmosfera que se vive em Portugal. A ultrapassagem da fasquia das 200 mortes num só dia em Portugal atribuídas quase alegra as pessoas que defendem estarmos a viver uma verdadeira hecatombe que justifica todas as derivas totalitárias do Governo, e que essas pessoas abraçam como salvíficas, ao mesmo tempo que culpam o vizinho, que visitou a família no Natal, pelo descalabro.

Eu, enfim, continuo a lamentar todas as mortes de ontem - as 218 atribuídas à covid e mais as 419 por outras causas. E também lamentar o completo descontrolo do SNS (e do Governo) que "conseguiu" criar bodes expiatórios (o Povo) para uma estratégia errada que permitiu criar a "tempestade perfeita" que desencadeou a actual mortandade: 

a) população débil por meses sem assistência médica, 

b) atravessando uma vaga de frio invernal 

c) dentro de um sistema de saúde em degradação (menos 918 médicos em Setembro de 2020 em comparação com Janeiro de 2020)

d) perante um vírus sazonal bastante agressivo para a população idosa;

e) grande parte dela vivendo em lares, onde o controlo das infecções foi sempre ténue.

Bem sei que estas evidências não colhem na esmagadora maioria da população, que já está "formatada" e que, por ela, sobretudo para quem é funcionário público, se fecharia o país, e se controlaria tudo para se salvar a pele.

Bem sei que, formatadas pelo medo, essas pessoas não se irão questionar sequer sobre os motivos para a Portugal ter apenas 35% de casos positivos a mais do que a Espanha (média móvel de sete dias) mas contabilizar agora uma mortalidade mais de 250% superior. 

Qual a justificação para essa diferença, já que a Espanha (ao contrário da Suécia) é aqui ao lado? Será que a diferença está na Espanha ter aprendido com a Primavera de 2020 e politicamente houve empenho posterior para fortalecer os serviços de saúde? A resposta que deveríamos dar era SIM. E o nosso Governo fez o mesmo? E a resposta deveria ser um rotundo NÃO.

No momento em que o primeiro-ministro pede um "soberessalto cívico", para justificar mais restrições e tirar a água do capote (desresponsabilizando-se), eu também humildemente gostaria de o pedir. Pensem, analisem. Vejam o que nos podia estar a suceder mesmo perante um crescimento nos internamentos. 

Se estivéssemos com um SNS capaz, provavelmente morreriam hoje 79 pessoas com covid (um pouco mais do que com as pneumonias), conforme podem ver nos meus cálculos. Assim, com o SNS no estado que está, muito provavelmente teremos mais um dia com mais de 200 mortos. A minha previsão aponta para valores entre 193 e 223. 

É triste pensar-se que tudo isto se deve a um vírus e aos portugueses. E não ao vírus e ao Governo.

DOS RESULTADOS DO COLAPSO - ANÁLISE E PREVISÃO DOS ÓBITOS-COVID EM 18/01/2021

Só agora é possível apresentar a previsão que tenho vindo a fazer para a mortalidade-covid para o dia (neste caso, dia 18, cujos valores serão apresentados dentro de horas pela DGS).

Infelizmente, não prevejo boas notícias. E diria que se baterá novo máximo de óbitos. Um dos modelos (baseada na taxa de mortalidade diára) aponta-me para um valor próximo dos 176. O outro modelo, baseado na linha de tendência, atira para valores já na casa dos 190 óbitos.

Pelos dados já recolhidos, não me parece que, nas actuais circunstâncias do SNS, seja possível ter uma mortalidade por covid abaixo dos 150 enquanto estivermos com mais de 4.000 internados, o que significa que vamos ter este cenário por mais algumas semanas. 

Quero, no entanto, salientar um aspecto fundamental. O crescimento das mortes por covid está a ser exacerbado pelo colapso do SNS, porque se se estivesse com a eficácia de tratamento em grande parte de Outubro seria previsível termos apenas 73 óbitos, e se fosse com a eficácia de Dezembro de 122 óbitos.

Além disso, não duvidem que a mortalidade por covid (além da questão da metodologia de atribuição de causa de óbito) está aumentar por via da grande debilidade das pessoas idosas que, ao longo dos últimos meses tiveram fraca assistência médica por via da estratégia seguida pelo SNS.








DOS MÉDICOS PELA MENTIRA

O deputado do PSD, e também médico, Ricardo Baptista Leite, aproveitando ser voluntário (e assim granjear prova de testemunha presencial), apresentou anteontem um compungido video descrevendo o caos no Hospital de Cascais, com mortes a rodos, profissionais num banho de lágrimas. O Apocalipse. 

Veio entretanto a própria secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, negar este discurso: afinal, nesse dia, morreram três pessoas no “covidário” de Cascais. Três pessoas mortas são três vidas perdidas mas não é um cenário de guerra que ponha médicos e enfermeiros a carpir sem remissão.

Tudo isto é lamentável, mas fez-se tudo para isto. A falta de informação e de enquadramento permitem todo o tipo de manipulação, desinformação e histeria. Mas o Governo está a provar a sua própria estratégia de ocultação de informação. Se disponibilizasse informação diária sobre os óbitos covid por concelho (só a ULS do Norte Alentejano faz), este tipo de figurinhas de um médico-politico de ética questionável não aconteceriam.



DO CAOS OU DA MENTIRA

Alguém me explique como, em Outubro, o Governo garantiu, via comunicado do SNS, que havia “17.700 para assistência à pandemia”, mas depois há um outro documento do SNS que refere que afinal são só 2.120 camas para doentes-covid (ver imagens), e entretanto o sistema entra em ruptura a partir das 3.500 camas. Estamos agora com 5.165 internados, e está tudo caótico e em cenário de guerra.
O Governo mentiu em relação às camas? Pensou que bastava fazer compras no IKEA e não era necessário pessoal médico? Ou andamos aqui a brincar com a vida das pessoas e num passa-culpas?
E como é possível ter gastado em testes infindáveis milhões em vez de reforçar as UCI ao longo do ano, onde parece estar o maior défice? 
[cada cama UCI custa entre 50 mil e 150 mil euros a ser implementada, equivalente ao que se gasta a fazer entre 1.000 e 3.000 testes PCR por dias, mas com mais trabalho)
Pasmo com a airosa forma como o Governo, com a ajuda da Imprensa, arranjou uma estratégia para nos tornar bodes expiatórios e perante a sua incapacidade de gestão da pandemia. E vamos todos pagar: os que morrem por esta incúria, e os que ficam.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

DA SUÉCIA, ONDE (AFINAL) OS VELHOS MORREM MENOS, APESAR DA PANDEMIA

Eu sei que vai haver muita gente a estrebuchar, mas eu não posso fazer nada: os números insistem em contrariar as "teses" apocalípticas.

O SCB (o INE sueco) divulgou finalmente os dados totais de 2020, e portanto, já podemos comparar Portugal com o famigerado país nórdico, que tanta "urticária" causa a muita gente.

A Suécia, aquele país que não quis usar máscara nem fechou o país nem teve derivas totalitaristas, mas que é acusado de matar velhos, a dando-lhes morfina, e que, portanto, teve 9.804 óbitos por covid... afinal viu a sua taxa de mortalidade (por todas as causas, obviamente) dos maiores de 65 anos baixar em 2020 comparativamente à média (2015-2019). 

No período 2015-2019, a média situa-se nos 39,1 óbitos por 1.000 habitantes deste grupo etária, e desceu no ano passado para 38,7. 

Ou seja, sem prejuízo de se ter verificado um aumento da mortalidade em termos absolutos no grupo dos mais idosos (+13,2%), o incremento da população na mesma faixa etária foi superior (+14,5%), logo proporcionalmente morreram menos. A maior mortalidade incidiu, além disso, nas faixas etárias onde, infelizmente, já se morria muito [por muito que se ignore], sendo aqui evidente um efeito directo da covid. Por exemplo, da população sueca com mais de 90 anos em 2019, cerca de 22,1% morreram. No ano da pandemia (2020), esse valor foi maior: subiu para 24,3%. Uma subida mas nem sequer catastrófica numa faixa etária já naturalmente muito débil.

Ao invés, em Portugal - o país da histeria colectiva, do tudo para a covid, e nada para o resto, e que deixou assim a população idosa que não morreu do tempo um pouco mais quente no Verão, chegar ao Inverno presa por arames, até ser "presa fácil" da vaga de frio e de infecções por SARS-CoV-2 em lares -; em Portugal, dizia, a taxa de mortalidade nos maiores de 65 anos cresceu de 43,8 óbitos por 1.000 habitantes para 49,4. Uma subida de meter medo. E isto tendo morrido com covid 6.972 pessoas, menos 2.872 do que na Suécia.

Ou seja, como já se sabia, nem só de covid se morre. E a Suécia mostra aqui que, perante uma pandemia, que sempre provocará mortes, conta mais a estratégia e a racionalidade do que a histeria e a irracionalidade.

Quanto à taxa bruta de mortalidade (para toda a população), Portugal cresceu de 10,8 para 12,0, uma subida que mesmo assim não é catastrófica, enquanto que a Suécia subiu de 9,1 para 9,5, um aumento pouco significativo.

Obviamente que todas as mortes são lamentáveis, e se lamentam,. mas uma sociedade tem de saber enfrentar as leis naturais da Vida. E a estratégia sueca salvou mais vidas a prazo do que a estupidez portuguesa que agora tem uma população débil, tanto em termos de saúde (colectiva e individual) como a nível socioeconómico.

Fonte: SCB (Suécia); SICO-eVM e INE (Portugal).


DO ZERO EM PORTUGAL OU DOS EPIDEMIOLOGISTAS DESENCARTADOS

Dez meses depois do início da pandemia deu-me para consultar a base de dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), com informação vinda da Ordem dos Médicos, para saber a evolução do número de profissionais de saúde em Portugal. 

Existem dados discriminados, desde 2011 até 2019, contendo o número de médicos pelas 91 diferentes especialidades, subespecialidades ou competências.

Informo o País que não há sequer UM ÚNICO médico na especialidade de electrofisiologia clínica e... de EPIDEMIOLOGIA.

Fui consultar directamente o registo da Ordem dos Médicos, que lista a nome de todos os médicos, de acordo com a especialidade. E nada. Nenhum (vd. imagem em baixo). No caso da Ordem dos Médicos, o registo é o actual.

Aquelas sumidades que se apresentam como tal,  na verdade não têm a especialidade. São epidemiologistas "desencartados". E isso talvez explique muita coisa desde o início da pandemia.

O mais trágico-cómico é existir um Departamento de Epidemiologia no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), mas sem qualquer médico com especialidade em Epidemiologia. E temos até uma Associação Portuguesa de Epidemiologia, embora presidida por uma investigadora doutorada em Saúde Publicas mas com formação inicial em Ciências da Nutrição. Um epidemiologista na Direcção-Geral de Saúde? Nada, claro.

Em 2009 tivemos uma pandemia (H1N1), felizmente sem consequências relevantes.

Em mais de 10 anos acharam os Governos que não havia necessidade de termos UM, pelo menos UM, vá lá, DOIS ou TRÊS epidemiologistas a sério (e não de brincar)...

Eis Portugal em todo o seu esplendor.

Nota: As imagens mostram o output da base de dados do INE. Para seguir directamente para os resultados pode usar este link e fazer a selecção pretendida e descarregar dados.






DA ÚNICA VANTAGEM DO ACTUAL CONFINAMENTO: COMPRAR CHÁ ÀS 9 E MEIA DA NOITE DE UM DOMINGO

Antes deste confinamento, as sumidades epidemiológicas achavam muito bem encerrar supermercados à 1:30 da tarde nos fins-de-semana, o que proporcionava temerárias enchentes matutinas sabáticas e dominicais.

Agora, pode visitar-se em plena noite um supermercado, vazio e seguro. Por exemplo, para comprar chá, que é coisa que bem falta faz ao Doutor Scimerdas que, durante a manhã, veio aqui, nos comentários do meu mural, vociferar uma asquerosa diarreia figadal com origem em neurónios desarranjados. Falta-lhe chá. Mesmo.





DO PONTO DA SITUAÇÃO - ANALISE E PREVISÃO PARA 17/1/2021

Como tenho dito, nos últimos dias tenho estado a fazer previsões sobre a mortalidade por covid com base na taxa de mortalidade e no número dos internados-covid, não para me armar em Zandinga (embora tenha acertado uma vez na mouche), mas sobretudo para acompanhar o estado do SNS. 

Tentarei agora apresentar diariamente dois gráficos actualizados aos dia: um com a previsão com base na linha de tendência (polinomial) e outra com base na taxa de mortalidade do dia anterior, confrontando também com a mortalidade expectável se o SNS estivesse com desempenhos similares a Dezembro (TM 2,5%) e a Outubro (1,5%).

O segundo gráfico é de dispersão dos internamentos com os óbitos, actualizado ao dia), servindo também para aferir se o SNS se encontra em colapso, algo que, de forma clara se começa a observar a partir dos 3.000 internamentos e se exacerba acima dos 3.500. Faço notar acima desse número de internamentos, a amplitude de valores (óbitos) pode ser bastante grande, revelador também de um completo descontrolo.

Obviamente que existe um factor que me parece determinante nos próximos dias: o aumento da temperatura ambiente, que pode condicionar, positivamente, o desempenho do SNS. Aliás, tudo indica que o dia 17 poderá ser baixar a fasquia dos 600 óbitos. Mesmo assim, será o 13º dia consecutivo com mais de 500 óbitos por todas as causas, um valor bastante elevado mesmo deduzindo os óbitos-covid. 

Mais uma vez chamo a atenção que o Governo indicava que existiriam mais de 17 mil camas para fazer face à pandemia. Como se vê, o sistema entra facilmente em ruptura a partir dos 3.500 internamentos.