segunda-feira, 19 de outubro de 2020

DA VIDA NO PAÍS SEM TRAPOS E DA MORTE NO PAÍS CUJO PRESIDENTE TOMA A VACINA DA GRIPE EM TRONCO NU DE PERNA TRAÇADA

Quando comparo os dados da mortalidade dos maiores de 65 anos entre Portugal e a Suécia, o exercício provoca-me um fluxo significativo de calão, Afinal, o país que nunca obrigou ninguém a meter trapos nas fuças, que foi acusado de matar velhos, apresenta taxas de mortalidade dos maiores de 65 anos que nos deviam envergonhar... por serem muito mais baixas do que as nossas.

Desde o início do ano, e padronizando a população deste grupo etário (aqueles que nós queríamos proteger com trapos, confinamentos, StayAwayCovids, estados de calamidade e de sítio, recolheres obrigatórios e o diabo que os carregue), Portugal apresentava, no final de Setembro, mais 11,1% de mortes do que a Suécia. Trocado em miúdos, desde o início de 2020, por cada 100 suecos idosos que morerram, em Portugal morreram 111.

Aliás, a situação nunca esteve desfavorável à Suécia, mesmo no pico da covid (Abril e Maio), porque aqueles nórdicos desalmados não deixaram morrer tanta gente de gripe como os portugueses nos meses de Janeiro e Fevereiro.

Contudo, desde Julho, dá uma raiva descomunal comparar os níveis de mortalidade mensal entre os dois países em relação aos mais idosos (acima de 65 anos). Em Julho morerram em Portugal 34,4% mais; em Agosto 15,4% mais; em Setembro 20,7% mais. 

Fazendo alguns cálculos, se Portugal apresentasse actualmente a mesma taxa de mortalidade acumulada da Suécia para os maiores de 65 anos (e mesmo contabilizando a covid), em vez de termos tido, até finais de Setembro, 76.744 mortes por todas as enfermidades, estaríamos com 69.047. Seriam menos 7.697 mortes, Seriam mais 7.697 pessoas com quem as famílias, eventualmente, poderiam passar o Natal... 

Não acordem para isto, não. Continuem a acreditar que o SNS está bem; continuem a acreditar que os trapos e os confinamentos são a estratégia principal para debelar a covid (os transportes estão óptimos); continuem a acreditar que basta tomar a vacina da gripe, como o Marcelo Rebelo de Sousa, e que não se morre porque se adiam consultas, exames e cirurgias. Continuem a acreditar no Pai Natal. 




DO NARCISO

Marcelo Rebelo de Sousa foi vacinar-se contra a gripe. E, obviamente, achou que deve expor o bronzeado, não sei com que objectivo. Nem sei, aliás, a razão para se ir tomar uma vacina no braço e ficar-se de tronco nu, perante as câmaras, de perna traçada.




domingo, 18 de outubro de 2020

DA MONOTÓNICA COVID

É a covid perigosa? Sim, mas quase apenas para os idosos? É imprevisível? Não! Ao contrário daquilo que a imprensa e a histérica OMS e DGS propalam, a covid começa a mostrar ter um comportamento muito monotónico, pese embora as variações nos casos positivos (artificiais, por via dos falsos positivos) e as variações sazonais na mortalidade em função das regiões do Mundo.

Estive a analisar o ritmo da mortalidade da covid desde que ultrapassou os 100 mil óbitos a nível mundial, no dia 7 de Abril. Depois dessa fasquia, a covid demorou 16 dias até aos 200 mil mortos (22 de Abril); depois mais 20 para chegar aos 300 mil (11 de Maio), e depois sempre num ritmo que variou entre os 18 e 24 dias.

Não querendo menorizar o impacte desta doença (que representa, por agora, 2,3% do total das mortes em 2020), a uma escala mundial nada há aqui de exponencial. Nem ondas nem crescimento.

Datas em que se se atingiram os patamares de mortes por covid a nível mundial:

100.000 - 7 de Abril

200.000 - 22 de Abril

300.000 - 11 de Maio

400.000 - 3 de Junho

500.000 - 24 de Junho

600.000 - 14 de Julho

700.000 - 1 de Agosto

800.000 - 18 de Agosto

900.000 - 5 de Setembro

1.000.000 - 24 de Setembro

1.100.000 - 14 de Outubro



DO PORNOGRÁFICO MORTICÍNCIO DOS VELHOS

Enquanto o Governo e o já inenarrável PR nos entretêm com ameaças de multas por não se usar um aplicativo de smartphone e de um "recolher obrigatório", os velhos continuam a morrer, Os velhos, sabem? Aquelas pessoas que, enfim, morrem que se fartam mas que, nós, as gerações mais novas, agradecidas e penhoradas,  tudo temos feito para os livrar da morte pela terrível covid; por issso, por eles, nos pusémos em confinamentos, comprámos ventildores com instruções em chinês, metemos máscaras, deixámos de visitar pais e avós,

Até agora, graças a tudo isto, morreram 1.446 idosos com mais de 80 anos por covid, e mais cerca de 700 de outras idades. Com menos de 20 anos: uma criança, com cardiopatia grave. Valeu o esforço, dizem muitos, porque, senão era um maior mortícinio. Dizem. 

E eu acresento: valeu bem o esforço... se, obviamente, a covid fosse a única doença mortal, e se nos esquecermos que, enfim, este ano já se contabilizaram 40.569 óbitos de pessoas com mais de 85 anos, "apenas" mais 5.773 óbitos do que a média 2014-2019. Repito: 5.773 óbitos: cabem aqui umas quantas pandemias...

Num dos meses (Julho) com menos mortes por covid (não chegaram aos 100 para todas as idades), a diferença entre os óbitos registados em 2020 e a média (2014-2019) foi de 1433 óbitos para este grupo etário. Em Agosto e em Setembro (também com poucas mortes por covid) a diferença foi de 573 e 737, respectivamente. Em Outubro, com 17 dias, já vai em 376 óbitos a mais, e mesmo com a covid a matar um pouco mais, nem metade destes foram por esta doença.

Mesmo se recuarmos aos meses de Março, Abril e Maio, o excesso de mortalidade nos mais idosos não é explicada, nem pela metade, pela covid. 

Meus caros, e minhas caras, a carnificina de velhos continua e vai continuar. E de forma cada vez mais pornográfica. Sim, daqueles que precisam de cuidados de saúde de forma continuada; daqueles que, por exemplo, podem lerpar por causa de uma tensão alta não ser de imediato controlada. 

É pornográfico continuar a assistir à indigente DGS borrifar-se para o morticínio dos velhos que morrem por afecções não-covid. 

É pornográfico gastarem-se três milhões de euros por dia, e milhões e milhões em ajustes directos sem préstimo, enquanto se anulam e suspendem consultas, exames e cirurgias. 

É pornográfico ver os Froes desta República de Egos borrifarem-se enquanto, orgulhosos das suas façanhices, posam para a fotografia, ostentando a mesma máscara que, meses antes, diziam ser parola (ou coisa parecida). 

É pornográfico ver os jornalistas, autênticos arautos da Propaganda do Medo e do Pânico, borrifarem-se para a situação actual do SNS. Para eles, tudo é covid, apenas covid, sempre covid.   

Estou farto desta insanidade.



DA BALDA

A DGS acredita tanto nos casos positivos que agora pululam à conta do “negócio dos testes”, e na sua produção de falsos positivos, que agora já nem exige um teste negativo para “atestar” que os assintomáticos estão mesmo “curados”. Curados com aspas, porquanto quase todos nunca estiveram efectivamente doentes. Isto é tudo tão parvo.



sábado, 17 de outubro de 2020

DO ESTADO DE SÍTIO E DO RECOLHER OBRIGATÓRIO

A loucura apossou-se da Europa e ameaça Portugal. Fala-se agora já em recolher obrigatório no nosso país, vá-se lá saber o efeito de não andar na rua para os níveis de infecção.

Tudo bem: é sempre giro para um político democrata ostentar na lapela um decreto típico das ditaduras.

Porém, olhando para este gráfico, apenas tenho uma dúvida: o recolher obrigatório em Portugal justificar-se-à pelas 172 mortes da covid na primeira quizena de Outubro, ou antes pelas 446 mortes em excesso por causas não-covid, muito devido ao estado de sítio em que se transformou o nosso Serviço Nacional de Saúde?



DA EVIDÊNCIA DA ESTUPIDEZ DOS TRAPOS NAS RUAS OU DA ITÁLIA COMO EXEMPLO

Portugal prepara-se para impor a obrigatoriedade do uso de máscaras nas ruas. DevÍamos olhar para o caso da Itália antes de nos abalançarmos para estas aventuras face à fraquíssima evidência de efeitos positivos de se andar horas sucessivas com "trapos nas fuças", que são, aliás, propiciadoras de usos inadequados que podem, outrossim, auxiliar as infecções. Aliás, esse risco constitui uma das razões para a Agência Sueca de Saúde sempre ter optado por não colocar o uso das máscaras sociais na sua estratégia.

A Itália, como se sabe, impôs no dia 7 de Outubro (e antes disso, no dia 3 em Roma, como assisti in loco) o uso obrigatório de máscaras nas ruas. Entre 5 e 7 deste mês, este país tinha registado uma média diária de 59,7 casos positivos por milhão de habitantes, um valor relativo então inferior à Suécia (79,9 por milhão), onde a máscara não é obrigatória em qualquer circunstância. A dimensão dos casos positivos na Suécia não parece estar a incomodar em demasia as autoridades suecas, até porque a mortalidade por covid está baixa e controlada. Mas a Itália e seus políticos entraram em pânico com uma subida de casos positivos (ai os falsos positivos, o que fazem), mesmo se a mortalidade por covid está abaixo dos 10% dos níveis de Março e Abril.

Ora, mas admitamos que seja legítimo e prudente que sejam tomadas medidas. Contudo, a serem tomadas medidas, talvez, digo eu, sejam no pior dos casos um placebo. E que jamais façam a situação ficar pior do que não mexer. 

Com efeito, se as máscaras sociais nas ruas fossem eficazes, seria suposto que na Itália as infecções registassem uma fortíssima diminuição a partir do dia 13 de Outubro (contabilizando  5-6 dias de período médio de incubação). 

Porém, surpresa (ou talvez não), vejam o que está a acontecer em Itália. Enquanto a Suécia manteve, no período 14-16 de Outubro), sensivelmente o mesmo número de casos positivos (média diária de 80,9 por milhão), a Itália, em vez de ter um decréscimo (era esse o objectivo, não?), acabou tendo um acréscimo de 142%! Ou seja, passou de 59,7 casos diários nos três dias anteriores à imposição das nas máscaras na rua para 144,4 casos diários já no período de plena eficácia da média. 

Se isto não é um tiro nos pés, não sei já o que diga... E Portugal apresta-se para seguir esta linha, não é? Boa sorte!



DO MAL DOS LARES

Vou fazer umas contas muito simples para se ter uma melhor percepção sobre o maior impacte da covid nos lares, não apenas por agregar população muito idosa em final de vida como por causa dos problemas de infecção descontrolada ocorridos em alguns. Nesta simples análise evidencia-se ainda mais ser a covid um mal dos lares, que agrega 100 mil utentes. 

De acordo com a DGS, até ontem tinham morrido por covid 860 utentes em lares, pelo que fora dos lares terão  morrido 1.289 pessoas. Destes 1.190 tinham mais de 60 anos.

Ora, face à capacidade dos lares em Portugal, temos então até agora uma taxa de mortalidade próxima de 0,86%. Daqui se infere que havendo então 2 milhões de pessoas com mais de 65 anos vivendo fora de lares (por simplificação exclua-se a população em idade activa e considere-se para este grupo etário os 1.190 óbitos acima referidos), temos então uma taxa de mortalidade de apenas 0,06% para este grupo.

A taxa de mortalidade para a população em idade activa é estatisticamente irrelevante.

Note-se que não há informação sobre a taxa de mortalidade nos lares. Porém, a taxa de mortalidade anual para os maiores de 85 anos ronda os 15% e para o grupo dos 80-84 anos de 5%. Daqui resulta duas coisas: a covid tem um impacte muitíssimo maior nos lares, mas não parece indiciar ser uma doença que globalmente esteja a mostrar-se catastrófica (por representar uma taxa de mortalidade inferior a 1%). Aliás, nos lares, cada vez mais relevante parece ser uma avaliação rigorosa do impacte dos efeitos colaterais da estratégia anti-covid, em especial da mortalidade no Verão e dos efeitos da suspensão de muitos cuidados médicos essenciais em idades mais avançadas.



DA IRONIA COM UM TRAPO NAS FUÇAS

Nas orientações programáticas 2017-2020 do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias, surge como Visão, «vivermos num mundo em que todas as pessoas respirem livremente"...



sexta-feira, 16 de outubro de 2020

DO LOBO MAU

Morreram 21 pessoas ontem por covid. Este mês já vamos em 172 mortes. Marcelo Rebelo de Sousa ameaça com recolher obrigatório, António Costa com "trapos nas fuças" nas ruas... Entretanto, tudo muito bem, com o SNS, como já se torna habitual : excluindo as tais 172 mortes por covid, o excesso de mortalidade total (em função da média) na primeira quinzena de Outubro atingiu os 446 óbitos, cerca de 2,5 vezes superior à covid... Entretanto, Cristiano Ronaldo sobrevive com esforço à infecção. 



DO PAÍS QUE NÃO SABIA QUE SE MORRIA E QUE IGNORAVA HAVER INTERNAMENTOS

 Antes da pandemia da covid, tinha consciência de haver muita gente que ignorava a realidade. Agora, com a pandemia, pasmo em saber que a ignorãncia atinge até muitas das nossas elites pensantes, mesmo aquelas com talento. A pandemia da covid parece ter surpreendido muita gente como se o SARS-CoV-2 tivesse tido o condão de nos ter retirado, pela primeira vez, a imortalidade. 

Entretanto, agora, o "horror" às mortes por covid foram "substituídas" pelo "horror" dos internamentos, contabilizando-se os casos positivos à unidade (ainda agora no café ao lado ouvia um "debate" sobre a gravidade de se ultrapassarem os 2.000 casos positivos) e o crescimento dos internamentos. Ontem aumentaram em mais 22 os internamentos, dos quais mais cinco em UCI, tendo morrido 21 pessoas. A situação, embora lamentável, não parece fugir muito do padrão das doenças respiratórias, que em anos anteriores se mostram até de maior perigosidade, causando muitas mais mortes e internamentos.

De acordo com dados oficiais, coligidos pelo Eurostat, as doenças respiratórias (excluindo cancros e tuberculose) mataram em Portugal, no ano de 2015, cerca de 126 pessoas por 100 mil habitantes, ou seja, um total de 12.852 óbitos nesse ano, o que dá 32 mortos por dia. Destes, cerca de 16 mortes diárias (imaginem no pico do Inverno) foram de pneumonias, em grande medida provenientes de gripes. Lembram-se de algum político ter imposto estado de emergência ou calamidade e o diabo a quatro?

No caso dos internamentos por doenças respiratórias, por regra, constituem cerca de 10% do total ao longo do ano. Os internamentos por pneuonias (sobretudo bacterianas, que até tem vacina) atingem os 117 por dias, sem grande variação entre 2009 e 2016, de acordo com o relatório do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias 2017 do Ministério da Saúde. Ou seja, antes da covid (que, aliás, indirectamente fez decair as infecções respiratórias em 60%, o que significa menos hospitalizações por pneumonias este ano e muito menos mortes), não só havia internamentos por doenças respiratórias como mais mortes por doenças respiratórias. 

Mas que interessa isso? Vale a pena escrever alguma coisa mais sobre isto quando 0o pânico está reinstalado, e nessa "guerra", onde a DGS claramente esconde informação? Sabe-se ao dia quantas mortes por (ou com) covid, mas nunca se sabe (nem a DGS quer que se saiba) quantas mortes estão, simultaneamente, a ocorrer por pneumonias. Isto é, inadmissível, mas que interessa que eu e uns quantos esbracejem? 

As pessoas estão já "amestradas" pelo pânico; as elites e imprensa, ignaras em matemática e em contextualizar a realidade, ajudam a "formatar" um estranho consenso. Temo, muito em breve, um colapso social, económico e anímico. O vírus não é inteligente, mas conseguiu tornar-nos, como sociedade, em autênticos burros sem capacidade de racionalizar. Os Governos, esses, os dois países que acham que trapos nas fuças é que resolvem os problemas, estão a viver momentos de glória: mandam como déspotas perante um povo encarneirado e agradecido. Vai ser difícil reerguermo-nos como sociedade, e recuperar direitos.




DA MATEMÁTICA PARA JORNALISTAS TOTÓS

Títula o CM: “Maioria das camas ocupadas em Lisboa”, justificando no lead que das 97 camas de UCI destinadas a covid estão ocupadas 64. No caso de camas de Enfermaria diz-se que estão ocupadas 420 em 517 camas. 

Até aqui tudo bem: dá 66% e 81%, respectivamente; portanto é maioria. Sucede, porém, que isto pode mudar de imediato porque existe capacidade para subir rapidamente para até 917 camas de Enfermaria e 185 camas de UCI. Ou seja, basicamente, estamos com uma taxa de ocupação de 46% e 35%. Isto não é maioria. E até podemos estar em maioria, com 50,1%, e estarmos com muita folga.

O mais absurdo é o próprio CM auto-desmentir o título com um destaque em que escreve: “Ocupado um terço do máximo de camas em cuidados intensivos”. Se o nível da matemática dos jornais anda neste nível, como se pode alguma vez  ter a esperança que compreendam o teorema de Bayes que explica como os falsos positivos campeiam por aí só para criar negócio e pânico.




quinta-feira, 15 de outubro de 2020

DO VÍRUS BONZINHO E MONÓTONO

Peço desculpa por vos apresentar um gráfico monótono. Calculei, através dos boletins da DGS, a evolução da percentagem diária desde 1 de Setembro dos casos activos de covid que não mereceram sequer "honras" de internamento. Ou seja, a razão entre não internados e casos activos em casa dia.

Apesar de os casos activos terem aumentado quase 150% no último mês e meio (passaram de 14.573 em 1 de Setembro para 36.085 em 14 de Outubro), a percentagem de casos sem internamento manteve-se monotonamente estável, sempre na casa dos 97%. Se este vírus não é previsível, não sei o que é previsível. Aliás, meti uma casa decimal nas baras do gráfico quase apenas como prova de ter feito mesmo os cálculos 🙂 .

E o SNS anda suspenso por causa disto. E as restrições vão aumentar por causa disto.




DOS CÃES DE FILA, DAS MÉTRICAS E DO BULIÇO HOSPITALAR

A nossa inqualificável imprensa, depois de pegar caninamente no tema "casos positivos", segue agora abutremente para o tema "ocupação hospitalar". Tudo vale para alarmar; tudo vale para impor trapos nas fuças; tudo vale para o controlo por smartphone com direito a multa para os incautos; tudo vale para a contínua "prostituição jornaleira" a troco de uns vinténs por cliques e visualizações. A nossa imprensa, perante a covid, tornou-se o "cão de fila" de António Costa.

Como antigo jornalista começo a sentir asco de muitos jornalistas, e lamento por outros que (re)conheço bons mas que se calam.

Vem isto a propósito, portanto, da alegada iminência do esgotamento das camas hospitalares por causa do crescimento de casos positivos, quase todos assintomáticos, porque obviamente quase todos falsos positivos.

Como continuo a fazer para mim o trabalho que a imprensa não faz, tirei um bocadinho desta tarde para fazer nova análise. Demorou-me, talvez, uma hora. Aqui a exponho.

Existem diversas métricas para medir a actividade hospitalar, mas vou aqui apresentar-vos uma que me parece duplamente aceitável, porque não apenas detecta situações de anormalidade (picos de actividade anormal) como a compara de forma diacrónica (evolução ao longo do ano).

Essa métrica é a mortalidade diária em unidades de saúde. Julgo que se pode usar esta métrica como um indicador (atenção, é um indicador, o que não significa que exista uma correlação de 1 com a actividade hospitalar), porque os valores da mortalidade em unidades de saúde mostram, por um lado, a variação na ocorrência de doenças agudas e/ou de internamentos, e por outro detectam rapidamente situações anómalas num determinado período. Além disso, grandes subidas na mortalidade em meio hospitalar (em comparação com a média) pode indiciar (atenção, digo indiciar) algum grau de colapso.

Ora, usando os dados do SICO-eVM, e confrontando com a média (2014-2019), pode-se concluir que a actividade hospitalar, usando a métrica da mortalidade nas unidades de saúde, está actualmente um pouco acima da média, mas muito abaixo de outros períodos.

Com efeito, mesmo antes da covid ter cá chegado (e sendo uma situação "normal"), a mortalidade diária em meio hospitalar costuma estar entre os 230 e 250 óbitos em Janeiro e Fevereiro. No presente mês de Outubro ronda os 190 óbitos por dia, sendo que apenas cerca de uma dezena são por covid. A variação de Outubro deste ano, em relação à média, tem sido inferior a 20 óbitos.

No entanto, aquilo que chama até mais a atenção, não é a métrica da mortalidade em meio hospitalar ser ainda bastante inferior a Abril (no pico da covid). Na verdade, o mais absurdo é a nossa imprensa não ter sequer questionado o Governo para a situação de Julho e de Setembro, quando a mortalidade diária em meio hospitalar, numa altura em que a covid matava três pessoas por dia, disparou para níveis absurdos. Em cerca de duas semanas de Julho, a mortalidade nas unidades de saúde ultrapassou continuamente os 200 óbitos por dia, chegando mesmo a ultrapassar os 230 durante alguns dias, quando seria expectável (média) menos de 170 óbitos por dia. Em Julho deste ano morreram em meio hospitalar 6.270 pessoas, sendo a média de 5.142. Ou seja, morreram a mais 1.128 pessoas (36 a mais por dia).

A anormalidade de mortes em meio hospitalar durante o mês de Julho teve uma magnitude bem superior à registada em Abril e Março (diferença entre mortalidade em 2020 e a média). Em Setembro a situação repetiu-se, embora em menor dimensão, mas mesmo assim foi pior do que está a suceder em Outubro. A isto a nossa malograda imprensa, népias, nicles. Andou a dormir. Acordou agora, feroz.



DA INDIGÊNCIA JORNALÍSTICA OU DA NECESSIDADE DE JÁ NÃO DEIXAR PASSAR CERTAS COISAS EM CLARO

Uma jornalista do Público, Alexandra Campos, que se apresenta com 25 anos de jornalismo e "várias acções de formação em Jornalismo de Saúde", publicou, agora mesmo, uma peça que titula "Hospitais de LVT: esgotada mais de 80% da capacidade de internamentos e dois terços dos cuidados intensivos". Isto merecia quase um despedimento, por dois motivos:

1) Esgotamento provém de esgotar, isto é, consumir, gastar ou secar até á última gota, espécime, artigo, unidade, ou cama, neste caso (vem nos dicionários). Não há um esgotamento a 80%, a 70% ou a qualquer outro número. Esgotar é a 100% (e usar aqui a percentagem é redundante). Não é admissível que alguém, e muito menos um jornalista de um periódico que se quer credível, possa usar o verbo esgotar neste caso, e muito menos acoplar uma percentagem que não seja de 100%. Excepto se for mau jornalista ou queira intencionalmente fazer mau jornalismo para alarmar as pessoas.

2) Para quem se arroga de ter, no currículo, "acções de formação em Jornalismo de Saúde", convenhamos que a jornalista Alexandra Campos deveria saber enquadrar a actual procura com aquilo que habitualmente sucedia sem covid. Por exemplo, no ano de 2019, em Outubro tinhamos, nos hospitais de LVT (Lisboa e Vale do Tejo), uma taxa (anual) de ocupação que variava entre 79,1% nos hospitais de Lisboa Ocidental e 101,3% no hospital de Vila Franca de Xira (significando que já houvera, ao longo do ano, situações de efectivo esgotamento). Ou seja, estar próximo do esgotamento (e estar próximo do esgotamento não é estar esgotado) é a situação normal dos nossos hospitais com ou sem covid. E não há, na peça da jornalista do Público, qualquer enquadramento. Eu chamo a isso mau jornalismo.