sexta-feira, 3 de abril de 2020

DO SABER POR ONDE ANDA O BICHO...

Tenho vindo a alertar (e não sou só eu, claro!) para a eventual subavaliação da covid que poderá não só estar a matar mais como também a causar indirectamente outras mortes (por deficiências de assistência médica, e também por receio das pessoas a irem ao hospital). Pois bem, fui olhar para a evolução dos óbitos a nível distrital. Como já referi, por razões de melhoria climatérica, o mês de Março, e o de 2020 não fugiu à regra, deveria ter levado a uma diminuição da mortalidade ao longo deste período. A nível nacional tal não se verificou, pelo contrário. A covid é apontada como a principal responsável.
Porém, será que foi assim em todo o país? E será que os distritos com mais casos conhecidos por covid foram os que apresentam maiores variações de agravamento da mortalidade? Decidi assim ir olhar para os dados mais detalhados da DGS e defini dois períodos de 16 dias (29Fev-15Mar e 16Mar-31Mar), de modo a determinar as diferenças entre o período pré e pós-mortes por covid. Os resultados estão patentes no gráfico em anexo.
Curiosamente, em termos percentuais, Portalegre é o distrito que regista um maior crescimento entre os dois períodos (+40,3%), apesar de não existirem notícias sobre uma forte incidência de covid na região. Beja também regista um crescimento elevado (+29,5%), fenómeno que já não ocorre no outro distrito alentejano: Évora até teve uma redução na mortalidade (-2,7%).
Contudo, foi no distrito do Porto que se registou a maior variação absoluta entre o primeiro e o segundo período em análise (mais 97 óbitos, que correponde a um aumento de 13,0%), seguindo-se Aveiro (mais 74 óbitos e um aumento de 23,4%), Lisboa (mais 59 óbitos e um aumento de 6,4%), Braga (mais 36 óbitos e um aumento de 11,3%).e Faro (mais 30 óbitos e um aumento de 16,3%).
Além de Évora, destaque-se a redução da mortalidade no segundo período de Março no distrito de Bragança (menos 15 óbitos e uma redução de 14,6%). O distrito de Setúbal teve um ligeiríssimo aumento (apenas mais 0,5%).
Esta simples e breve análise serve sobretudo como alerta para a necessidade de um acompanhamento mais rigoroso em termos de saúde pública neste período de crise. Através da evolução da mortalidade pode-se detectar sinais quer de focos de covid que não estão patentes pela fraca realização de testes quer destacar outros problemas graves, como seja o receio das pessoas em irem agora ao hospital, causando assim mais mortes por doença súbita (e.g., enfartes e AVC).


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