sexta-feira, 24 de abril de 2020

DA HIPOCRISIA, DA IRRACIONALIDADE E DOS VELHINHOS-MUITO-VELHINHOS

Não me perguntem porquê, pois não sei, mas a Vigilância da Mortalidade da DGS passou agora a desagregar ainda mais os grupos etários, tendo agora o grupo dos 75 aos 84 anos, e o grupo com mais de 85 anos. Obviamente, a curiosidade "empurrou-me" logo para saber se os "velhinhos-muito-velhinhos" andavam mesmo a "cair que nem tordos", nos lares deste país, por causa da covid-19, e muito mais do que era normal. Pelo menos, isso seria de esperar como tem mostrado a comunicação social. Pois a resposta, minhas senhoras e meus senhores, adianto já, é um rotundíssimo NÃO!
Desta vez (poupem-me) não fiz comparações com a média dos últimos10 anos, porque já sobejamente apresentei "provas" de que o ano de 2020 (e a época de vigilância da gripe 2019-2020) estão abaixo da média da mortalidade. Se comparasse com a média, a minha "tese" ainda seria muitíssimo mais reforçada, garanto! Quis apenas comparar a variação da mortalidade na época da covid (Março-22Abril) com o período de Outubto-Fevereiro (que apanha o surto de gripe, como seu apogeu em Janeiro). Note-se que a gripe desta época foi relativamente fraca, o que, não suceder, faria com que o coronavírus tivesse menos pessoas vulneráveis agora para atacar (por razões óbvias).
Ora, como podem observar no gráfico, a covid-19 causou um acréscimona mortalidade dos "velhinhos-muito-velhinhos" (mais de 85 anos), mas, surpresa!, a níveis inferiores aos da "suave" gripe de Janeiro deste ano. Ora, onde se esteve a fazer notícias-24-horas e confinamentos enquanto morriam os velhinhos-muito-velhinhos em Janeiro por causa de um simples surto gripal?
Se formos à faixa etária adjacente (entre os 75-84 anos), também se observa o mesmo cenário: mais mortes em Janeiro, do que em Março-Abril. No grupo de 65-74 anos, então, registou-se um ligeiro incremento em Março, mas os valores da mortalidade em Abril estão ao nível de Outubro, ou seja, normais.
Se olharmos então para as faixas mais jovens, o cenário mostra-se ainda mais incompreensível face ao actual estado de emergência: NUNCA houve sinais de perigo para os grupos etários que integram os mais jovens e a população activa (tanto entre 55 e 64 anos, e sobretudo com idades inferiores a 55 anos). Neste grande grupo (que integra mais de 2/3 da população portuguesa), tanto a gripe como a covid-19 não fizeram qualquer estrago "relevante". Ou seja, excepto em casos pontuais (e sabemos que a morte pode surgir em qualquer idade, mas as probabilidades variam ao longo da vida).
Bem sei que, no actual cenário, onde se encontram alguns países com indicadores preocupantes (Itália, Espanha e Bélgica... embora a necessitar de análise mais detalhadas), e vemos depois políticos irresponsáveis como Trump & Bolsonaro (que mais contribuem para que os outros países optem por manter confinamentos), é difícil que este tipo de análises, como as que faço, possam reunir muita aceitação. Porém, em consciência, cada vez acho que vivemos tempos absurdos, irracionais e hipócritas. E nem estamos a salvar assim tantas pessoas quanto isso.
Pelo contrário, no fim de tudo, quando a Economia começar a matar pessoas, veremos o saldo. Ou não, porque não se fará qualquer balanço. E continuará tudo como dantes, com as mortes pelo tabaco ou pela poluição atmosférica - ou até pelas simples gripes, a matarem suavemente, mas matando bem, sem ninguém se incomodar demasiado.








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