segunda-feira, 1 de junho de 2020

DO SUICÍDIO NO TEMPO DO "VAMOS FICAR TODOS BEM"

Existe, há alguns anos, um "pacto de silêncio" na comunicação social (e concordo) em redor dos suicídios. Mas se o objectivo é evitar a propagação deste fenómeno por cópia (o chamado Efeito Werther, vindo do romance setecentista de Goethe), não pode ser ignorado como um risco suplementar nos tempos que correm, e sobretudo nos que correrão. Apesar deste "apagamento " mediático, os dados oficiais (SICO) mostram que o suicídio mata mais do que os acidentes rodoviários, os acidentes de trabalho e os homicídios - todos juntos!

Não sou médico, nem psiquiatra nem psicólogo, mas parece-me lógico antever que em períodos de crise económica haverá um maior risco de sucídio. Em 2014 e 2015, quando ainda a último crise  não nos abandonara, registaram-se 902 e 771 suicíduos, respectivamente. Nos anos seguintes, com a melhoria financeira, observou-se uma tendência de redução: 585 em 2016, 616 em 2017, 553 em 2018 e 495 em 2019. Este ano, até Abril, todos os meses tinham registado menos suicídios que o mês homólogo do ano anterior. Em Janeiro de 2020 contaram-se 39 (menos 9), em Fevereiro 38 (menos 7), em Março 42 (menos 8) e em Abril 34 (menos 6).

Mas eis que surge Maio!E tivémos então uma inversão. Ao longo dos 31 dias do mês que agora findou, registaram-se 56 suicídios, o valor mais elevado dos últimos 22 meses, e o terceiro mais elevado desde 2018. Pode ser um acaso (existem muito, porque são complexos os meandros que levam ao suicído), mas espero que este assunto não ignorado. Até porque é enganador pensar que "Vamos Todos Ficar Bem". Não vamos.




Sem comentários:

Enviar um comentário