terça-feira, 9 de junho de 2020

DAS NÃO-INTERMITÊNCIAS DA MORTE

"No dia seguinte ninguém morreu", assim iniciava José Saramago o seu romance, publicado em 2005, que contava a história da senhora Morte que decidira tirar férias. A realidade, contudo, ao contrário, tem-nos dado, quotidianamente, sob a forma de conferência de imprensa técnico-governamental, desde Março, a actividade da Morte, a contínua contabilização da acção da Morte. Mas toda? Não! Só daquelas almas ceifadas com a foice chamada covid-19. As outras foices e as outras almas não interessam, nem aquelas que anonimamente se quedaram na canícula de finais de Maio.

Enfim, se a Morte no romance de Saramago meteu férias, eu não sei agora quando haverá férias nas conferências de imprensa da covid. O Governo está num labirinto. Como terminá-las agora, tendo em conta os casos positivos mais recentes e o tempo médio para os desfechos mais trágicos? É certo, basta fazer contas simples, que vamos ter mortes por covid-19 pelo Verão adentro. Hoje cinco, amanhã seis, depois quatro, depois sete... Sempre assim, sob a forma de longa conferência de imprensa, a caírem sobre nós. Como um flagelo. Para todo o sempre?


Sem comentários:

Enviar um comentário