Eu, que sou ideologicamente de esquerda, tenho-me sentido extremamente incomodado por ver apenas pessoas da área da direita a não "embandeirarem em arco" com o desempenho do Governo português no combate à pandemia e seus efeitos. Pior ainda, se venho dizer que o rei, embora não nu, anda algo mal-vestido, saltam-me logo em cima alguns "alfaiates" do regime, alguns mais papistas do que o papa, e tenho alguns amigos/as que olimpicamente me ignoram. Ossos do ofício, paciência.
Na imprensa então, nem ser fala. Não há uma crítica. É um amen absoluto. Opinadores elogiam a acção governamental porque sim. Há jornais que, pela sua ausência de análise crítica ao Governo vão pagar caro. Não aprendem com os erros do passado, que os levou à perda paulatina de leitores (não é só a Internet). Quando estou a falar em análise critica, não estou a dizer que se critique o Governo; estou sim a dizer que a imprensa deve fazer análises com sentido crítico para, em seguida, concluir algo... favorável ou desfavorável.
Sinceramente, gostava que se encontrassem critérios para se avaliar. Nem falo já no excesso de mortes por afecções não-covid, num claro sinal de que o SNS não tem sabido dar resposta à situação actual. E isto eu não consigo compreender porque a imprensa em geral não questiona a DGS e o Governo. Ainda há pouco mais de uma semana a pequena onda de calor fez subir a mortalidade e não se ouviu uma pegunt sobre esta matéria. Salvar vidas não é só salvar as pessoas de morrerem de covid. Mostrar serviço, não é só controlar o número de mortes por covid.
Falo, pois, de critérios de avaliação, objectivos e comparativos. Bem sei que as pessoas estão aliviadas por não termos tido a mortandade de Espanha, nem andarmos no absurdo caos brasileiro. Mas não estamos em nenhuma situação milagrosa, e os próximos tempos vão ser dramáticos para uma franja muito grande da população por causa do colapso económico que, sendo já evidente, temo que venha a ser catastrófico se não se abrir a actividade para o "antigo normal".
Deixo-vos apenas, para reflexão, dois indicadores para se comparar objectivamente Portugal no seu quadro regional a nível mundial: Dentro dos países da UE-27, em termos de mortes covid por milhão habitantes, estamos na 9ª pior posição, com 144 óbitos, apenas atrás da Bélgica (827), Espanha (580), Itália (559), Suécia (460), França (446), Holanda (351), Irlanda (338) e Luxemburgo (176). Isto não inclui o excesso de mortes não-covid.
Em termos de evolução económica, comparando o último trimestre de 2019 com o 1º trimestre de 2020 (e a procissão ainda vai no adro), Portugal registou a 8ª pior prestação, com uma queda do PIB de 2,66%, estando atrás da Espanha (-5,4%), Itália (-5,2%), França (-4,4%), Eslovénia (-4,2%), Bélgica (-4,0%), Estónia (-3,9%) e Grécia (-2,71%). Nem todos tiveram reduções, diga-se. Seis países registaram aumento do PIB, a saber: Irlanda (+1,5%), Polónia (+1,2%), Bulgária e Hungria (ambos, + 0,5%), Suécia (+0,4%) e Chipre (+0,2%).
Na imprensa então, nem ser fala. Não há uma crítica. É um amen absoluto. Opinadores elogiam a acção governamental porque sim. Há jornais que, pela sua ausência de análise crítica ao Governo vão pagar caro. Não aprendem com os erros do passado, que os levou à perda paulatina de leitores (não é só a Internet). Quando estou a falar em análise critica, não estou a dizer que se critique o Governo; estou sim a dizer que a imprensa deve fazer análises com sentido crítico para, em seguida, concluir algo... favorável ou desfavorável.
Sinceramente, gostava que se encontrassem critérios para se avaliar. Nem falo já no excesso de mortes por afecções não-covid, num claro sinal de que o SNS não tem sabido dar resposta à situação actual. E isto eu não consigo compreender porque a imprensa em geral não questiona a DGS e o Governo. Ainda há pouco mais de uma semana a pequena onda de calor fez subir a mortalidade e não se ouviu uma pegunt sobre esta matéria. Salvar vidas não é só salvar as pessoas de morrerem de covid. Mostrar serviço, não é só controlar o número de mortes por covid.
Falo, pois, de critérios de avaliação, objectivos e comparativos. Bem sei que as pessoas estão aliviadas por não termos tido a mortandade de Espanha, nem andarmos no absurdo caos brasileiro. Mas não estamos em nenhuma situação milagrosa, e os próximos tempos vão ser dramáticos para uma franja muito grande da população por causa do colapso económico que, sendo já evidente, temo que venha a ser catastrófico se não se abrir a actividade para o "antigo normal".
Deixo-vos apenas, para reflexão, dois indicadores para se comparar objectivamente Portugal no seu quadro regional a nível mundial: Dentro dos países da UE-27, em termos de mortes covid por milhão habitantes, estamos na 9ª pior posição, com 144 óbitos, apenas atrás da Bélgica (827), Espanha (580), Itália (559), Suécia (460), França (446), Holanda (351), Irlanda (338) e Luxemburgo (176). Isto não inclui o excesso de mortes não-covid.
Em termos de evolução económica, comparando o último trimestre de 2019 com o 1º trimestre de 2020 (e a procissão ainda vai no adro), Portugal registou a 8ª pior prestação, com uma queda do PIB de 2,66%, estando atrás da Espanha (-5,4%), Itália (-5,2%), França (-4,4%), Eslovénia (-4,2%), Bélgica (-4,0%), Estónia (-3,9%) e Grécia (-2,71%). Nem todos tiveram reduções, diga-se. Seis países registaram aumento do PIB, a saber: Irlanda (+1,5%), Polónia (+1,2%), Bulgária e Hungria (ambos, + 0,5%), Suécia (+0,4%) e Chipre (+0,2%).
Caro Pedro Almeida Vieira, compreendo perfeitamente o que diz e também eu, que sou ideológicamente de esquerda, sinto uma enorme perplexidade com o facto de constatar que o pensamento e a análise crítica dos factos parece neste momento tão difícil à maior parte dos meus amigos com quem, a respeito de outros assuntos me sinto "em família". Nunca assisti na verdade a um silenciamento tão forte e a um tão grande bloqueio do pensamento com cargas de emocionalidade confrangedoras e destrutivas. Tenho reflectido bastante sobre o assunto... ainda não encontrei respostas...mas partilho alguns dos meus pensamentos em construção provisória: a defesa do SNS ( minha bandeira e de quem se situa à esquerda) parece ser confundida com a impossibilidade de crítica ao SNS, como se ao criticar as suas deficiências e mau-funcionamento o estivéssemos a atacar e a defender os privados - veja-se que quase todos os partidos de esquerda não têm ao longo dos últimnos anos dito muito sobre o estado confrangedor dos atendimentos nos Serviços Públicos, embora que exijam melhorias, mais médicos e investimento. Ora, neste momento, criticar a forma como a DGS tem gerido a situação é confundido com crítica ao sistema de Público de Saúde; Depois, o facto de termos dois países com ditadores tresloucados como Trump e Bolsonaro, que têm desvalorizado a pandemia, faz com que, quem tem uma leitura mais realista da pandemia seja "colado" a estes dois sistemas hediondos... fazer uma leitura que não é a "oficial" e publicá-la torna-se extremamente difícil a quem é de esquerda pois vê-se trocidado ( por pessoas sem argumentação consistente ) na praça dos amigos. Sinto que nunca tive "tantos amigos de esquerda" subservientes mesmo a políticas securitárias às quais sempre se opuseram, aderindo a limitações às liberdades e a direitos ( que sempre defenderam) ; nunca vi tanta "estupidez" e tanta "dissonância cognitiva" e tanta emocionalidade a discutir um problema e tanta negação de factos. Eu própria, que tenho uma actividade profissional que me ocupa muito tempo de elaboração mental e necessidade de sossego para poder desenvolvê-la, me tenho visto envolvida em publicações de factos e números e explicações diárias na minha página, com a expectativa de que "água mole em pedra dura" tanto bate até que fura"... mas é um trabalho muitas vezes inglório. Suponho também que mesmo quando em algumas pessoas a cabeça começa a ter um lugar nmais racional para trabalhar, é muito dificil largar antigas leituras, uma espécie de "fidelidade" ao que se disse e ao que se pensou ( suportes identitários e de pertença) que torna muito difícil a mudança. Também estou muito preocupada com a ascensão de grupos de direita que certamente cavalgarão nos destroços, com a esquerda em silêncio sobre o sítio onde errou. São tempo de sombra...como diz Lídia Jorge num dos seus títulos "Combateremos a sombra". Mas será muto difícil e em alguns momentos sentiremos a solidão na "família de esquerda". Um abraço e muito obrigada pelo seu excelente trabalho de pesquisa, reflexão e esclarecimento.
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