Alguém se lembra do que sucedeu em 2 de Janeiro de 2017? Não? De certeza? Pois,eu digo-vos o que sucedeu em 2 de Janeiro de 2017. Foi o dia mais letal em Portugal desde que existem registos diários consultáveis. Foram registados 578 óbitos apenas em 24 horas! O máximo da quinzena que estamos a viver, em plena covid-19, foi de 368 óbitos, no dia 24 de Março.
Ora, o que sucedeu então no dia 2 de Janeiro de 2017? Bom, foi "apenas" o pico de um "habitual" surto de gripe comum, nessa época um bocado mais agreste. Começou na segunda quinzena de Dezembro de 2016 e foi progressivamente piorando: na véspera do Natal alcançou-se quase 450 óbitos, cerca de uma centena de mortes a mais do que o habitual. A seguir agudizou-se, com o tal pico em 2 de Janeiro de 2017, e só se resolveu cerca de duas semanas mais tarde. Os relatórios da DGS e diversos estudos revelariam uma sobremaortalidade causada por esse surto de gripe da ordem dos quase 4.500 óbitos.
Isto para dizer que, felizmente, não estamos ainda nesta situação, mas temo que, se a covid-19 for mesmo tão má como tem sido "pintada", a situação possa tornar-se catastrófica, ou seja, que se supere em alguns dias os 500 óbitos no total (para todas as causas). No entanto, o que eu quero chamar a atenção é que passámos, toda a sociedade passou pelo gripe de 2016-2017 como cão por vinha vindimada. Não houve boletins diários da DGS, não houve estado de emergência, não houve quarentena, não houve actividades económicas paradas, não houve preocupações com lares de idosos, como a protecção de médicos e de doentes, e aceitámos uma mortalidade elevadíssima com completa indiferença.
Não estou, obviamente, a dizer que as medidas que estão a ser tomadas sejam excessivas. Estou apenas a dizer que, provavelmente, estamos agora a tomar medidas excepcionais para uma situação gravíssima porque, como sociedade, nunca nos preocupámos quando ocorrerm situações graves. Mas sobretudo gostava que se reflectisse sobre isto.
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