sábado, 4 de abril de 2020

DA POESIA NA QUARENTENA

Por andarem já muitos vates a poetar inspirados na covid, veio-me à lembrança uma "grande" obra da literatura portuguesa intitulada "Colecçam das Obras que na Academia dos Occultos se recitáraõ na morte do Fidelissimo, e Augustissimo Rey D. Joaõ V". A "coisa" é constituída por 13 sonetos, cinco romances, dois epitáfios, duas elegias, um epigrama, uma inscrição sepulcral, um romance hendecassílabo, uma écloga, uma oitava e um romance heróico. Ufa! Ainda estamos, portanto, nos tempos que correm, muito aquém do desejado.
Entre tanta qualidade, foi-me difícil escolher um exemplo a destacar desse portento da poesia do século XVIII. Mas aqui vai em baixo...





sexta-feira, 3 de abril de 2020

DO SABER POR ONDE ANDA O BICHO...

Tenho vindo a alertar (e não sou só eu, claro!) para a eventual subavaliação da covid que poderá não só estar a matar mais como também a causar indirectamente outras mortes (por deficiências de assistência médica, e também por receio das pessoas a irem ao hospital). Pois bem, fui olhar para a evolução dos óbitos a nível distrital. Como já referi, por razões de melhoria climatérica, o mês de Março, e o de 2020 não fugiu à regra, deveria ter levado a uma diminuição da mortalidade ao longo deste período. A nível nacional tal não se verificou, pelo contrário. A covid é apontada como a principal responsável.
Porém, será que foi assim em todo o país? E será que os distritos com mais casos conhecidos por covid foram os que apresentam maiores variações de agravamento da mortalidade? Decidi assim ir olhar para os dados mais detalhados da DGS e defini dois períodos de 16 dias (29Fev-15Mar e 16Mar-31Mar), de modo a determinar as diferenças entre o período pré e pós-mortes por covid. Os resultados estão patentes no gráfico em anexo.
Curiosamente, em termos percentuais, Portalegre é o distrito que regista um maior crescimento entre os dois períodos (+40,3%), apesar de não existirem notícias sobre uma forte incidência de covid na região. Beja também regista um crescimento elevado (+29,5%), fenómeno que já não ocorre no outro distrito alentejano: Évora até teve uma redução na mortalidade (-2,7%).
Contudo, foi no distrito do Porto que se registou a maior variação absoluta entre o primeiro e o segundo período em análise (mais 97 óbitos, que correponde a um aumento de 13,0%), seguindo-se Aveiro (mais 74 óbitos e um aumento de 23,4%), Lisboa (mais 59 óbitos e um aumento de 6,4%), Braga (mais 36 óbitos e um aumento de 11,3%).e Faro (mais 30 óbitos e um aumento de 16,3%).
Além de Évora, destaque-se a redução da mortalidade no segundo período de Março no distrito de Bragança (menos 15 óbitos e uma redução de 14,6%). O distrito de Setúbal teve um ligeiríssimo aumento (apenas mais 0,5%).
Esta simples e breve análise serve sobretudo como alerta para a necessidade de um acompanhamento mais rigoroso em termos de saúde pública neste período de crise. Através da evolução da mortalidade pode-se detectar sinais quer de focos de covid que não estão patentes pela fraca realização de testes quer destacar outros problemas graves, como seja o receio das pessoas em irem agora ao hospital, causando assim mais mortes por doença súbita (e.g., enfartes e AVC).


DO RISCO DE EMBANDEIRAR EM ARCO

Embora com todas as ressalvas sobre o rigor na contabilização da mortalidade por covid-19, não há ainda qualquer motivo para pensar que chegámos ao "planalto" por via de um aparente desaceleramento da curva. A situaçao nos últimso dois dias mostra que ficámos numa linha de evolução ligeiramente melhor que a espanhola, mas a "coisa" pode piorar muito facilmente.
Com efeito, conforme podem observar no gráfico, padronizei a mortalidade em Espanha em função da população portuguesa (dividindo o seu número de mortes por um factor 4,534) e comparei a evolução diária entre os dois países a partir do primeiro óbito por covid, tendo em conta que a data da primeira morte registada em Espanha foi no dia 3 de Março e em Portugal em 16 de Março. Significa que só a partir do 18º dia (que corresponde em Portugal ao dia 2 de Abril) passámos a ter menos mortes do que Espanha. Note-se, porém, que a diferença ao 19º dia (que em Portugal corresponde ao dia 3 de Abril e em Espanha ao dia 21 de Março) não me parece ainda muito relevante (246 vs. 305).
Ou seja, os próximos dias serão cruciais, sobretudo porque à medida que sobe o número de infectados se incrementam as necessidade de resposta dos cuidados intensivos. E se o sistema entra em ruptura por aí, a situação vai complicar-se. Por isso. estamos muito, muito longe ainda de pensar que, num futuro próximo, estaremos melhor do que a Espanha e a Itália. Aliás, basta reparar, conforme o segundo gráfico, como evoluiu a Espanha a partir do 20º dia (nota: para se compreender este gráfico, o dia 1 corresponde a 3 de Março, data do registo do primeiro óbito espanhol, e o dia 32 ao dia 3 de Abril).



quinta-feira, 2 de abril de 2020

DOS FACTOS

Segundo a OCDE, Portugal tem 3,4 camas hospitalares por mil habitantes; Itália e Espanha ainda menos (3). A Alemanha conta com 8. A Coreia do Sul com 12. O Japão com 13,1... Não admira que depois se ande à pressa, nos países latinos, a improvisar hospitais de campanha... E morgues.

DA SINGAPURA / Andam todos a falar da Suécia, por estar a usar uma estratégia contra-corrente, mas devíamos era tentar perceber porque razão Singapura, com casos desde Janeiro, tem apenas quatro mortes. Não é um acaso nem sorte: segundo o Legatum Index, este país asiático tem os melhores cuidados de saúde do Mundo e soube responder de forma exemplar à epidemia vinda da China...


DA SINGAPURA... COM AMOR

Enquanto aqui batemos palmas aos médicos, em Singapura - claramente o país com melhor desempenho mundial contra a epidemia - estipulou-se um prémio salarial para as equipas médicas, enquanto os políticos e altos funcionários do Governo assumiram um corte salarial em solidariedade. E parece que não houve falta de ventiladores. Aliás, quantos países europeus têm um "National Centre for Infectious Diseases"?

DOS NÚMEROS QUE IMPORTAM

Vou deixar de ligar aos boletins da DGS sobre a mortalidade da covid-19. Não indicam nada; apenas a ponta do icebergue. Importante sim parece-me ser, neste momento, analisar a evolução da mortalidade geral pois reflecte muito melhor o impacte da epidemia.
Nessa linha, os dois gráficos seguintes mostram um sinal positivo e outro negativo. O positivo revela-se pelo impacte ainda não preocupante da covid na mortalidade de 2020: desde 2009 (12 anos), o presente ano é "apenas" o sexto mais mortífero. Nos 92 dias do ano registaram-se 31.899 óbitos que confrontam com 35.652 óbitos em 2015. Os anos de 2012, 2017, 2018 e 2019 também foram mais mortíferos até 1 de Abril.
A má notícia é revelada no segundo gráfico. A segunda quinzena de Março de 2020 foi a mais mortífera desde 2009 com 5.474 óbitos. E isto sim é bastante preocupante, pois estamos ainda em plena crise.


DA RESPOSTA AO RAMALHO EANES

"E nós, como Estado, temos de ter capacidade, se necessário, de dar ventiladores aos velhos para que eles não tenham de dar os deles aos novos".



DO NOSSO EMBALAMENTO

A DGS lá nos vai anunciando, nos seus boletins diários, que vão morrendo 10, 15, 20 pessoas por dia de covid, e confrontamos isso sempre com as largas centenas em Itália e Espanha. Felizmente, a situação nacional ainda é menos problemática comparando com esses países latinos, mas também não é assim tão delicodoce.
Com efeito, olhar para a evolução da mortalidade em Portugal ao longo do mês de Março (vd. gráfico 1, G1) observa-se bem a abrupta inflexão, sobretudo a partir de 16 de Março, na mortalidade deste ano em relação à média dos últimos 10 anos. na primeira quizena muito menos mortos este ano; na segunda, muitíssimos mais. A partir do dia 24 até dia 31, então, a situação começa a ser preocupante: morreram mais 396 pessoas do que a média. E isto num mês que, por norma, tem a segunda quizena a ser menos mortífera, como se pode observar na linha de tendência do gráfico 1. Segundo a DGS, nesse mesmo período terão morrido apenas 144 pessoas com covid-19 (passando de 43 óbitos no dia 24 para 187 em 31 de Março).
No gráfico 2 (G2) observa-se ainda de uma forma mais evidente a evolução por período de 10 dias. Até dia 10 de Março, este ano estava a ser claramente menos mortífero do que a média (302 vs. 337 óbitos por dia), no período de 11 a 20 de Março já o ano de 2020 ultrapassa ligeiramente a média (329 vs. 321) e no período de 21 a 31 de Março dispara a diferença (345 vs. 307). Reitero que isso se verificou num período onde, por norma, devido á melhoria das condições climáticas, a mortalidade se reduz. De facto, se compararamos a média dos últimos 10 anos, o período 21-31 de Março regista uma redução de cerca de 9% na mortalidade em comparação com o período de 1 a 10 de Março, mas no caso de 2020 afinal tivémos um aumento de 14%!


quarta-feira, 1 de abril de 2020

6º BOLETIM DO ACRÉSCIMO DE MORTALIDADE /

Além do registo diário relativo ao dia de ontem, a DGS tem continuado a rectificar o dia de anteontem. Relativamente ao meu boletim anterior, o dia 30 tinha inicialmente um registo de 325 óbitos e passou agora para 357.

Com base nos registos de 31 de Março da mortalidade geral (342 óbitos) e por covid-19 (mais 27 óbitos, passando assim para 187), estimo assim um acréscimo na mortalidade não explicada pela covid-19 de 571 óbitos (que confronta com 553 óbitos ontem). Este valor tem em conta os 187 óbitos por covid-19, de acordo com os dados da DGS.
O acréscimo de mortalidade não explicada é, para o período em análise, de cerca de 36 óbitos por dia na segunda quinzena de Março, um ligeiro descréscimo em relação ao dia de ontem (37 óbitos por dia).
Analisando o histórico da mortalidade na última década, os valores da desde 16 de Março são elevados para o período em análise (em média por dia mais 10,46% comparativamente à primeira quinzena de Março), mas ainda inferiores aos surtos de gripes (como na época de 2011/12, 2014/15 e 2016/2017), já que, nestes casos se ultrapassaram os 400 óbitos por dia.
Nessa linha, a situação será considerada preocupante se os óbitos subirem, por dia, acima de 400. Aparenta existir uma estagnação no acréscimo de mortes não explicadas, o que pode, nesta fase, ser um sinal positivo dentro do cenário actual, mas continua a dar alguns sinais de preocupação. O acréscimo de mortalidade por dia durante a segunda quinzena de Março foi bastante superior ao dos óbitos oficiais por covid-19 (571 vs. 187).
Os pressupostos desta análise constam no primeiro boletim.
Mortalidade registada no período 16mar-31mar (16 dias)
2020: 5.446 óbitos (340 por dia, mais 2 do que o período 16mar-30mar);
2019: 4.989 óbitos (312 por dia, mais 1 do que o período 16mar-30mar);
Últimos 10 anos: 4.972 óbitos (311 por dia, mais 1 do que o período 16mar-30mar).

Mortalidade registada no período 1mar-15mar
2020: 4.622 óbitos (308 por dia)
2019: 4.980 óbitos (332 por dia)
Últimos 10 anos: 4.983 óbitos (332 por dia)

Variação diária efectiva (%) entre 16mar-31mar e 1mar-15mar
2020: +10,46%
2019: -6,08%
Últimos 10 anos: -6,46%

Mortalidade expectável 16mar-31mar2020: 4.688 (293 por dia)
Ano da última década com menor mortalidade média 16mar-31mar ---> 2014: 293 óbitos por dia

ESTIMATIVA DO ACRÉSCIMO DE MORTALIDADE EM 2020 NO PERÍODO 16mar-31mar: 758 óbitos (47 por dia)
ÓBITOS OFICIAIS POR COVID-19 NO PERÍODO 16mar-31mar: 187 óbitos (11 por dia)
ESTIMATIVA DE ÓBITOS NÃO EXPLICADOS NO PERÍODO 16mar-31mar: 571 óbitos (36 por dia)

DA VERDADE DO 1 DE ABRIL

O SARS-CoV-2 não existe. Uma mentira de hoje que deveria ser a verdade de amanhã.


terça-feira, 31 de março de 2020

DOS EFEITOS COLATERAIS DA COVID

Obviamente é um mero exercício (muito, muito) simplista, mas é o que dá estar em quarentena. Os efeitos do estado de emergência parece estar a reduzir, compreensivelmente, a letalidade da sinistralidade rodoviária, mas não os acidentes de trabalho. Os homicícios também diminuíram, e até agora o isolamento (e as dificuldades financeiras) não tem feito disparar os eventuais suicídios (pelo menos não estão acima de Janeiro... o Ano Novo não é bom conselheiro para gente deprimida).


DA IRRESPONSABILIDADE

Marcelo Rebelo de Sousa é, desde que se tornou Presidente da República, mais do que um simples cidadão. É, do ponto de vista constitucional, uma instituição. Tem direitos e deveres reforçados, o que lhe impõe até limites de cidadania. Por exemplo, para se ausentar do país, em tempos normais, tem até de pedir autorização formal do Parlamento. Obviamente, está subjacente em tudo isto, com maior ou menor formalismo, a protecção física da instituição Presidente da República. Por isso mesmo, mostra-se um absurdo que Marcelo Rebelo de Sousa, que não se pode esquecer que é Presidente da República, ande em tempos de pandemia a fazer comprinhas no supermercado de Cascais, como sucedeu neste domingo, ainda mais estando ele integrado num grupo de risco. Ninguém as pode fazer por ele? Não há serviços da Presidência que o alimentem? E, já agora, a OMS e a própria DGS não desaconselham o uso de máscaras para quem não está infectado? Isto é só parvoíce ou apenas uma grande irresponsabilidade?


5º BOLETIM DO ACRÉSCIMO DE MORTALIDADE

Alerta-se para o facto de a DGS ter vindo a rectificar o número de óbitos da última semana, que sofreram assim um acréscimo. Relativamente ao meu boletim anterior, o dia 29 tinha inicialmente um registo de 301 óbitos e passou agora para 342.

Com base nos registos de 30 de Março da mortalidade geral (325 óbitos) e por covid-19 (mais 20 óbitos, passando assim para 160), estimo assim um acréscimo na mortalidade não explicada pela covid-19 de 553 óbitos (que confronta com 492 óbitos ontem). Este valor tem em conta os 160 óbitos por covid-19, de acordo com os dados da DGS.
O acréscimo de mortalidade não explicada é, para o período em análise, de cerca de 37 óbitos por dia na segunda quinzena de Março, um ligeiro aumento em relação ao dia de ontem (35 óbitos por dia).
Analisando o histórico da mortalidade na última década, os valores da desde 16 de Março são elevados para o período em análise (em média por dia mais 9,74% comparativamente à primeira quinzena de Março), mas ainda inferiores aos surtos de gripes (como na época de 2011/12, 2014/15 e 2016/2017), já que, nestes casos se ultrapassaram os 400 óbitos por dia. Nessa linha, a situação será considerada preocupante se os óbitos subirem, por dia, acima de 400. Aparenta existir uma estagnação no acréscimo de mortes não explicadas, o que pode, nesta fase, ser um sinal positivo dentro do cenário actual, mas continua a dar alguns sinais de preocupação.
Os pressupostos desta análise constam no primeiro boletim.
Mortalidade registada no período 16mar-30mar (15 dias)
2020: 5.072 óbitos (338 por dia, mais 2 do que o período 16mar-29mar);
2019: 4.659 óbitos (311 por dia, igual ao período 16mar-29mar);
Últimos 10 anos: 4.652 óbitos (310 por dia, menos 1 do que o período 16mar-29mar).

Mortalidade registada no período 1mar-15mar
2020: 4.622 óbitos (308 por dia)
2019: 4.980 óbitos (332 por dia)
Últimos 10 anos: 4.983 óbitos (332 por dia)

Variação diária efectiva (%) entre 16mar-30mar e 1mar-15mar
2020: +9,74%
2019: -6,45%
Últimos 10 anos: -6,64%

Mortalidade expectável 16mar-30mar2020: 4.359 (291 por dia)
Ano da última década com menor mortalidade média 16mar-30mar ---> 2014: 291 óbitos por dia

ESTIMATIVA DO ACRÉSCIMO DE MORTALIDADE EM 2020 NO PERÍODO 16mar-30mar: 713 óbitos (48 por dia)
ÓBITOS OFICIAIS POR COVID-19 NO PERÍODO 16mar-30mar: 160 óbitos (11 por dia)
ESTIMATIVA DE ÓBITOS NÃO EXPLICADOS NO PERÍODO 16mar-30mar: 553 óbitos (37 por dia)

segunda-feira, 30 de março de 2020

DOS IMPACTES DA COVID



Em termos de ambiente têm surgido notícias de melhorias assinaláveis. Pena não as pudermos usufruir...