sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

DA IGREJA DA SANTA CACHIMANA OU DA CIÊNCIA A MARTELO

O Excelentíssimo Senhor Doutor João Júlio Milheiro Cerqueira, Omnipotente Pastor da Igreja da Santa Cachimana, vulgo Scimed - Ciência Baseada na Evidência, é homem de Fé, mas com dúvidas. 

Ontem questionou, retoricamente, os seus fiéis sobre em quem confiar: se em "hereges" ou se no European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC); se em "hereges" (onde me incluiu) ou em políticos dos Governos europeus que impuseram lockdowns.

Do alto do seu cachinguento pedestal, trescalou o Excelentíssimo Senhor Doutor a prova irrefutável contra o impenitente "herege", vulgo eu, que consta, enfim, do printscreen de uma notícia do Jornal de Negócios. Bem sabemos que o Jornal de Negócios, tal como outros distópicos órgãos, é a Evidência que faz Luz na Igreja da Santa Cachimana, onde o seu Maioral-Presbítero até consegue, como se confirmou há dias, ler por antecipação relatórios demográficos produzidos no futuro, e não a ser feitos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), como costumeiro, mas sim pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). 

Ora, manifesta-se patente que o Sumo-Sacerdote da Igreja da Santa Cachimana não necessita jamais de ir à Fonte da Sabedoria: neste caso, ler mesmo o relatório do ECDC. Basta-lhe o Jornal de Negócios. E assim faz escusa em ler sequer a página 6 do dito relatório que refere tão-só isto: "Portugal has observed a notable increase in the number of all reported cases of COVID-19 in recent weeks. This increase HAS BEEN ATTRIBUTED [destaques meus] mainly to the relaxing of the NPIs during the end-of-year festive season but also, to a lesser extent, to the spread of the VOC 202012/01 in some regions of the country" (vd. aqui).

Ó pá, deixemo-nos de pormenores gramaticais. O Excelentíssimo Senhor Doutor, também Doutrinador-Mor da Igreja da Santa Cachimana, não é obrigado a ler aporrinhantes relatórios de 29 páginas do ECDC para dar sentenças aos fiéis. Nem tão-pouco tem necessidade em saber línguas de povos bárbaros, de sorte que se mostra irrelevante, excepto ao aporreado Rigor, saber que se uma entidade diz que "tem sido atribuído" uma determinada causa a um certo efeito, não significa que essa entidade a esteja a atribuir ou sequer confirmar qualquer relação. Não digam vós, seguidores do demo, que, se assim pretendesse estabelecer inequívoca relação, o ECDC teria escrito "is attributed" ou "was attributed", em vez de "has been attributed", ou sido ainda mais explícito  com um simples "is", assumindo assim clara relação causa-efeito... Mas, adiante, homens de pouca Fé! Acreditem no Excelentíssimo Senhor Doutor, o Supremo Girigote da Igreja da Santa Cachimana..

De igual modo, o Excelentíssimo Senhor Doutor, com funções de Tanateiro-Chefe da Igreja da Santa Cachimana, não precisa sequer de ler absolutamente nada para garantir que os lockdowns são a Supimpa Maravilha criada por políticos rectos a bem do indisciplinado Povo. Quem não achar ser a primícia maravilha do mundo civilizado é um "herege" que deve morrer na fogueira, com direito a ventilador de uma UCI a bombar por debaixo das brasas.

Aliás, que se cuide o etíope  Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde, pelo ímpio comunicado do passado dia 31 de Dezembro de 2020 onde se refere o seguinte: "However, these measures [lockdowns] can have a profound negative impact on individuals, communities, and societies by bringing social and economic life to a near stop. Such measures disproportionately affect disadvantaged groups, including people in poverty, migrants, internally displaced people and refugees, who most often live in overcrowded and under resourced settings, and depend on daily labour for subsistence. (vd aqui).

Quem não souber traduzir, sempre pode ir perguntar ao presumido Mandraqueiro-Gunga da Igreja da Santa Cachimana, o Excelentíssimo Senhor Doutor João Júlio Milheiro Cerqueira. E levem-lhe 248 caixas de Alka-Seltzer, se faz favor.





DOS NÚMEROS DE 21/1/2021

Seguindo os cálculos que tenho vindo a apresentar em função dos internamentos, da taxa diária de mortalidade dos internados e da linha de tendência entre óbitos e internados, para o dia 21 (ontem), tenho as seguintes previsões:

* Mortalidade entre 226 e 229 óbitos, podendo-se atingir um novo máximo.

A taxa diária de mortalidade dos internados (4,02%) está francamente alta (mas com tendência a estabilizar). Se estivesse ao nível de Outubro, para o actual número de internados, seria previsível a ocorrência de 84 óbitos. Se se considerar a taxa diária em Dezembro seria previsível 141 óbitos.


DOS ESCROQUES

Toda a imprensa nacional, como o Público, divulgou hoje, triunfantemente que o Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) liga o  recente incremento de casos positivos "ao relaxamento no Natal e variante inglesa do vírus".

Mentira pegada. Aldrabice consumada. Criminiosa manipulação. Comensal asco.

O relatório do ECDC, conforme se pode ver na página 6 (vd. aqui),  diz somente isto: "This increase has been attributed mainly to the relaxing of the NPIs [Nonpharmaceutical Interventions] during the end-of-year festive season but also, to a lesser extent, to the spread of the VOC 202012/01 in some regions of the country."

O "tem sido atribuído" não é nem nenhuma certeza, nem o ECDC andou a investigar o caso português nem confirma nem desmente essa associação, que Governo, os consultores da DGS (que não sabem a origem de 87% das infecções) e a Imprensa forçam em atribuir ao Natal e ao suposto mau comportamento das pessoas aquilo que se tornou sobretudo um problema de caos no SNS. 

Tenho a mais completa vergonha deste nosso jornalismo de sarjeta. Shame on you, senhores jornalistas!


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

DO POST DIDÁCTICO PARA ESTIMAR O GRAU DO ACTUAL CAOS

Quando se deseja estimar rapidamente o excesso de mortalidade, geralmente calcula-se a média de óbitos num determinado período (asumindo ser o valor expectável)  e compara-se com o valor observado. Se fizermos isso para os primeiros 20 dias de Janeiro, verificamos que já se contabilizaram 11.849 óbitos, o que contrasta com 7.905 óbitos na média dos últimos cinco anos (2016-2020).

Nesta óptica, e tendo conta os óbitos atribuídos à covid (2.714), teríamos um excesso de mortalidade de 3.944 óbitos, dos quais 1.230 óbitos por causas não-covid.

Tanto um número (covid) como outro (não-covid) já são bastante elevados, mas a não-covid (numa altura em que a vaga de frio parece ter já passado), tem assumido valores elevadíssimos, como se pode constatar nos 721 óbitos totais no dia de ontem (143 óbitos a mais do que o recorde até finais de 2020).

Porém, a mortalidade não-covid será ainda muitíssimo suiperior. Terrível, na verdade, porque demonstrativo dos efeitos colaterais de um SNS comatoso há meses. 

Sigam o meu raciocínio.

No Inverno, é comum, mesmo antes da covid, surgirem surtos gripais mais agrestes nuns anos do que noutros. Por exemplo, pegando nos primeiros 20 dias de Janeiro dos anos de 2009 a 2020 (antes da covid), encontram-se variações entre 6.726 óbitos (2016) e 8.870 óbitos (2017). A diferença, enorme (2.144 óbitos de diferença) é muito simples de explicar: o surto gripal em 2016 foi fraco; em 2017 foi forte.

Ora, a actividade gripal é um dos factores mais determinantes para as variações da mortalidade no Inverno. E sabemos também que a actividade gripal em 2021 é fraca, porque a covid tem sido muito forte e os casos de gripe e doenças respiratórias estão a níveis até mais baixos do que em 2016. Na verdade, mesmo assim, pode-se dizer, para efeitos deste meu raciocínio, que o ano de 2021 deveria estar a ser como o ano de 2016 a que se acresce a covid (o que não é pouco).

Simplificando, a mortalidade para 2021, no período em análise, deveria ser o seguinte:

M2021 = M2016 + Mcovid = 6.726 + 2.714 = 9.440 óbitos.

Porém, aquilo que se registou, até ao dia 20 de Janeiro, foram 11.849 óbitos. Isto é, uma diferença de 2.409 óbitos entre aquilo que seria expectável e o que se observa.

Em suma, estamos a ter, num período em que a covid está a matar quase três vezes mais do que em Outubro (a taxa de mortalidade diária dos internados passou de 1,5% para os actuais 4%), por causa do caos nos hospitais, e em simultâneo, esse mesmo caos, resulta numa mortalidade acrescida por outras causas da ordem dos 2.409 óbitos. E ainda por cima distribuídos por todas as idades acima dos 45 anos, embora com maior particularidade naqueels com mais de 85 anos (os tais que se queria proteger da covid).

Em suma, este é o triste resultado de uma estratégia política de conter a pandemia sem qualquer aposta num investimento reforçado no SNS, antes pelo contrário: assistiu-se a uma redução do número de médicos e à suspensão de consultas, diagnósticos e cirúrgias, deixando uma franja enorme de pessoas em grande vulnerabilidades neste Inverno, tanto para enfrentar uma infecção pelo SARS-CoV-2 como ourtra qualquer mazela ou doença.

O resultado está assim à vista, e só surpreende quem fez ouvidos moucos ao que eu e alguns outros foram alertando desde o início da pandemia: bastaram 20 dias de 2021 para termos um excesso de mortalidade de 2.714 óbitos por covid e 2.409 óbitos por causas não-covid. 

E a tudo isto, o Governo limpa as mãos, limpa as mãos por estas 5.123 vidas perdidas, culpando simplesmente as próprias vítimas e todos os portugueses. E sobretudo colocando os portugueses uns contra os outros. 

E o mais lamentável deste desastre é que vai continuar. E o "circo" também.

Fonte: SICO-eVM.



DO "TENHAM MUITO MEDO" OU DA PANDEMIA CHAMADA CAOS, AGORA QUE ULTRAPASSÁMOS AS 700 MORTES DIÁRIAS E 500 SÃO NÃO-COVID

O SICO-eVM contabiliza, para o dia de ontem, e por agora, 711 óbitos. Com rectificações, o número deve aumentar. Destas, 221 foram covid. Significa que cerca de 500 serão não-covid. Nos anos em que a gripe é fraca (p. ex., 2016), a mortalidade total por dia, neste período, ronda os 370. Vejam em que pé estamos, e não é só pela covid. Nem é sobretudo pela covid.

Para quem andou a defender que a covid é que era importante, e que o resto podia esperar, eis o lindo resultado: a estratégia do Governo (de gerir a imagem e culpando a população,, de andar a mentir sobre os meios disponíveis, e cingir-se a atacar uma pandemia com base em testes e produção de legislação sobre restrições) não só não impediu um aumento da letalidade nos doentes covid como implicou uma mortandade nas afecções não-covid neste Janeiro do nosso decontentamento e de pessoas descompensadas por meses de falta de assitência médica decente.

Minhas senhoras e meus senhores, se têm mais de 45 anos, cuidem-se. Rezem. Os primeiros 20 dias de Janeiro têm sido um caos, com aumento inusitado da mortalidade em todas as faixas etárias a partir da meia-idade. Mesmo naquelas em que a covid apresenta baixa letalidade.

Embora nos menores de 45 anos, a mortalidade em relação à média registe uma variação pouco significativa (e até aos 24 anos até diminuiu), nos primeiros 20 dias de Janeiro disparou para quase 60% na faixa dos maiores de 85 anos. E também subiu muitíssimo logo a partir dos 45 anos, com subidas entre os 34% e os 48%. E isto não é explicado, nem pouco mais ou menos, directamente pelo SARS-CoV-2.

Eis o caos em todo o seu esplendor. Achavam que só se morria de covid? Apoiaram o Governo para que só pensasse em covid, e que "tudo o mais vá pró inferno", como naquela canção do Roberto Carlos? Pois bem, o Inferno está instalado. A culpa é da covid, não é? Dos mal comprtados, não é? Dos doentes, não é? Pois é! É dos doentes; de todos os doentes; e só dos doentes. Se morrem por uma qualquer doença, por falta de assistência médica, a culpa só pode ser dos doentes; nunca do Governo/Estado. Onde já se viu exigir a um Governo que crie condições para tratar da saúde dos seus cidadãos? 

A culpa, vão dizer muitos, é indirectamente daqueles que, portando-se mal, se deixaram infectar pelo SARS-CoV-2 e que  entupiram o SNS. Claro que sim. Nunca jamais é do Governo que nada fez perante a diminuição de mais de 900 médicos no SNS em plena pandemia, e que dizia ter mais de 17.000 camas para uma segunda vaga, quando afinal só tinha pouco mais de 2.000... Sim, o Governo não tem culpa. Durmam descansados... até ao sono eterno, que provavelmente não será de covid, mas de outra mazela tratável mas que se torna intratável num SNS feito em cacos.

Fonte: SICO-eVM.




DA CURA E DA INCÚRIA

O problema é, mostra-se cada vez mais, na incapacidade do SNS em salvar os doentes. Nos maiores de 80 anos a taxa de letalidade era, no início da pandemia, de 20%. Com a melhoria dos conhecimentos na melhor terapêutica foi conseguindo-se baixar até rondar os 15%. De repente, dispara para os 34%. Mais do que duplicou. Isto explica porque andam a morrer mais de 200 pessoas por dia, em vez de menos de 100, como tenho tentado referir nas minhas previsões.

A culpa não é dos médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde.

A culpa é de um um Sistema e de uma estratégia que desinvestiu na Saúde durante anos (políticos de todos os quadrantes), que deixou diminuir em mais de 900 o número de médicos em plena pandemia, que mentiu no número de camas disponíveis, que não implementou um plano de contingência para a vaga de frio.

Os médicos nem sempre fazem milagres. Os políticos, esses, nunca. Na generalidade, fazem merda. E desta vez apanhamos com ela nas fuças. E muitos ainda agradecem. E criticam quem anuncia que o rei vai nu.

DAS VACINAS

 E o motorista que se *oda! O importante é a carga.

Iin Público)

DA NOVA PREVISÃO E DA CONFIRMAÇÃO DO COLAPSO DO SNS

Enquanto se discute encerramento de escolas, parece que os lares continuam a alimentar os hospitais e as morgues. E ninguém parece interessado em saber porque hoje previsivelmente morrerão entre 218 e 227 pessoas (cf. actualização em baixo). 

Ontem "falhei" por quatro óbitos (no modelo da taxa de mortalidade), mas para mim mais importante do que acertar é destacar que existem sobretudo três razões para esta hecatombe:

a) número de internados acima de 3.500 (a partir do qual o sistema entra em colapso), muito abaixo das propaladas 17.000 camas que o Governo dizia existir em Outubro;

b) a população idosa estar numa situação de elevada fragilidade face ao abandono da assistência médica ao longo de mais de 10 meses;

c) o descontrolo completo nos lares, onde se continua sem ter números diários porque Imprensa e Governo não querem saber, e que estão a lançar para os hospitais os idosos para morrerem.

Estamos a viver um período complicado, mas não se culpe o SARS-CoV-2 nem se olhe agora para as escolas como o problema. São manobras de diversão do Governo. 

Estamos a deixar morrer os velhos e a "matar" uma sociedade. Portugal é o único país da Europa Ocidental, a par do Reino Unido, que está num pico de mortalidade. E isso não se deve à covid mas ao falhanço no tratamento da covid. Quem não quiser olhar para a Suécia, então olhe agora para a Espanha. 

Fonte: DGS 


quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

DA MORFINA OU DA SUÉCIA, CLARO, E TAMBÉM DAS ESCOLAS

No momento em que Portugal se aproxima da Suécia na mera contabilização das mortes causadas pela covid, causa-me cada vez mais estranheza que se insista que foi o nosso "simples" mau comportamento no Natal (eu, por exemplo, antecipei-o uma semana e estive apenas com parte da família) e no Ano Novo que espoletou a desgraça que vivemos. E que tudo isto é só culpa da covid, e não da incapacidade de resposta do SNS e da sua crónica debilidade exacerbada pelo pânico e a histeria. 

Causa-me também estranheza que muitos ainda acenem com os erros (confessados) pelas autoridades suecas, que contam com verdadeiros epidemiologistas de formação e não com uns quantos feitos ad hoc ou porque fizerem estudos sobre epidemias, como é o caso português. 

Causa.-me também estranheza que não olhem para a suposta estratégia de Portugal, que farta-se de combater a pandemia com papel (leis) e testes, mas não tem gente no terrenos para sequer saber o que se anda a passar (onde estão estudos epidemiológicos, de risco a nível local; se vissem o que a Suécia tem caíriam de vergonha; veja, a este respeito o recente post do Tiago Franco).

Para todos aqueles que apontam para a Suécia, e depois os comparam aos outros países escandinavos, digo-vos: é verdade que a Suécia apresenta resultados menos bons que a Noruega, a Finlândia e até a Dinamarca. Mas aqueles países fecharam. Querem assim? Mas a questões centrais são duas. Primeiro, querem agora viver uma vida sem risco e dar em troca a própria possibilidade de viver e conviver? Segunda, mas os resultados da Suécia foram maus? Foram anormais ao longo de 2020?

Há dias mostrei aqui um simples gráfico que comparava a taxa de mortalidade dos maiores de 65 anos na Suécia em 2020 e comparava com a taxa de mortalidade média (média dos óbitos dos cinco últimos anos a dividir pela média da população desse período).

Decidi, no entanto, desagregar esses cálculos por ano e por grupo etário, para evitar qualquer viés. E sobretudo mostrar como, antes da covid, eram (e continuarão a ser) bem diferentes as probablidades de se morrer aos 65 anos ou aos 90 anos. Parece que se anda a esquerecer que, por exemplo, alguém com mais de 90 anos já tinha a probabilidade em 20% de se finar ao longo de um ano, enquanto aos 65 é de menos de 2%. Portanto, uma pessoa de 65 anos não deveria entrar em pânico porque sabe que há muitas pessoas de 90 anos a morrer. Com ou sem SARAS-CoV-2. É a infeliz Lei de uma Vida Feliz.

Posto isto, olhem para os gráficos. Qualquer pessoa sem vendas ideológicos ou sociológicas poderão constatar que a taxa de mortalidade em todos os grupos etários na Suécia em 2020 foi praticamenrte semelhante aos anos anteriores, tanto no grupo dos 65-79 anos, no grupo dos 80-89 anos e no grupo dos maiores de 90 anos. Em alguns casos, o ligeiríssimo aumento entre 2019 e 2020 decorre de uma pequena descida da taxa entre 2018 e 2019. A maior subida (se assim se pode chamar) foi nos maiores de 90 anos [quem nos dera a todos chegar a essa idade], onde 2020 teve uma taxa superior em 0,7 pontos percentuais em relação ao anterior máximo no período (2017, que tinha uma taxa de 23,6%). [não é possível comprarar com Portugal, porque no SICO só há a classe dos maiores de 85 anos]

Ou seja, efectivamente morreram mais suecos idosos (em termos absolutos) durante o ano da pandemia, mas porque também a Suécia contava mais idosos do que nos anos anteriores. A proporção manteve-se. Factualmente, não se vê o impacte da pandemia como se vê em Portugal. 

Os resultados da estratégia da Suécia, apesar de todo o histerismo e de acusações de eutanásia (com base em relatos sobre injecções de morfina [aqui em Portugal é mais morrerem os velhos à sede], é uma estratégia que apresentou bons resultados, porque não parou a sociedade, a Economia, as relações sociais, nem andou em derivas totalitárias. Foi a melhor estratégia. Eu sei que muitos não querem admitir, mas é essa a realidade. 

Ah, e a Suécia não fechou escolas com a fúria dos europeus. E porquê? Porque estudos epidemiológicos, feitos por epidemiologistas à séria, com base em ciência empírica (e não em ciência feita em auditórios) concluiu que o risco era irrelevante. Aliás, um estudo sueco, publicado este mês numa revista inglesa (The New England Journal of Medicine, vd. aqui) aponta para zero mortes entre as crianças e um risco mínimo, mínimo para os professores. E tudo sem máscaras.

Fonte: SCB (o INE da Suécia)




DO LAXISMO EM LAXISMO ATÉ À LÁSTIMA FINAL

Era bom que as pessoas acordassem e não pensassem que a subida de mortes nas últimas semanas é só por causa da covid, e que foi tudo por causa dos convívios natalícios. Não sejam ingénuos. O SARS-CoV-2 está a fazer o seu curso, independentemente de lockdowns e restrições. Meter gente em casa, com a prevalência em 5% vai só piorar todos nas próximas semanas. 

Daqui a poucos dias, para nosso triste lamento, Portugal vai ultrapassar a Suécia em mortes de covid por milhão de habitantes. A Suécia, o patinho feio, que, bem vistas as coisas, geriu a pandemia com racionalidade, com erros mas com resultados muito satisfatórias (escreverei mais detalhadamente ainda hoje). A partir dessa quero saber a opinião daqueles que sempre julgaram assassina e iresponsável a estratégia gizada por epidemiologistas com formação à séria. Nós, não temos epidemiologistas de formação e acção; temos apenas investigadores de epidemiologia, e muitos ad hoc.

Neste momento, confesso, que não tenho qualquer proposta para solucionar um beco sem saída. Espero que a meteorologia ajude. Espero que venha algum bom senso (optando-se por soluções como as propostas pelo ex-bastonário da Ordem dos Médicos, de reduzir os internamentos com base em decisões clínicas e não por testes PCR).

Mas tem de ser feito mais, e sobretudo pels outras doenças. Tem de se ganhar a confiança para as pessoas regressarem às urgências em caso de necessidade. Morrem pessoas por medo de irem às urgências. Isrto é terrível, e foi o discurso de medo da Imprensa com a satisfação do Governo. 

Não se pode continuar a assistir impávido a uma carnificina atroz, entre mortos por covid e por aquilo que calhar. Ontem à noite estive a actualizar os gráficos da evolução da mortalidade desde io início de 2020, e é impressionante a escalada dos óbitos a partir do Natal (ou seja, antes de eventuais infecções resultarem em casos positivos). A rampa criada em Janeiro, sem fim à vista, faz as ondas da Primavera e do Verão pareceram planas. 

Não pensem jamais que a culpa é do SARS-CoV-2 ou dos beijos e abraços. A culpa é da falta de estrutura para encaixar um surto invernal da covid, acrescido das debilidades exacerbadas pelo Inverno, ainda mais este que trouxe uma vga de frio. O Governo disse que tinha 17.000 camas para a covid. Não tinha. Não teve um plano de contingência para a vaga de frio. Andaram velhotes a morrerem como tordos. Desde o início do ano, só daqueles que tinham mais de 85 anos foram mais de 5.000; mais de três mil com idades entre os 75 e 84 anos. Nos primeiros 19 dias de Janeiro temos uma média de cerca de 580 óbitos por dia. Reparem que o mês de Setembro, o menos mortífero, tem uma média de 270 óbitos,. Considerem que quase não há gripes e pneumonias. Considerem também que o frio fragiliza qualquer doente, e que a eficácia do tratamento nos hospitais em relação à covid está três vezes pior do que em Outubro.

Não acordem. Não exijam ao Governo responsabilidades,. Continuem a pensar que tudo foi culpa dos abraços e beijos no Natal. Continuem assim que vamos ter todos um lindo "enterro". Ou nem isso.





DO MAU COMPORTAMENTO

Hoje foi Siza Vieira. Já são cinco ministros positivos. Taxa de incidência do Consellho de Ministros: 25%. E depos é o Povo, cuja taxa de incidência pouco ultrapassa os 5% desde o início da pandemia, que anda, supostamente, a portar-se mal? E que leva raspanetes? E que fica confinado, alguns sem salário ou sem rendimentos?

Proponho medidas urgentes para "achatar" a curva do Governo. Assim para a taxa de incidência passar a ser inferior a 5%, entram já…



terça-feira, 19 de janeiro de 2021

DA PEQUENA VANTAGEM DE SER UM PAÍS PEQUENINO MAS DA GRANDE DESVANTAGEM DE TER POLÍTICOS PEQUENINOS

Portugal tem a vantagem de ser um país pequenino. Andar apenas a tratar de pouco mais de 10 milhões de almas tem a sua vantagem. Uma desgraça nunca parece grande à escala mundial. Morrem 218 pessoas em Portugal, isso parece não ser nada se os Estados Unidos anunciarem 3.000. 

Porém, sucede que os tais 3.000 em terras do Tio Sam são menos de 100 em terras de Viriato. E, portanto, por estas e por outras, passamos despercebidos.

Foram incansáveis as notícias sobre os Estados Unidos, o Brasil, o México, até a Índia sobre os milhares de mortos. Aterradores. Nós, porém, até chegámos, supostamente, a ser (auto-)rotulados de "milagre" pela forma como nos estávamos a portar no combate á pandemia. Uma estratégia que, obviamente, se devia à extraordinária capacidade política do Governo.

Contudo, enquanto outros países apostaram numa melhoria dos seus serviços de saúde, o nosso extraordinário Governo foi a banhos, confiando que bastava suspender consultas, exames, diagnósticos e tudo o resto para ir safando o barco. Deu-se mesmo ao luxo de deixar candidamente que o número de médicos baixasse em 918 entre Janeiro e Setembro de 2020, mas fizesse o truque de destacar que houvera um aumento de 548 entre Setembro de 2019 e 2020 (vd. imagem em baixo, retirado do relatório do SNS).

A realidade é esta: em plena pandemia (que não existia em Setembro de 2019) o Governo não teve capacidade de resposta para a saída de mais de 900 médicos. Queria agora um milagre? Temos excesso de doentes ou falta de camas e de médicos?

No entanto, aquilo que mais me surpreende é a (in)capacidade de análise crítica dos portugueses, e com a  nossa conivente Imprensa à cabeça. Mortes nos Estados Unidos? Culpa do Trump. Mortes no Brasil? Culpa do Bolsonaro. Mortes na Itália? Culpa da soberba transalpina. Mortes na Índia? Culpa do subdesenvolvimento daquele desgraçado país. Mortes na Espanha? Culpa de não serem como nós.

Enfim, e foi-se olhando sempre para os outros, enquanto a população se fragilizava de meses sem assistência médica. E não se investia. E mentia-se com as supostas 17.700 camas ali prontas para qualquer coisinha, embora afinal outro documento do SNS dissesse que afinal eram apenas 2.120.

Os milagres, porém, por vezes acabam. E então revelam-se todas as fragilidades. Mas nunca as fragilidades do Governo, que nunca falha, nunca nada admite. 

E quando tudo se desmorona, culpa os portugueses. Como se a culpa de uma invasão que trucida um povo seja culpa do povo e não do Estado que não reuniu as condições para estancar o avanço do inimigo e proteger o povo. Os contratos sociais que tacitamente assinamos não é para que um Governo culpe o seu povo, como este está a fazer. Mas aquilo que me causa mais irritação é ver esse mesmo povo, pequenino, concordar com o Governo, e aceitar que este o culpe por o invasor o ter invadido.

E por agora é tudo. 

Deixo-vos apenas, para reflexão, uma análise que compara a situação de Portugal com os 10 países com mais mortes por covid em número absoluto. Mostra-se aqui o valor máximo (pico) da pandemia, medido com base na média de sete dias e em função da população portuguesa (padronização). Se Portugal (que está agora no valor máximo, com 167 óbitos diário, em média móvel) fosse um país da dimensão dos Estados Unidos ou da Índia ou do Brasil, hoje estaríamos a ser notícia a nível mundial. E duvido que ninguém achasse que o Governo era alheio a isto.

Mas como somos um país pequenino com governantes pequeninos, a culpa disto é só dos portugueses, que merecem o devido castigo: manterem-se pequeninos e serem governados por governantes pequeninos.


DA TEMPESTADE PERFEITA PARA O DESASTRE HUMANO E A DERIVA DITATORIAL

Há uma estranha atmosfera que se vive em Portugal. A ultrapassagem da fasquia das 200 mortes num só dia em Portugal atribuídas quase alegra as pessoas que defendem estarmos a viver uma verdadeira hecatombe que justifica todas as derivas totalitárias do Governo, e que essas pessoas abraçam como salvíficas, ao mesmo tempo que culpam o vizinho, que visitou a família no Natal, pelo descalabro.

Eu, enfim, continuo a lamentar todas as mortes de ontem - as 218 atribuídas à covid e mais as 419 por outras causas. E também lamentar o completo descontrolo do SNS (e do Governo) que "conseguiu" criar bodes expiatórios (o Povo) para uma estratégia errada que permitiu criar a "tempestade perfeita" que desencadeou a actual mortandade: 

a) população débil por meses sem assistência médica, 

b) atravessando uma vaga de frio invernal 

c) dentro de um sistema de saúde em degradação (menos 918 médicos em Setembro de 2020 em comparação com Janeiro de 2020)

d) perante um vírus sazonal bastante agressivo para a população idosa;

e) grande parte dela vivendo em lares, onde o controlo das infecções foi sempre ténue.

Bem sei que estas evidências não colhem na esmagadora maioria da população, que já está "formatada" e que, por ela, sobretudo para quem é funcionário público, se fecharia o país, e se controlaria tudo para se salvar a pele.

Bem sei que, formatadas pelo medo, essas pessoas não se irão questionar sequer sobre os motivos para a Portugal ter apenas 35% de casos positivos a mais do que a Espanha (média móvel de sete dias) mas contabilizar agora uma mortalidade mais de 250% superior. 

Qual a justificação para essa diferença, já que a Espanha (ao contrário da Suécia) é aqui ao lado? Será que a diferença está na Espanha ter aprendido com a Primavera de 2020 e politicamente houve empenho posterior para fortalecer os serviços de saúde? A resposta que deveríamos dar era SIM. E o nosso Governo fez o mesmo? E a resposta deveria ser um rotundo NÃO.

No momento em que o primeiro-ministro pede um "soberessalto cívico", para justificar mais restrições e tirar a água do capote (desresponsabilizando-se), eu também humildemente gostaria de o pedir. Pensem, analisem. Vejam o que nos podia estar a suceder mesmo perante um crescimento nos internamentos. 

Se estivéssemos com um SNS capaz, provavelmente morreriam hoje 79 pessoas com covid (um pouco mais do que com as pneumonias), conforme podem ver nos meus cálculos. Assim, com o SNS no estado que está, muito provavelmente teremos mais um dia com mais de 200 mortos. A minha previsão aponta para valores entre 193 e 223. 

É triste pensar-se que tudo isto se deve a um vírus e aos portugueses. E não ao vírus e ao Governo.

DOS RESULTADOS DO COLAPSO - ANÁLISE E PREVISÃO DOS ÓBITOS-COVID EM 18/01/2021

Só agora é possível apresentar a previsão que tenho vindo a fazer para a mortalidade-covid para o dia (neste caso, dia 18, cujos valores serão apresentados dentro de horas pela DGS).

Infelizmente, não prevejo boas notícias. E diria que se baterá novo máximo de óbitos. Um dos modelos (baseada na taxa de mortalidade diára) aponta-me para um valor próximo dos 176. O outro modelo, baseado na linha de tendência, atira para valores já na casa dos 190 óbitos.

Pelos dados já recolhidos, não me parece que, nas actuais circunstâncias do SNS, seja possível ter uma mortalidade por covid abaixo dos 150 enquanto estivermos com mais de 4.000 internados, o que significa que vamos ter este cenário por mais algumas semanas. 

Quero, no entanto, salientar um aspecto fundamental. O crescimento das mortes por covid está a ser exacerbado pelo colapso do SNS, porque se se estivesse com a eficácia de tratamento em grande parte de Outubro seria previsível termos apenas 73 óbitos, e se fosse com a eficácia de Dezembro de 122 óbitos.

Além disso, não duvidem que a mortalidade por covid (além da questão da metodologia de atribuição de causa de óbito) está aumentar por via da grande debilidade das pessoas idosas que, ao longo dos últimos meses tiveram fraca assistência médica por via da estratégia seguida pelo SNS.








DOS MÉDICOS PELA MENTIRA

O deputado do PSD, e também médico, Ricardo Baptista Leite, aproveitando ser voluntário (e assim granjear prova de testemunha presencial), apresentou anteontem um compungido video descrevendo o caos no Hospital de Cascais, com mortes a rodos, profissionais num banho de lágrimas. O Apocalipse. 

Veio entretanto a própria secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, negar este discurso: afinal, nesse dia, morreram três pessoas no “covidário” de Cascais. Três pessoas mortas são três vidas perdidas mas não é um cenário de guerra que ponha médicos e enfermeiros a carpir sem remissão.

Tudo isto é lamentável, mas fez-se tudo para isto. A falta de informação e de enquadramento permitem todo o tipo de manipulação, desinformação e histeria. Mas o Governo está a provar a sua própria estratégia de ocultação de informação. Se disponibilizasse informação diária sobre os óbitos covid por concelho (só a ULS do Norte Alentejano faz), este tipo de figurinhas de um médico-politico de ética questionável não aconteceriam.