quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

DAS CAMAS DO ESTADO NOVO AO ESTADO DO MUNDO NOVO EM TEMPOS DE PANDEMIA

Quando alguém vier (sobretudo políticos) com a história das "conquistas de Abril" ou quando alguém vier (sobretudo políticos e dirigentes da DGS) com a história da ruptura dos hospitais porque as pessoas, enfim, conviveram durante o Natal e o Ano Novo (que passará a ser "crime de lesa-Majestade de primeira cabeça"), lembrem-se dos gráfcos que aqui coloco. 

O primeiro gráfico mostra que o número de camas hospitalares  é agora menor do que era no Estado Novo. E é menor do que era em 1975, já em democracia. E é menor do que era há 10 anos. Pode haver melhoria das instatações, das valências e do atendimento, mas se nem sequer há camas para meter os costados do doente em descanso, esqueçam tudo.

O segundo gráfico confirma ainda mais o desastre no investimento em Saúde durante a Democracia e sobretudo nas últimas duas décadas, com o aumento do número de pessoas com mais de 65 anos (que são os "clientes" mais habituais no sistema hospitalar). Com referência ao período 1970-2019, estamos agora com o rácio mais baixo de camas por 100 mil habitantes com mais de 65 anos. E sempre, sempre a descer. Sempre, sempre a piorar o rácio. Queriam milagres com uma doença como a covid que atinge, em termos relativos e absolutos, quase apenas os idosos?

E a culpa agora é exclusivamente das pessoas que não seguiram os doutos conselhos do subdirector-geral da Saúde, e que, em vez de "vistas rápidas no quintal" ou no "patamar das escadas do prédio", conviveram mais umas com as outras, não se cingindo a ofertas de compostas.

Fonte: INE e Pordata. N.B. Para os "puristas" e "polígrafos", aviso que há uma quebra de série em 1985, que se deveu a mudança metodológico na recolha da informação, Apenas isso. Em todo o caso, para esses, podem sempre ler o gráfico a partir de 1985. A situação não melhora à conta disso. Pelo contrário.


DA MENTIRA DA PERNA CURTA SOBRE URGÊNCIAS E INTERNAMENTOS

Desde o início do ano temos sido "metralhados" por médicos ao serviço do Pânico e também pela imprensa ao serviço da Narrativa Oficial (leia-se Governo) sobre a grande afluência aos hospitais, que agora (e só agora, pasme-se!) ameaçam ruptura. E lá surgem, à unidade, os números de internamentos covid, e só covid, como senão houvesse internamentos e cuidados de saúde necessários às outras doenças.

Tem-se tornado evidente na acção do Governo duas coisas: 1) como não aumentou a oferta de serviços hospitalares nos últimos meses, procura de todas as formas, mesmo pelo pânico, reduzir a procura, mesmo que isso implique que casos graves de não-covid redundem em mortes; 2) usa os número de casos positivos (e acho que até já de morte COM covid) como forma de demonstrar que a situação se descontrolou por causa do comportamento das pessoas no Natal e Ano Novo, não assumindo quaiquer  responsabilidades, tanto na gestão da estratégia como do reforço de meios hospitalares. E, para isso, manipula e mente, directamente, ou recorrendo à Imprensa ou usando médico que deveriam pensar primeiro no Juramento de Hipócrates.

A mentira, porém, tem perna curta. Estive a analisar os dados do SNS (vamos ver se um destes dias não há um "apagão"...) sobre episódios de urgência, total e pelos dois tipos mais graves, e os internamentos diários entre 1 e 4 de Janeiro. Pois bem, temos a seguinte situação para todo o país:

a) em 2021, os episódios de urgência totalizaram em 46.339  casos, o que contrasta com uma média de 73.474 casos no período 2017-2020, ou seja, uma queda de 37%.

b) em 2021, os episódios emergentes (pulseira vermelha na triagem de Manchester) foi de 196, significando uma queda de 25% em relação á média de 2017-2020.

c) no caso dos episódios muito urgentes (pulseira laranja na triagem de Manchester), em 2021 registaram-se 4.997 casos, enquanto a média de 2017-2020 foi de 7.525, isto é, uma queda de 34%.

d) no caso dos internamentos, em 2021 contabilizaram-sem, nestes dias. 4.772, o que confronta com 5.925 na média de 2017-2020, representando assim uma queda de 21%.

Ou seja, o ano de 2021 não se está a iniciar com sinais de qualquer pressão hospitalar, estando os valores bastante baixos da média e de qualquer um dos anos anteriores (à semelhança do que sucedeu ao longo da pandemia em 2020). Aquilo que está a suceder é uma incapacidade do Governo em reforçar o SNS (face aos protocolos mais exigentes da covid), tendo-se optado assim por uma estratégia de assustar as pessoas para que estas, mesmo face a sintomas graves, "desamparem a loja", ou seja, não se dirijam ao hospital. E isto é gravíssimo, para não acrescentar criminoso.

Não por acaso, analiso as urgências de pulseira vermelha e laranja (que são casos de vida ou de morte), cuja redução significativa não se deve à melhor saúde da população, mas ao medo de uma deslocação ao hospital. Daí que se os números descem por razões artificiais, significa com elevado grau de probabilidade houve situações de gravidade que não foram atendidas por médicos resultando em mortes a curto ou médio prazo.

Mas isso, para o Governo e para os médicos "aliados" da Narrativa Oficial, pouco interessa. Tudo é agora covid, até porque, nos últimos tempos, por um passe de mágica, os mortes por covid (que desde Novembro mantêm um valor elevado) "apagaram" o excesso de mortalidade não-covid, que foi omnipresenrte ao longo do primeiro semestre da pandemia. 

Fonte: SNS (Monitorização dos Serviços de Urgência, aqui).





 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

DO OLHAR O MUNDO EM DOIS TEMPOS OU DA PANDEMIA QUE ATACA ONDE TEM DE ATACAR

Deu-me para analisar como evoluiu a pandemia nos diversos países, seleccionando os 50 países (de mais de um milhão de habitantes) com maior taxa de mortalidade por covid (por milhão de habitantes), e que varia dos 1.700 na Bélgica (pior situação) até aos 321 do Paraguai (50ª posição). Portugal, já agora, está na 30ª posição desde o início da pandemia.

Porém, quis analisar as duas (supostas) vagas, pelo que defini dois períodos, cujos resultados apresento no gráfico em baixo: X (eixo) - entre Fevereiro e Setembro (primeira vaga); Y (eixo) entre Outubro e 4 de Janeiro (segunda vaga). As siglas representam os países. Na Internet é fácil encontrar sites com a lista de correspondência entre países e as siglas (de Portugal é PT, já agora). O gráfico destaca duas situações (que devem ser olhadas com a precaução devida): cor vermelha significa que a mortalidade da segunda vaga foi pior do que na primeira; cor verde significa o oposto.

Breves e rápidas reflexões:

1 - A pandemia tem tido impacte muito distinto á escala mundial, embora com pendor regional (continental) que, em alguns casos, é homogénea, sobretudo no caso de países da América Latina e da Europa de Leste. Além disso, quase a totalidade dos 50 países com maior mortalidade integram o continente europeu ou americano. As únicas excepções são a África do Sul, Tunísia, Israel. Irão, Arménia e Jordânia. 

2 - Confrontando os dois períodos, raros são os casos de impacte relativamente similar entre a primeira e a segunda vagas no mesmo país ou até na mesma região. Geralmente, os países que registaram elevada mortalidade na primeira vaga (até Setembro) tiveram efeitos muito menores na segunda vaga (a partir de Outubro), sobretudo visível em países da América Latina, o que denota o "carácter" sazonal do SARS-CoV-2.

3 - Porém, no caso concreto da Europa, embora seja evidente que a maioria dos países mais atingidos na primeira vaga (Europa Ocidental) tenha registado uma menor mortalidade mais baixa na segunda vaga (a excepção são a Itália e a França, bem como a Bélgica, que embora com uma redução registou mesmo assim mortalidade elevada), os efeitos da pandemia a partir de Outubro estão a ser genericamente mais grave. Esta situação não surpreende, tendo em consideração o "carácter" sazonal do SARS-CoV-2. 

4 - Torna-se bastante notório que os países da Europa que "escaparam" à primeira vaga, sobretudo da Europa de Leste, foram gravemente atingidos a partir de Outubro, atingindo em alguns casos taxas de mortalidade bastante elevadas, como são os casos da Eslovénia, República Checa, Bulgária, Hungria e Croácia.

5 - Existem dois países particularmente com um percurso interessante: Irlanda (ainda mais pela sua proximidade ao Reino Unido) e Canadá. Além destes, todos os países que estejam com menos de 200 óbitos por milhão na primeira vaga e simultaneamente com menos de 400 óbitos na segunda vaga parecem-me em situação razoavelmente aceitável.

6 - Por fim, Portugal: a situação nacional apresenta, como se sabe um grande agravamento entre a primeira e a segunda vagas. Se considerarmos o primeiro período, Portugal tinha a 29ª pior situação; se considerarmos o período a partir de Outubro, Portugal apresenta já a 17ª pior situação de entre os 50 países analisados, estando mesmo à frente (maior mortalidade relativa) da França, Reino Unido, Estados Unidos, Espanha e... Suécia e Brasil. Já agora, desde Outubro, a Suécia apesenta a 36ª pior situação e o Brasil a 41ª (entre 50 países).

Fonte: Worldometers.

DAS ONDAS E DO ESTRABISMO NO SUÉCIA-PORTUGAL

Não sei se há ondas ou vagas na pandemia. Sei sim que há ondas na nossa imprensa sobre a covid na Suécia. Bastou uma subidazita na mortalidade na primeira quinzena de Dezembro, e os nossos jornalistas salivaram com o “desastre” dos irresponsáveis escandinavos. O Público não largou o osso e zurziu mais uma vez na estratégia da Agência Sueca de Saúde Pública. O Observador teve por lá uma espécie de enviado especial para relatar o descalabro em directo, ao vivo e a cores.

Entretanto, a onda esmoreceu. Foi mais uma onda. Pena é que a atenção crítica direccionada à Suécia nunca seja depois transposta para Portugal, onde a estratégia e a acção do Governo nem num milímetro é questionada pela nossa imprensa.

Estive a ver a média de mortes nos últimos 15 dias em Portugal e na Suécia (com valores actualizados hoje). Em Portugal registou-se, neste período, 1.096 mortes por covid, ou seja, 73 óbitos por dia. Para os jornalistas portugueses, de quem é a culpa? Dos portugueses, claro! Nunca pode ser do Governo!

Na Suécia, em igual período, morreram 375 pessoas com covid, uma média de 25 por dia. Um terço de Portugal. Porém, no caso da Suécia haverá sempre culpados. E quem são eles, para os jornalistas portugueses? As autoridades de Saúde Pública da Suécia, claro, e o Governo sueco por não impôr lockdowns e recolheres obrigatórios!

P.S. Há-de alguém vir dizer que a mortalidade na Suécia diminuiu porque, entre outras pequenas medidas profiláticas, o Governo sueco proibiu a venda de bebidas alcoólicas a partir das 8 da noite... num período do ano em que já é noite às 4 da tarde.


DA CULPA DO DOENTE OU DO ASCO DA IMPRENSA

A imprensa continua a sua função de porta-estandarte do Governo para criminalizar a doença. Ou melhor, o doente. Por exemplo, o Público, pegando em Portugal e cinco outros países europeus, apurou e comparou a evolução da covid entre 1 de Dezembro e 4 de Janeiro, com base apenas nos novos casos positivos a partir dos testes PCR - testes esses em número variável, e que, repita-se, não são auditados por qualquer entidade independente, tal como nunca se avaliou a prevalência de falsos positivos. 

Dos países seleccionados, apenas Portugal e o Reino Unido apresentam crescimentos desde as festividades natalícias. O povo lusitano e britânico, históricos aliados, irmanaram-se agora no suposto mau comportamento. Porém, nós, segundo o Público, ainda pior: registou-se uma redução de casos após o Natal e depois um significativo aumento após o Ano Novo. E isto apesar da circulação entre concelhos estar proibida e ter sido imposto o recolher obrigatório, vincou o Público. 

Qual a conclusão que o justiceiro Público, de ponteiro na mão, quer subrepticiamente tirar, e que será tão do agrado do Governo? Que, obviamente, a subida de casos no período do Ano Novo não é culpa do Governo, que até tomou medidas, mas sim das pessoas, que prevaricaram, e a situação, só por causa delas, está de novo descontrolada.

Eis o estado em que nos encontramos. O Governo já tratou de desculpabilizar os transportes públicos. Lá não há infecções. O Governo já tratou de desculpabilizar as suas medidas obtusas que levam a aglomerações nos estabelecimentos comerciais aos fins de tarde e aos fins-de-semana. Não é nas bichas do supermercados nem nas filas do último take away aberto que alguém se contamina. Só há contaminações em casa. Só há contaminações se se beber um copo com amigos. Só no lazer e no descanso o vírus ataca. E sobretudo à noite e ao fim-de-semana. Ah! e esqueçam o que é Saúde Pública e gestão de risco e solidariedade social. Tudo tretas!

Em suma, com a ajudinha preciosa da imprensa (e o Público está a merecer cada cêntimo de publicidade institucional), o Governo português está agora a provar inequivocamente que a culpa da mortalidade excessiva da covid não é de quaisquer medidas obtusas nem do SARS-COV-2 ser um vírus sazonal de perigosidade relativa, mas das pessoas, só das pessoas, apenas do doente.

Eis o estado em que nos encontramos. O Governo jamais terá responsabilidades. Se não houver camas-covid para internamento, a culpa é dos doentes. Deixaram-se infectar. Pior: andaram na "boa-vai-ela" e contaminaram-se. E ainda mais: contaminaram outros. Se as camas-UCI entrarem em ruptura, a culpa nunca será do Governo, mas sim dos doentes, que ainda por cima caprichosamente pioraram só porque não usaram máscara, ou abriram uma janela ou o raio que os parta.

Bem-vindo ao Mundo Novo, ao Novo Normal. No futuro, para tudo, para qualquer outra doença, para qualquer outra maleita, o Governo vai manter hospitais abertos, mas pouco, talvez só de vez em quando, e em vez de tratar da saúde dos doentes, vai tratar de os inculpar. Se os hospitais não aguentarem a afluência, a culpa nunca será do Governo por não investir na Saúde; será dos doentes porque ficaram doentes. Se morrerem, a culpa é dos doentes; nunca do Governo.

É fumador? Não se queixe se tiver, mais tarde ou mais cedo, problemas respiratórios, um AVC ou um cancro. E se ralhar muito contra o Governo, só é tratado se pagar a conta. Ou então vai morrer longe. O melhor mesmo é morrer logo, de síncope. Até porque, se a defunção demorar, o Governo e a imprensa, como o Público, tratarão de amealhar provas e denunciar os tabagistas cancerosos pelo "crime" de ocupação ilegítima de recursos hospitalares; e estes serão justa e implacavelmente ostracizados pelo Povo, apedrejados talvez, porquanto a Sociedade do Mundo Novo não tem nada de pagar males de vícios alheios.

Teve um ataque cardíaco? Eh lá! Vamos já investigar o seu passado nutricional, inspeccionar, através da Autoridade Tributária, quantos quilogramas de sal e de doçaria foi adquirindo ao longo dos últimos anos. Acima de determinado limite, a vítima passará a criminosa, com nome exposto em pregão pela praça pública.

No limite, o Governo elaborará uma lista negra dos cidadãos de comportamento suspeito, aqueles que potencialmente serão responsabilizados se ficarem doentes. 

Assim, toda a doença será culpa do doente. Toda a doença será criminalizada. O Governo português, a partir daí, passará a gerir um Admirável Mundo Novo. E todos os jornalistas serão condecorados com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. A Bem da Nação.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

DO EMBUSTEIRO OU DO DESEJO DE UMA VACINA ANTI-FROES

Deparo-me com um webinar patrocinado pela Pfizer ( ó pá!) e organizado pela Câmara do Comércio Americana em Portugal (ó pá! ó pá!), no mês de Outubro passado, onde o pneumologista Filipe Froes, no seu estilo peculiar e já nada inocente, carrega na tecla de assemelhar a pandemia da covid com a Gripe Espanhola. Chega mesmo a afiançar que a mortalidade da covid é "superior à da gripe espanola" (vd. imagem).

Um pouco mais atrás, neste seu discurso, contrapõe que a covid apresenta uma taxa de letalidade de 3,0%, "muito próxima da letalidade da Gripe Espanhola".

Pessoalmente, começo a ter algumas dificuldades em conter a minha verve perante este tipo de discurso, que tem sido a mãe de todos os pânicos e da deriva totalitária que vivemos. Filipe Froes pode entender de pulmões e suas doenças, mas aquilo que anda a fazer é espalhar pânico com um poder de transmissibilidade superior ao SARS-Cov-2. 

Isto não pode continuar. Isto roça já o discurso criminoso, insano, assassino... São demasiadas mentira e manipulações. A seriedade e a ética foram as principais vítimas desta pandemia.

Sejamos rigorosos. A pandemia da covid - e os seus efeitos secundários, decorrentes sobretudo do colapso do SNS para tratamento de outras doenças - causou um acréscimo de cerca de 12 mil óbitos em Portugal no ano de 2020 face à média dos últimos cinco anos. O seu impacte na taxa de mortalidade foi de 0,11 pontos percentuais (ou 1,1 por mil) em relação ao ano anterior. Por seu lado, o impacte da Gripe Espanhola na taxa de mortalidade em 1918 foi um acréscimo de 1,87 pontos percentuais (ou 18,7 por mil) em relação ao ano anterior. Ou seja, a Gripe Espanhola teve um impacte na taxa de mortalidade 17-dezassete-17 vezes no seu ano mais mortífero superior à pandemia da covid em 2020.

Aliás, com base na subida da taxa de mortalidade de 21,5 por mil em 1917 para 40,2 por mil em 1918), e considerando que a população portuguesa à época rondava 6 milhões, pode estimar-se que a Gripe Espanhola terá causado, só em 1918, um acréscimo de cerca de 112.000 óbitos [nos anos seguintes, a taxa de mortalidade já foi bastante inferior, cf. gráfico que anexo).

Notem, com a actual população, se porventura o SARS-CoV-2 fosse tão mortífero como o vírus da Gripe Espanhola, causando um acréscimo de 1,87 pontos percentuais na taxa de mortalidade, em vez dos tais cerca de 12 mil óbitos a mais (covid mais acréscimo não-covid), teríamos um acréscimo de cerca de 192 mil óbitos! Reparem: tivemos mesmo assim 12 mil óbitos a mais; teríamos 192 mil óbitos a mais se 2020 fosse como 1918 foi. E em vez de uma mortalidade TOTAL (todas as causas) no ano de 2020 de 123 mil óbitos, estaríamos agora a chorar a morte de 315 mil pessoas. 

Quem acha ainda que a Covid é igual à Gripe Espanhola? 

E quem acha ainda que gente como Filipe Froes deve ser a referência para aquilo que anda a passar e a fazer no país? Quem nos inventa uma vacina anti-Froes?

P.S. Já agora deixo uma imagem de um trecho dos Censos de 1920 (INE), onde se destaca o impacte demográfico da Gripe Espanhola na população. Além da elevadíssima mortalidade, teve também um óbvio impacte na nupcialidade e nos nascimentos (até porque, ao contrário da covid, a Gripe Espanhola matou muitos jovens).

Link para o webinar, aqui.





DOS MÉDICOS PELO DESCANSO

Começo a achar que as notícias veiculadas por alguns médicos sobre o alegado aumento do fluxo nas urgências, a par da campanha da DGS para não se ir a correr para os hospitais se se ficar doente, tem um objectivo claro: poupar dinheiro ao Estado e dar descanso ao médicos, tudo isto sem qualquer preocupação sobre as consequências para a Saúde Pública, em geral, e para a saúde individual.

Eu olho para o fluxo ds urgências desde o início da pandemia, e pasmo. As quedas são brutais. Aliás, um exemplo paradigmático passou-se no dia 26 de Dezembro. Por norma, este é o dia, em qualquer ano pré-pandemia, com maior número de urgência hospitalares, consequência óbvia do Dia de Natal, e por a véspera ter um decréscimo. Entre 2016 e 2019, ano com dados, aquele dia teve sempre mais de 21 mil visitas às urgências.

E o que aconteceu este ano? Apenas 11.332 visitas! Ou seja, quase metade da média para o mesmo dias dos quatros anos anteriores!

O dia 26 de Dezembro de 2020, ao nível de urgências, esteve mesmo abaixo do mais calmo dia de 2019 (21 de Abril), quando então se contabilizaram 12.555 visitas às urgências.

Senhoras médicas e senhoras médicos, por favor: se a deontologia já não basta, pelo menos que conte o brio profissional: não pactuem com políticas de histerismo e de pânico; lutem para que as pessoas procurem com confiança os serviços de urgência, mesmo havendo muitos casos de falsas urgências. Em muitos casos, por medo, as pessoas deixaram de ir ás urgência e acabaram mortas. Estão em causa vidas humanas. Nem tudo vale na luta contra a covid. 



DOS MÉDICOS PELA HISTERIA

Tenho reparado que o Hospital de São João, no Porto, e particularmente o médico Nélson Pereira, director da Unidade Autónoma de Gestão da Urgência e de Medicina Intensiva, surge de quando em vez como "enzima" para criar mais pânico e pôr-nos na "ordem". 

Hoje toda a imprensa fala das urgências daquele hospital, e lá aparece Nélson Pereira a perorar. O incontornável Público titula: "Cem suspeitos de covid-19 por dia: efeitos das festas já se notam nas urgências do Hospital de São João".

Ora, fui ver como andaram as urgências naquele hospital na semana a seguir ao Natal, pegando nos dados do SNS de 2020 e comparando com 2019, entre os dias 23 e 31 de Dezembro (vd. aqui). Pois bem, temos a seguinte situação:

a) As gripes passaram de 806 em 2019 para apenas 15 em 2020 (queda de 98%).

b) Os episódios de infecções respiratórias passaram de 4.481 em 2019 para apenas 770 (queda de 83%)

c) O fluxo das urgências passou de 6.511 visitas em 2019 para 4.178 em 2020 (queda de 36%)

d) Os internamentos passaram de 580 em 2019 para 491 em 2020, incluindo covid (queda de 15%).

Estamos, portanto, nesta fase, do "vale tudo". Onde anda a ética médica no meio disto tudo?





domingo, 3 de janeiro de 2021

DO “ISTO É CONTABILIZADO COMO DOENTE COVID?”

Quem souber ler bem, o Correio da Manhã, sem o saber, elucida com clareza como se constrói os números de uma pandemia: pessoas sem qualquer mínimo sintoma, e sem necessidade sequer de meio Ben-u-ron ou de um quarto de Bufren, são DOENTES. Basta um teste de rigor questionável, e sobre o qual não há contra-prova nem entidade independente que audite. Nada! A factura dos laboratórios já vai longa. Paga e nem bufes, povo.

DA GRIPE ESPANHOLA E DA COVID: A ESTUPIDEZ E IGNORÂNCIA NO OLHAR DE DUAS REALIDADES TÃO DISTINTAS

(dedicado aos senhores e senhoras jornalistas na esperança de deixarem de fazer figuras tristes... e para todos aqueles que quiserem usar argumentos para contestar tentativas de encontrar similitudes parvas entre as duas pandemias) 

A ignorância é aceitável e suportável quando discreta. Porém, quando se expõe causa-me urticária e fúrias mil. E mais ainda se cometida por jornalistas, porque gostava de preservar o meu passado pessoal nesta (outrora nobre) profissão.

Isto para vos dizer que tenho dito muitos palavrões sempre que ouço ou leio "balanços" e comparações dos jornalistas (e dos adeptos do histerismo vigente) que "colam" a mortalidade da covid à Gripe Espanhola.

São todos uma bestas ignorantes - e estou a ser meigo. Primeiro, porque mostra uma obtusa gnorância em redor da população portuguesa (éramos 6 milhões em 1918; agora somos 10 milhões, e com uma estrutura etária bem diferente). Segundo, revela estupidez porque o incremento da taxa de mortalidade em 1918 (em relação aos anos anteriores), perante os anos anteriores, faz o incremento da taxa de mortalidade em 2020 parecer uma brincadeira de crianças.

Por agora, deixo-vos apenas o gráfico da evolução da taxa de mortalidade desde 1886 até 2020, com base em diversos fontes fidedignas, incluindo a estimativa para 2020 que fiz com base nos dados do SICO e INE (estimativa da população) para se aperceberem da estupidez de comprarar 2020 com 1918. Aquilo que sucedeu em 2020 é muito semelhante ao que sucedeu em 1969 (impacte da Gripe de Hong Kong em Portugal, com o já habitual vírus da gripe H3N2), e não parece um fim do Mundo,

Voltarei ao assunto.


DO TURBINAR A COVID: UMA RECEITA FÁCIL, POSSÍVEL E AGRADÁVEL PARA O GOVERNO, APENAS COM BASE NOS TESTES PCR E NA TAXA DE MORTALIDADE

Nos últimos dois meses do ano morreram em Portugal, oficialmente, 4.428 pessoas com covid. Este valor é anormalmente elevado e tem-se mantido, diariamente, em níveis consideráveis não denunciando sequer a existência de um perfil típico dos surtos epidémicos (em pico ou onda).

Porém, o mais estranho é constatar que o excesso de mortalidade (face à média), sempre presente desde Março, sofreu uma estranha variação a partir de Outubro, com especial incidência em Novembro e Dezembro. Nos primeiros oito meses da pandemia (Março-Outubro) as causas não-covid explicaram a maioria do excesso de mortalidade (71%), chegando no Verão a explicar praticamente todo o excesso (vd. gráfico). 

Porém, em Novembro e sobretudo em Dezembro tal modificou-se profundamente. Em Novembro, a não-covid só representou 20% do excesso e em Dezembro menos de 4%. Coisas destas são demasiado estranhas, sobretudo porque o SNS sofreu nova retracção nas suas habituais funções.

Em simultâneo a isto, a partir de Outubro intensificaram-se os testes PCR. Antes raramente ultrapassavam os 20 mil por dia, e passaram a ser quase sempre superiores a 30 mil. Em cerca de metade dos dias de Novembro realizaram-se acima dos 40 mil por dia. Os casos positivos dispararam, obviamente, até tendo em conta a velha questão dos falsos positivos (que até a OMS agora admite). Só no caso dos maiores de 80 anos entre Outubro e Dezembro foram detectados 26.178 "infectados" (quase 285 por dia), enquanto nos sete meses anteriores apenas 7.671 (apenas 36).

Ora, bem sabemos o que sucede a quem tem a infelicidade de morrer com um teste PCR positivo: para a DGS morreu de covid (não importando se não morreu da covid).

E aqui está o busílis. A taxa de mortalidade da população acima dos 80 anos é de 10% por ano (acima dos 85 passa a ser de 15%; depois dessa idade ainda é muito maior), o que significa que rondará os 2,5% no conjunto de Outubro, Novembro e Dezembro. 

Chegados aqui, seguindo o meu raciocínio, fácil será deduzir que dos 26.178 casos positivos dos mais idosos registados no último trimestre do ano seria expectável que cerca de 650 estivessem destinados pela Natureza a morrerem nesse curto espaço de tempo. Ou seja, um número desta ordem de grandeza é imenso.

Se se aplicar o mesmo raciocínio para o grupo dos 70-79 anos (taxa de mortalidade no último trimestre de cerca de 0,6%) obtenho mais 160 óbitos, tendo em conta os cerca de 26.770 casos positivos neste período.

Penso, contudo, que estes valores serão talvez muito mais elevados, sobretudo se os casos positivos forem muito significativos, como prevejo, em lares (onde a mortalidade tem sido maior e onde a falta de transparência também tem sido maior). 

Podem sempre questionar o que ganha o Governo e a DGS com isto? Eu respondo, muito! Parece ser já evidente que a "opinião pública" e a imprensa já aceitam e “assimilam” com naturalidade tanta morte supostamente causada pelo SARS-CoV-2. Além disso, os números continuamente elevados dos casos positivos e das mortes por covid continuam a justificar a deriva totalitária que se espraia por aí, e a auxilia na estratégia de "imposição" da vacina através do medo. Além disso, tirar excesso de mortalidade não-covid e colocá-lo na covid é politicamente interessante porque elimina parte de um problema delicado para o Governo: as falhas do SNS e o erro da estratégia covid. E atenção que nem estou aqui a supor que haja manipulação de estatísticas. 

O drama, porém, é que, depois de tudo isto passar (com ou sem covid), a mortalidade excessiva vai continuar a agravar-se, porque os problemas do SNS se tornaram estruturais. Mas então o Governo inventará outra coisa qualquer para desviar o problema. Até porque, depois da covid, a sensibilidade para se ouvir falar de mortos em excesso por cancros e outras mais mazelas será nula. O Governo quererá que festejemos o seu sucesso e que coloquemos uma pedra no assunto.

Nota 1: As barras verdes representam um "défice" de mortalidade em janeiro e Fevereiro, ou seja, a mortalidade esteve abaixo da média. O excesso de moprtalidade foi calculado em relação à média do período 2015-2019. 

Fonte: SICO-eVM, DGS e INE.

DO GOZO

Para mantermos a sanidade mental, só com gozo: "acabei" de descobrir, depois de aturado "estudo", porque havia, em anos anteriores, tantas gripes e outras infecções respiratórias.

Simples resposta: não havia SARS-CoV-2! 

Vejam a "evidência" com uma espantosa "correlação": num dos dias de mais casos positivos (testes PCR positivos) à covid, no dia 31 de Dezembro, contabilizaram-se quase 7.000 "infectados" por SARS-CoV-2. Nesse mesmo dia registou-se o número mais baixo de gripes e de outras infecções respiratórias desde que há registos (a partir de Novembro de 2016).

Gripes no dia 31 houve 0 (zero). Outras infecções respiratórias apenas 124 casos, cerca de 82% abaixo da média para o mesmo dia dos quatro anos anteriores. 

Atenção, parece mentira, mas são os registos fidedignos da Monitorização da Gripe e Outras Infecções Respiratórias do SNS.

Quando não havia SARS-CoV-2 por aí, andavamos nas derradeiras 24 horas do ano pelas centenas de casos de gripe no SNS e com mais de um mihar de outras infecções respiratórias. Este ano, graças á covid, esse "flagelo" terminou.

Obrigado, SARS-CoV-2 por andares a "comer" os vírus inflluenza e toda a parafenália de vírus e bactérias causadoras de pneumonias e afins. Só foi pena teres aparecido por cá apenas em 2020...

Nota: Este (mesmo que no gozo) e outros textos podem ser lidos no meu blog "Nos Cornos da Covid" em https://noscornosdacovid.blogspot.com/

Fonte (autênticica): SNS (Monitorização da Gripe e Outras Infecções Respiratórias, aqui).



sábado, 2 de janeiro de 2021

DAS COISAS DA VIDA OLHANDO PARA A MORTE

Uma evidência de que não foi a covid que tornou o ano de 2020 como o mais mortífero de que há registo (e já falarei sobre isto) é olharmos para o perfil da mortalidade ao longo do ano em confronto com os anos anteriores.

Como talvez fosse bom todos saberem algo óbvio - a começar pelos "iletrados" jornalistas -, ao longo do ano há dias em que morre muita gente, e há outros em que morre pouca gente. Em Portugal, com estações claramente distintas, isto está tudo ligado: morrem menos pessoas num período do ano mais ameno (sobretudo o Verão), porque morrem mais pessoas num período mais agreste (Inverno). Se o clima fosse estável, seria expectável que a mortalidade fosse razoavelmente similar ao longo do ano.

Por norma em Portugal, embora tendencialmente haja uma diminuição em virtude do envelhecimento populacional (que aumenta a mortalidade absoluta, sem ser por causa da covid), em mais de metade do ano os óbitos diários abaixo dos 300 "devem" ocupar pelo menos metade do ano. Entre 2009 e 2019, registaram-se entre 188 e 252 dias com menos de 300 óbitos por ano. Estes dias estão concentrados exclusivamente na Primavera e no Verão. No oposto, durante o Inverno encontram-se os dias mais mortíferos (gripes!), embora possam também ocorrer de forma esporádica no Verão com repentinas mas felizmente curtas ondas de calor.

Assim, o maior ou menor número de dias de um qualquer ano com mais de 400 óbitos geralmente indica uma maior agressividade dos surtos gripais. Por isso, nem preciso de ir confirmar, olhando para o gráfico 1,. que os anos de 2012, 2015, 2017, 2018 e 2019 tiveram surtos gripais de alguma agressividade num determinado período, porque registam mais de 20 dias com mortalidade diária acima de 400 óbitos.

Tudo isto para dizer que, olhando para o "perfil" de 2020, não há forma de culpar a covid pelo que sucedeu. Mesmo se descontar a redução que houve na mortalidade por pneumonias, apenas em 57 dias a covid foi responsável por mais de 50 óbitos. Teve algum impacte mas não justifica o que se vê no perfil da mortalidade de 2020. Além disso, note-se que entre Junho e Setembro (122 dias), a covid praticamente despareceu, havendo apenas cinco dias com mortalidade por esta causa pouco acima dos 10 óbitos. Ou seja, mesmo com covid, se o SNS não estivesse de pantanas, deveríamos ter mortalidade diária mais reduzida, muito abaixo dos 300 óbitos diárias, e até próximo dos 250 óbitos diários. Mas isso não sucedeu.

De facto, observa-se uma situação completamente atípica no perfil de mortalidade em 2020, e que confirma a existência de uma origem "estrutural", que eu continuo a insistir dever-se ao estado comatoso do SNS. Em ternos simplistas, direi que o " problema" de 2020 não foram os dias em que a covid mais atacou (Março e Abril, e depois Outubro, Novembro e Dezembro); foram sim os dias em que a covid pouco atacou, ou seja, a parte final da Primavera e o Verão. E, além disso, tendo o Verão sido particularmente mortífero não seria expectável haver tantas mortes, mesmo por não-covid, a partir de Outubro. Isto revela sobretudo um elevado grau de vulnerabilidade da população a todo o tipo de afecções, o que se mostra dramático.

Aliás, vejam que em 2020 apenas se registaram 75 dias com menos de 300 óbitos, e posso adiantar que somente houve 2 dias com menos de 250 óbitos. No período em análise, o pior ano era o de 2016 com 188 dias com menos de 300 óbitos. Vejam a diferença. No caso dos dias com menos de 250 óbitos, em 2019 tinham-se registado 19 dias.

Em suma, 2020 teve um Verão anormalmente mortífero, quando a covid não estava a matar. Ou seja, não se pode, portanto, culpar o SARS-CoV-2.

Na verdade, o acréscimo de mortalidade em 2020 acabou por ser generalizado a quase todo o ano, com quatro ondas de mortalidade, uma coisa completamente atípica, sendo que apenas duas coincidem com uma maior incidência da covid.

Em 2020 a percentagem de dias com menos de 300 óbitos baixou para apenas 20% (quando estava sempre acima dos 50%) e a percentagem de dias com mais de 350 óbitos subir para uns incríveis 38%, quando o valor mais elevado era então o de 2018 com 21%.

Isto são níveis dramáticos, que pouco têm de covid e são tão persistentes que custa a acreditar que não haja um plano de emergência pública que estanque esta mortandade, e que ao invés se assista a campanhas do Governo/SNS para não se ir aos hospitais se se sentir doente. Tudo isto é absurdo. Tudo isto começa a raiar crime.

De facto, é verdadeiramente assustador constatar como a estratégia absurda e obtusa para lidar com uma doença que matou menos de 7.000 pessoas num ano (mas que teve um impacte líquido de menos de 4.000 óbitos, porque as pneumonias mataram menos) tenha colocado de pantanas um sistema de saúde mais ou menos "estável".

Enfim, vamos pagar bem caro toda esta aventura, empurrados por António Costa e seu Governo, por uma Direcção-Geral da Saúde mais preocupada com questões políticas e por um grupo de especialistas de visão míope, Aliás, muitos já pagaram. Com a vida.




DA CARONA PRÓ CORONA

Um jornal que se permite publicar paspalhices melodramáticas deste calibre, arrazoadas por um médico intensivista claramente em burnout, arrisca-se a nem para embrulhar peixe servir.

Minhas senhoras e meus senhores, Gustavo Carona volta a atacar. Peço desculpa de “só” colocar em destaque uma passagem, porque as “pérolas” são incessantes: 

    “Ser humanitário, ser humanista é pensar no bem comum, é ter a coragem de assumir comportamentos que a mim também me deixam triste, mas vivo a pensar que a minha vida não vale mais do que as outras. E não sendo eu um crente na divindade de Jesus Cristo, diria que a celebração da sua vida não deveria ter sido marcada pelo egoísmo dos que se sentem mais sábios que a ciência, porque se houve mensagem que eu retive da sua passagem por esta vida, foi a empatia, a compaixão, a projecção do outro em mim. E não há nada mais bonito do que isso.”


    DA CEGUEIRA DO REBANHO A CAMINHO DO MATADOURO MAS QUE NEM CHEGA LÁ

    Bem sei que tenho seguidores, algumas centenas; talvez uns poucos milhares que me lêem de quando em vez, mas isso de pouco me vale, ou melhor dizendo, de pouco nos vale.

    Confesso: sinto-me, cada vez mais, como um simples membro de um rebanho, sendo levado para um matadouro, ao som dos pífaros do nosso Governo (com António Costa e Graça Freitas à cabeça) coadjuvado por pessoas como Graça Freitas, Rui Portugal, Baltazar Nunes, Filipe Froes, Pedro Simas e Ricardo Mexia (sim, é preciso começar a dizer nomes...). 

    Ontem, quando chocado vi (mais uma) campanha da DGS, desta vez apelando para que, se algum de nós ficar doente, "não corra para o hospital", deixei de ter dúvidas: a esmagadora maioria dos portugueses está liminarmente cega por causa da covid, e  estamos a ir mansamente para o cadafalso sob a batuta de um bando de irresponsáveis, no mínimo, ou de criminosos, com elevada probabilidade, nem que seja apenas por negligência.

    De facto, eu não quero acreditar que nem um dos responsáveis políticos nem uma das sumidades (que atrás referi) ignore onde mais se verificou um acréscimo de mortalidade ao longo do ano de 2020.

    Não! Não foi nos hospitais, minhas senhoras e meus senhores. 

    Foi fora dos hospitais. Foi em casa ou noutros locais, em grande parte porque as pessoas foram amedrontadas pela imprensa e pelo Governo para deixarem de ir aos hospitais. Foi em casa ou noutros locais, em grande parte porque houve mais de meio milhão de consultas adiadas no SNS e um infindável número de diagnósticos, exames e cirurgias suspensas para o dia de São Nunca à Tarde.

    Não estou a fazer estas acusações de ânimo leve nem com base em impressões. O excesso de mortalidade em 2020 (face à média do período 2014-2019) foi de quase 13.800 óbitos com registo de local de óbito. De entre estes, apenas 6.183 ocorreram em estabelecimentos de saúde, enquanto os óbitos no exterior (casas e outros hospitais) totalizaram 7.612. Em termos relativos, o crescimento de óbitos nos hospitais foi de 9,0%, enquanto fora dos hospitais atingiu os 18,8%.

    Como os óbitos por covid (que terão ocorrido quase na sua totalidade em meio hospitalar) foram 6.951 (ou seja, cobrindo o excesso da mortalidade nos estabelecimentos de saúde), significa que o excesso de óbitos ocorridos nas casas e noutros locais está associado a outras afecções que nada têm a ver com a covid. Têm a ver, sim, com a estratégia da covid.

    E perante isto, perante a necessidade de fazer com que as pessoas, sentindo-se mal, se desloquem ao hospital, que faz o Governo? Um apelo para que não se vá ao hospital! Caramba! Está tudo maluco? Notem bem: nos últimos nove meses de  2020 (desde o início da pandemia), a fluxo de urgências hospitalares diminuiu 34% em relação ao período homólogo de 2019. Foram, em termos absolutos, menos 1.801.478 visitas! Quantas mortes foram causadas por via desta diminuição? Quantas mais mortes quer o Governo fazendo apelos para não se ir ao hospital se se ficar "doente"? 

    Estamos no 11º mês de pandemia e o Governo continua só a ter olhos para a covid, porque o deixam. E deixamos também que especialistas se aproveitem da covid como uma oportunidade pessoal e profissional, esquecendo tudo o resto. E, mais lamentável, a esmagadora maioria deles até são médicos.

    Mas sabem uma coisa? Na verdade, a culpa nem é deles! É da nossa sociedade, que se deixou cegar pelo pânico, alimentado por uma imprensa execrável, por "especialistas" sem visão e por uma oposição amorfa.

    Estou, acreditem, algo cansado com toda esta situação. Por vezes, nem sei bem porque faço estas análises e escrevo como escrevo. Em nada saio beneficiado; pelo contrário, como bem diria Erasmo de Roterdão.

    Fonte: SICO-eVM.