terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

DA COLABORAÇÃO

Portanto, Portugal desinveste décadas a fio no Serviço Nacional de Saúde, e, perante o caos e a aflição, pede agora ajuda internacional. A Alemanha dispõs-se a enviar-nos médicos e ventiladores (onde estão os que comprámos aos chineses?). Entretanto, a ajuda de um terceiro transforma-se, na boca da ministra da Saúde, em colaboração. Portugal está a colaborar com a Alemanha.

A partir de agora, quando virem um pedinte na rua, ele não está a pedir-vos ajuda. Deseja colaborar convosco. Na verdade, não é um pedinte; é um (vosso) colaborador. Colaborem, sff.

DOS CROMOS

Há uns meses, o CM fez uma “colecção de cromos” com as fotos de idosos vítimas da covid. Agora está a fazer uma colecção de cromos de casos polémicos relacionados com as tomas de vacinas. Neste casos, estamos mesmo perante cromos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

DOS SINAIS DE DEGRADAÇÃO DO SNS

Mais um indicador do colapso do Serviço Nacional de Saúde: desde o fim do Verão, com a estabilização dos procedimentos de tratamento e o aumento da testagem (e dos doentes), a taxa de letalidade nos mais idosos (maiores de 80 anos) tem estado sempre a piorar.

Em Outubro situou-se nos 8,3% (o valor mais baixo desde o início da pandemia), depois subiu para os 13,2% em Novembro e em Janeiro já foi para os 15,4%.

Em termos concretos, se se conseguisse manter a eficácia de Outubro (cerca de 8 óbitos por 100 casos positivos), teríamos quase metade dos óbitos que se registou em Janeiro de 2021 (mais de 15 óbitos por 100 casos). 

O nosso drama não é apenas a doença; é a qualidade da cura, que se foi perdendo.

DAS PRIORIDADES DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Para investigar chico-espertices, para as quais bastaria a censura social e sanções disciplinares e políticas, o Ministério Público vai a correr. Sobre investigar aquilo que se anda a passar nos lares: ora!, está quieto! 



DAS NOTÍCIAS AUTOMÁTICAS

O Público continua a bater teclas sem noção já daquilo que é UMA notícia. Está em piloto automático. As “notícias” sobre a pandemia na Índia são já cómicas, no sentido patético do termo: anteontem morreram em Portugal 303 pessoas, e o Público destaca as 118 que morreram na Índia... Contas feitas, e face à população de cada país, a situação portuguesa é 337 vezes pior do que a da Índia... Amanhã saberemos como será: o Público dir-nos-à. Sempre.

DO NOVO NORMAL

Como a vacina não eliminará jamais o vírus - ou pelo menos num futuro próximo (vd. varíola) -, prevejo que tenhamos um Novo Normal em curso. Viver com risco zero será não-viver; será sobreviver; será morrer cheio de saúde.  

domingo, 31 de janeiro de 2021

DA ANALOGIA

O Governo português quis controlar uma cheia rezando para Nossa Senhora controlar as nuvens. E foi alegremente construindo no vale. Até que chegou Janeiro de 2021.

DA DESGRAÇA DO AMAZONAS EUROPEU

Continuem a achar que o Governo não tem de nos dar satisfações sobre o que se passa nos lares. Continuem a achar que o Serviço Nacional de Saúde (SNS), enfim, está a trabalhar bem, e que era suficiente se não fosse o Natal, se não fosse a variante inglesa, se não fosse o mau comportamento dos vizinhos, se não fosse a existência de doentes... 

Lancem loas ao Governo. Cantem ditirambos ao António Costa. Teçam elegias aos mortos, mas só se forem covid. Componham acrósticos em louvor de Marta Temido. E não se esqueçam também de uma odes ao Prof. António Costa Silva por ter dedicado 3 páginas de generalidades sobre Saúde de entre as 142 páginas da Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, com que o Governo nos entreteve durante o Verão enquanto NÃO reforçava o SNS.

Enterrem a cabeça na areia, enquanto se enterram e cremam muitos que não deveriam morrer se tivêssemos um Estado decente. 

Hoje já alcançámos o México. Amanhã seguir-se-á a Espanha. E mais a Croácia e o Perú. Nos seguintes, logo se verá; porém, sempre a subir.

Amanhã, segundo as minhas previsões, bateremos um novo recorde diário. A culpa não é do Governo. É dos mortos. E dos vivos. Mas nunca do Governo. Culpar Governos, só nos confins da Amazónia. E, contudo, Portugal está pior do que Manaus. Não parece, mas está.





DA AREIA PARA OS OLHOS, DOS FRETES DA IMPRENSA E DO DESCALABRO NOS LARES

A culpa foi do Natal, diz a Imprensa. A culpa é da variante inglesa, diz a Imprensa. E diz agora ainda, a Imprensa, que a variante inglesa está a atacar mais as crianças (vd. em baixo, notícia do inenarrável Público). 

Vá! Praticamente não há crianças a morrer de covid (até agora morreram três pessoas com menos de 20 anos, o que é 0,00015% de taxa de mortalidade), mas isso não interesssa nada. Também não interessa que num Janeiro de descalabro total, com dias sucessivos de mais de 700 mortes por todas as causas, o grupo etário dos menores de 25 anos até esteja com uma taxa de mortalidade abaixo da média. Isso não interessa. Ponha-se aí mais pânico. Em tudo. Ponham mais medo. Em todos. Ponham as pessoas a nem sequer questionar porque existem tantas mortes em Portugal por covid, quase todos idosos; a nem sequer reparar que estamos agora com níveis de mortalidade cinco vezes superiores ao Brasil; e que mesmo em Manaus (Amazonas), onde a situação é tenebrosa, afinal a mortalidade é semelhante à do nosso país. 

Existem dois motivos para o descalabro português. Primeiro, o colapso do SNS. Tenho aqui apresentado evidências da perda de eficácia no tratamento da covid. Em Dezembro morriam 25 pessoas por cada mil internados; agora morrem quase 45 por cada mil internados. Todos os dias são mais de 120 mortes a mais por causa desse colapso.

O segundo motivo é insusportavelmente silenciado: os lares, cujos utentes integram (diria quase na totalidade) o grupo dos maiores de 80 anos. Estive entretanto a calcular a taxa de incidência em Janeiro de 2021 (até dia 29) dos novos casos positivos por grupo etário. Pasmo! 

Minhas senhoras e meus senhores, o grupo etário mais atingido durante o mês de Janeiro é o dos maiores de 80 anos (35,7 casos por mil pessoas deste grupo etário), ligeiramente superior ao grupo dos 20-29 anos (35,6 por mil). 

Notem que a taxa de incidência, a partir dos 20-29 anos, se reduz nos grupos etários subsequentes até estancar nos 19,7 casos por mil no grupo dos 70-79 anos, o que se relaciona com questões de mobilidade e grau de contacto social. Assim, seria suposto que o grupo seguinte (maiores de 80 anos) tivesse uma incidência ainda menor; porém, em vez disso, apresenta a maior incidência de todos os grupos etários. Isso indicia, sem dúvida, que o problema advém dos lares, que, neste momento, serão autênticos "antros de covid", em descontrolo absoluto. E ninguém quer saber. 

O Governo não divulga o que se passa nos lares, a Imprensa não pergunta. Não se sabe quantos idosos dos lares estão infectados, quantos destes morrem em cada dia. Nada se sabe. Os velhos mortos dos lares, esses, vão-se somando, anonima e silenciosamente, e servindo somente para alimentar o pânico, de modo a se aceitarem todas as restrições e imposições de um Governo responsável por uma das gestões mais vergonhosas da pandemia a nível mundial. 

Portugal, por causa do caos do SNS e da falta de protecção eficaz dos lares, arrisca a tornar-se em breve um dos piores países afectados pela covid. Está, neste momento em 16º lugar (excluindo pequenas nações com menos de 1 milhão de habitantes), mas em menos de uma semana entrará no lamentável top-10. E se tudo continuar como está só pode piorar. Perdeu-se o controlo de uma doença controlável. 

O Ministério Público, se não estiver manietado, deveria abrir um processo de averiguações à gestão da pandemia nos lares. Já. E ja se faz tarde.



sábado, 30 de janeiro de 2021

VÍDEO 5 - DA EVOLUÇÃO DAS TAXAS DE MORTALIDADE EM PORTUGAL O IMPACTE DA PANDEMIA EM 2020 /

 


DA LÓGICA DA BATATA

A médica Isabel do Carmo, 80 anos, com um passado político conhecido, foi entrevistada na SIC, depois de um artigo de opinião no Público, que relatava a sua experiência de internamento de 10 dias no hospital depois de ter sido infectada pelo SARS-COV-2 num encontro familiar de Natal. No mesmo encontro, fica-se a saber, foi infectado também o seu ex-marido, Carlos Antunes, seu "companheiro de armas", 82 anos, que acabaria por falecer. Tinha, pelo que ela disse, um cancro no fígado.

Aquilo que sucedeu à sua família foi uma fatalidade, embora o seu tom não transparecesse - até por na parte final da entrevista ela se ter quase regozijado se ter lembrado de meter livros na mochila para o internamento. Mas, na verdade, a única coisa ilógica que assisti na entrevista foi o jornalista Miguel Ribeiro rematar:

"Isabel, muito obrigado por ter partilhado connosco a sua experiência, e que nos sirva de lição, também a muitos que têm andado distraídos porque as ruas ainda estão com gente e mais".

Sinceramente, não entendo esta lógica da batata. Este incitamento às pessoas para não andarem na rua é completamente absurda. Mais ainda sabendo o caso concreto que acabara de ser relatado.

Link para a entrevista na SIC, aqui.

DA NOVA PREVISÃO (29/1/2021)

Aqui segue a habitual previsão diária. Tendo em consideração que ontem o valor indicado pela DGS foi menor do que a minha previsão, significa um sinal menos negativo. O aumento dos internamento, conjugando com essa situação, leva a um aumento da variação possível no número de óbitos entre 281 e 315 óbitos. Se ficar abaixo dos 281 será um reforço para uma tendência de decréscimo (e melhoria da eficácia do tratamento do SNS, que bem é necessário.

O segundo gráfico mostra, porém, que estamos ainda muito longe de ficar abaixo dos 200 óbitos.


DAS AMBULÂNCIAS DO SANTA MARIA

Não vi televisão hoje. Alguém me sabe dizer quantas ambulâncias estão estacionadas no Hospital Santa Maria? Devem ser resmas, pelo que vejo das pessoas que estão à espera de ser atendidas nas Urgências (vd. imagem retirada às 00:06)

Link dos Tempos de Espera do SNS, em tempo real, pode ser visto aqui.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

DO CALVÁRIO DO BRASIL OU DA FALTA DE NOÇÃO DO PÚBLICO

O director e jornalistas do Público são tão delicodoces na análise da gestão da pandemia por parte do Governo de António Costa, mas não perdem uma oportunidade de zurzir no Brasil.

Fazem bem em relação ao Brasil, mas não têm noção. É certo que o Brasil, e sobretudo a acção do seu presidente, não é bom exemplo para ninguém, quer na gestão da pandemia quer em tudo o resto.

Mas, caramba! !"Calvário dos brasileiros"? "Sem rumo"?

Caramba! Eu até admitia que se o Público fosse um jornal da Finlândia escrevesse assim sobre o Brasil.

Mas bolas! O Público é um jornal de Portugal!

E Portugal tem 1.168 mortos com covid por milhão; e o Brasil tem 1.043 por milhão.

E Portugal teve um pico diário de mortes (em média móvel de 7 dias) nos 281 óbitos (registado hoje) , enquanto o Brasil tem um pico diário (também registado esta semana) correspondente a 51 óbitos (1064 óbitos para uma população 20,8 vezes maior).

O Público anda a brincar connosco. Não há uma crítica ao Governo de António Costa, mas o Brasil está "sem rumo" e a viver "um calvário", enquanto Portugal está, neste momento, com uma situação mais de 5 vezes pior. 

Definitivamente, o Público, o seu director e os seus jornalistas, já nem têm noção sequer que vivem em Portugal. Ou então pensam que o jornal se chama Acção Socialista.  

DO CONFINAR PARA SE MORRER LONGE DO SNS

 Vamos ser claros: o medo mata! O implícito ou explícito incitamento para não se ir ás urgências, com imagens de falsos entupimentos de ambulâncias por problemas de logística, também mata. As campanhas da DGS para não se ir a correr para as urgências, sabem o que fazem? Matam!

Acham que fugir do risco de forma irracional, salva? Não salva! Mata! 

Ponho estas exclamações para ver se as pessoas acordam. A estratégia que se anda seguir, sustentada no obscurantismo da informação (ninguém sabe o que se passa nos lares, que andam a alimentar as morgues) e na manipulação das massas (com matemáticos de serviço a debitar projecções sem jamais se conhecerem os pressupostos nem serem divulgadas), só anda a piorar as coisas. Só anda a matar mais..

Querem saber quanto anda a matar o medo, os confinamentos à maluca e a fuga às urgências? Basta ter um breve olhar para os mortos que ocorrem no próprio domicílio. 

Num ano médio, e com gripe (atenção!, e este ano não temos gripe), morrem por dia entre 100 e 115 pessoas no próprio domicílio. Este ano já chegámos aos 174 num dia. E desde o dia 10, altura em que o pânico se reinstalou) quase sempre se ultrapassam os 140-150 óbitos no domicílio. 

Apenas entre os dias 11 e 28 de Janeiro, a excesso de mortes ocorridas no domicílio foi de 46% em relação à média. 

Caríssimos, são 46% a mais. Foram mais 868 mortes apenas neste período, Parece-vos agora pouco comparado com os quase 300 de covid, não é? Mas esses da covid estão a morrer nesse número em grande parte pela perda de eficácia do SNS, que em Dezembro "deixava" que morressem por dia 25 pessoas em cada 1.000 internados, e agora "deixa" que se chegue aos 45 por cada 1.000 internados.

Mas vejam também a questão por outro prisma: deduzindo que o excesso de mortes no domicílio não foi por covid (supostamente, estas ocorrerão em meio hospitalar), pergunto-me quantas destas vidas poderiam ter sido salvas nas urgências, num ambiente sem medo e com um SNS em boas condições.

Continuo a insistir: temos duas pandemias: a covid e o estado do SNS, sendo que o estado do SNS exacerba a mortalidade do SARS-CoV-2 e a mortalidade por outras causas. E até agora não há ninguém responsável. Quer dizer: são todos os portugueses em geral, e nenhum em particular... além claro, agora, da variante britânica.